A Ordem Negra

1990, Agosto

Nadia estava quase imóvel pela dor, mas Rafael não se importou com seus gritos quando a levantou e a jogou debaixo do chuveiro, com a água fria ligada. Ela não sabia se gritava pela dor ou pela água, ela continuava pedindo para morrer, para ele lhe dar o ultimo tiro, mas ele parecia ocupado no quarto dela, mexendo em seus armários. 

Depois de algum tempo ele voltou ao banheiro, ela continuava deitada no chão do box, como ela a deixou, sendo castigada pela água fria.

_ Por favor, termine o serviço.

_ Você já olhou seu peito ?

Nadia não tinha olhado, tinha medo, com cautela passou a mão no seio esquerdo, ele doía só de encostar, mas a dor era mais suportável, ele não sangrava. Procurou um buraco de bala, mas não achou.

_ Era uma bala de borracha.

_ Por que ?

_ Você devia ter me perguntado o que Mãe respondeu, quando foi procurada pelo o seu alvo de hoje antes de tentar me matar.

Nadia sentou-se no box, ergueu a mão para desligar a água fria, mas Rafael disse :

_ Não desligue, ela não vai deixar seu seio inchar.

Nadia abaixou a mão, ele estava certo.

_ Foi burrice minha, o que ela disse ?

_ Ela disse para ele que não deveria se intrometer nesse caso, isso era uma vingança sua contra pessoas que quebraram leis da ordem, e, se ele insistisse no assunto, seria julgado por ter profanado uma prisão tão sigilosa.

_ Mas... Porque está aqui ?

_ Ele me contactou, queria a minha ajuda.

_ E ?

_ Eu disse que estou aposentado, mas indiquei pessoas que treinei para fazer a segurança dele, acredite, eles sabem que você está de tocaia, acreditam que irá atacar hoje.

_ Como ?

_ É simples, sabe esse habito de uma prostituta as quintas, sempre sozinho ?

_ Estava contando com isso, parte do meu plano.

_ Foi Elmo meu ex aluno, que deu essa ideia. Ele estudou as mortes que você fez, sabe que você procura os momentos de fraqueza e criou um. Estão te fazendo uma armadilha, tem dez pessoas no escritório ao lado do dele, vão pegá-la, imobilizá-la e, acredite, ele não vai matá-la.

Nadia tremeu por dentro, estava preparada para morrer, não para ser pega.

_ Porque você está aqui?

_ Venha comigo.

Nadia levantou ainda com dificuldade, na cama, Rafael tinha lhe escolhido roupas, ela vestiu, e o seguiu para fora de casa, andaram alguns metros até o carro dele, bem escondido mas a vista de todos ao mesmo tempo. Nadia conhecia o caminho, estavam indo para o escritório de sua vitima, de seu "alvo" como Rafael dizia, quando passaram pelo prédio, ele disse :

_ Está vendo aquele cara lá atrás, sentado no balcão do bar ?

_ De camisa azul?

_ Ele está ali para dar o sinal assim que ver você, repare os sapatos, limpos e novos enquanto a roupa é velha. Eu sempre falo com eles para não se descuidar de nada, não se fantasiar, apenas ser você mesmo sem chamar a atenção, eles nunca me escutam.