1989, Abril

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Ana e Idda

                Ana está cansada, exausta. Acabou de sair de um turno de doze horas em que trabalhou em pé servindo bêbados que queriam apalpar as mulheres dançando e acabavam bolinando as garçonetes. As vezes chegava com a perna roxa de tantos beliscões que ganhava. O dinheiro mal dava pra pagar o novo detetive.

_ Porque eu continuo nesse trabalho?

Perguntou pra si mesmo enquanto bebia o café, depois lembrou que ali teve alguma noticia de seu ex, encontrou um conhecido que jurava ter visto ele a uns dois anos atrás carregando um bebê. Uma pista fraca mas uma pista. Sempre melhor do que nada.

Já tinha ido a policia, fazia isso uma vez na semana para ver se acharam algo novo. A resposta era sempre a mesma. A nova detetive pelo menos era simpática, o ultimo sempre a tratou mal. Amanhã passava no Detetive. Hoje ela ia pra casa, não aguentava mais.

Tinha aproveitado que foi a delegacia para espalhar cartazes nos comércios locais. Era pouco, mas era o que podia fazer. Quase cinco anos e ela ainda tinha esperança. Antes de se levantar e ir para casa disse a si mesma:

_ Acho que antes de dormir vou pra antiga casa do meu ex. Acho que alugaram ela de novo. Vou conversar com os novos donos, se minha filha aparecer eles tem que saber meu telefone.

Explicava para um ouvinte invisível. Seu marido já tinha lhe abandonado, suas filhas gémeas, do novo casamento, Celeste e Alexandra, também não queriam ficar com ela. 

Por sorte a nova esposa do seu marido lhe ajudava. Ela era um anjo de pessoa. Lhe dava dinheiro, fazia compras pra sua casa, levava Ana para ver as filhas. Tudo porque entendia sua luta. Ela tinha um irmão que havia sumido no mundo.

_ Tão nova meu Deus, a primeira vez que vi essa menina torci o nariz. Achei que ela era uma ninfetinha safada que ia roubar minhas filhas.

Alana tinha quase quinze anos a menos que Ana. Deveria ser um pouco mais velha que Nádia. Bem nascida, inteligente, e ainda era uma pessoa tão boa. Seu ex não merecia Alana. Mas suas filhas sim, agradecia a Deus por ter posto ela para cuidar das gêmeas. 

E no final Alana acreditava em reencarnação, então era um casamento perfeito, ia expiar todos os seus pecados convivendo com sua ex sogra. Riu sozinha, e alto.

_ Pelo menos ainda consigo rir.

Uma morena bonita se sentou ao seu lado.

_ Ana ? Posso me sentar com a senhora?

A jovem parecia uma indiana, estava com roupas simples, deveria ter uns vinte e poucos anos. Ana olhou para ela e disse:

_ Desculpe minha filha, estou com sono, fedendo a bêbados, eu estava de saída.

_ Por favor, é rápido!

Ana apontou a cadeira a sua frente.

_ Eu trabalhava na lanchonete do Jaap. Lembra de mim?

Ana balançou negativamente a cabeça. O local tinha fechado a um ano, talvez mais, um local horrível, a pior comida da região, geralmente só imigrantes ilegais aceitavam trabalhar nele, mesmo assim a rotatividade era grande.

_ Imaginei que não. Eu sempre via a senhora colocar cartazes sobre sua filha Nádia, sempre prestei atenção. Conseguiu encontrar?

A Ordem NegraOnde histórias criam vida. Descubra agora