A Ordem Negra

2010, Fevereiro - Terça

Quando saíram da tenda, Bia podia ver que se aproximavam de um galpão pequeno próximo a casa, vindo dele outros homens carregavam andaimes vazios em direção a tenda novamente, Bia foi levada para dentro do galpão desceram um pouco o cabo de aço, apenas para pendurá-la pelas mãos novamente em uma viga, e levarem o andaime embora.

Bia agora estava içada pelas mãos e com os tornozelos atados um ao outro, completamente nua no que parecia ser uma garagem de caminhões, logo, entraram um homem vestido de maitre, acompanhado de uma mulher com um caderno, o homem escreveu com uma caneta, tipo um pilot, algo em sua barriga, depois esperaram, a sua frente, várias cadeiras.

Aos poucos, pessoas bem vestidas como tinha visto na porta da casa entravam e se sentavam nas cadeira, umas trinta mais ou menos.

Reconheceu alguns de revistas, havia um cantor de pagode bem famoso, alguns artistas, um ou dois médicos daqueles que sempre vão em programas de TV e um Jornalista, mas a maioria não conhecia, alguns trouxeram família, o que mais lhe chamou atenção foi um casal que pareciam noruegueses a Bia, eles estavam com os dois filhos, um menino, mais velho, e a menina que deveria ter uns 11 anos.

Quando  se acomodaram o maître chamou a atenção de todos e disse :

_ Próximo lote, numero 435, fêmea adolescente, na casa dos dezoito anos, tipica brasileira com nádegas suculentas e seios médios.

Bia teve vontade de dar um pontapé no sujeito, mas não conseguia mexer um músculo, estava toda dolorida pela posição.

A mulher que havia entrado com o maître girou Bia, lentamente, para que todos pudessem ver o seu corpo.

Do fundo da sala uma mulher, aparentando seus cinquenta anos disse :

_ O figado para mim por favor.

_ Algum preparo especifico senhora ?

_ Adoraria a Veneziana.

Minha nossa ! Pensou Bia, "Eles vão me comer MESMO !", por alguns segundos ficou pasma, tentou se debater mas não tinha como escapar.

_ Gostaria do Contra-Filé.

_ Anotado senhor, qual o preparo ?

_ A critério do chefe, por favor, é minha primeira vez aqui.

_ Que o seu jantar seja maravilhoso senhor.

O Norueguês disse :

_ Por favor, o file mignon.

_ Como gostaria ?

_ Para mim e minha esposa, ao poivre. Para meus filhos gostaria a Parmegianna.

_ Claro senhor.

Nessa hora, a filha cochichou ao ouvido do pai, que disse :

_ O Peleiro está aqui hoje, trabalhando com vocês ?

_ Logico, mil perdões pelo esquecimento ! Os senhores podem ter uma lembrança eterna desses deliciosos momentos, os trabalhos do peleiro são fabulosos !

_ Minha filha gostaria de um par de botas. Eu e meu filho gostaríamos de um cinto cada um.

_ Vai ser feito.

A menina cochichou ao ouvido de seu pai novamente.

_ Por favor, poderia explicar como é retirada a pele, minha filha gostaria de saber.

_ Claro meu senhor, a pele para ser boa é retirada do mesmo modo que nos filhotes de foca, bateremos na 435 com bastões de madeira até a pele "descolar", nesse momento, o peleiro retira cuidadosamente a pele dela, e, por um processo secreto, a conservará e depois fabricará as peças, que lhes serão enviadas.

_ Mas eu posso assistir ? Quero ver os olhos dela quando retirarem a pele.

A menina disse isso olhando diretamente para a "435", para Beatriz, o pai riu e a mãe abaixou o rosto.

_ Pequena senhorita, infelizmente, não sei se isso será possível, o chefe faz questão de que todos morram com o minimo de dor possível, somos gourmets! Mas infelizmente teremos de manter a 435 viva durante o processo de extração da pele e não usamos drogas para diminuir a dor pois isso alteraria o sabor da carne. Vou conversar com o chefe e com o Peleiro e voltarei a lhe falar.

Ouve um silencio por um longo tempo, e Beatriz nunca odiou uma criança como tinha odiado aquela menina, ficou pensando na dor que sentiria, quanto tempo apanhando até a pele descolar ? Quanta dor alguém sente por ter a pele arrancada do corpo ainda viva ?

_ Posso ver a língua ?

Foi o cantor de pagode quem disse isso, talvez, Bia pensou, seja a minha chance, iria gritar quem era, talvez a soltassem, sei lá, de qualquer jeito seu fim seria horrível mesmo, não conseguia imaginar uma morte pior do que a que a estaria esperando.

_ Claro senhor, só um momento, o maître abriu a mordaça de Bia, mas, nesse momento a auxiliar lhe enviou uma agulha longa de uma vez na nádega, Bia gritou e o maître lhe puxou a língua, logo, bia era amordaçada sem conseguir falar nada, sua oportunidade foi perdida. Nada mais poderia fazer.

_ Ótima língua, o Chefe poderia fazer um ensopado ?

_ Será um prazer.

_ Ensopado de língua ?

Perguntou o Norueguês ao cantor.

_ Um prato tipico brasileiro, é só dar um talho na pele da língua, ela abre e se faz um ensopado delicioso.

_ Posso experimentar um pouco do seu prato ?

_ Será um prazer, chefia.

O Cantor puxou sua esposa, uma dançarina de um de seus sucessos, e sentou-se com o Norueguês, pelo visto, estavam tornando-se bons amigos.

Durante os próximos minutos, todo o corpo de Beatriz foi reservado, dos miolos ao coração, das coxas as costelas (que aliais foram pedidas "ao bafo"), Bia foi vendida como um Boi, uma galinha, uma vaca talvez. Não tinha mais esperanças, nem prestava atenção, só sentia em sua mente uma faca afiada cortar sua pele, toda ela, ainda viva...