Novamente irmãs

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Era domingo à tarde, o tempo estava frio principalmente na entrada do shopping.

Iara e Luísa haviam marcado de encontrar Leila lá as 16h00 e Iara sairia para deixar os problemas da família de Luísa para lá.

Iara estava com uma calça legging — que parecia ser jeans por conta dos desenhos na calça — é uma bota Ugg marrom, estava com um moletom escrito algo sobre o Canadá que era vinho, e seu cabelo estava divido no meio com duas maria-chiquinhas.

Já Luísa estava com uma calça jeans preta rasgada entre as coxas, uma blusa de couro que era azul escura, e botas pretas com salto de cano baixo. Seu cabelo estava solto e meio bagunçado.

As duas esperavam no frio que estava a entrada do shopping, quando Luísa viu de longe sua irmã. Ela estava diferente, muito diferente de como Luísa se lembrava dela, ou de como ela era nas fotos.

Antigamente Leila tinha olhos azuis muito claros quase cinzas e sua pele era branca igual porcelana, e ela era quase gordinha  de tanto corpo que ela tinha, e seus seios eram enormes.

Mas essa não parecia Leila, seus cabelos continuavam ruivos porém mais claros e estavam meio cacheados, e havia três dreads naturais com enfeites e tudo mais, ela estava mais magra do que o normal quase parecia uma anoréxica, e ela devia ter crescido uns cinco centímetros ou até mais, ela podia ver que era a irmã por conta de um hábito que só ela tinha: ficar coçando a pele do dedão até fazer ferida, só que desta vez já estava em carne viva. Leila já não tinha mais a pele clara igual porcelana, mas tinha a pele meio bronzeada como se tivesse ficado muito tempo no sol e sua pele estava meio alaranjada. Sua roupas eram largadas e em suas costas estava uma grande mochila.

–Meu Deus!- disse ela meio alto enquanto corria até a irmã.

Leila abraçou Luísa com força, mas a garota apenas a abraçou.

Quando o abraço acabou os olhos de Leila já estavam cheios de lágrima, mas ela se segurava até a última para não chorar, quando finalmente viu Iara ao lado de Luísa.

–Iara?- ela deu uma risada sem graça- como... você está mulher... nossa... tá gostosa!- ela riu um pouco e abraçou a menina.

As três ficaram se encarando sem jeito até que Iara quebrou o silêncio.

–Bem eu vou indo, peguei uma sessão no cinema para as 15h30... Beijos meus amores!

Ela se virou e saiu rebolando até o cinema.


Depois de Leila ter falado o quanto tudo estava diferente, inclusive a irmã que usava roupa da hello kit e agora usa camisetas de bandas de rock, as duas se sentaram em um banco que havia ali e então Luísa finalmente disse:

–Da pra você falar logo o que aconteceu?- ela parecida meio seria.

–O que?- disse Leila com um sorriso no rosto.

–É isso mesmo... Por que você fugiu, por onde esteve, o que ficou fazendo todo esse tempo sem mandar notícia. COMO NÃO ESTÁ MORTA?- ela se exaltou então suspirou.

Leila abaixou a cabeça e suspirou também.

–Vamos esquecer isso tá... Finalmente eu voltei... Não é isso que importa?- ela deu um sorrisinho de dó e tentou pegou a mão da irmã.

Luísa não queria, mas ela tinha que confiar na irmã, então segurou a mão da irmã com força e disse em um longo suspiro.

–É melhor falar para mim, porque quando os nossos pais forem fazer um interrogatório com você, eu posso te ajudar- Luísa sorriu.

–Ok- Leila respirou fundo e sorriu para a irmã- mas para isso preciso fumar.

As duas seguiram até o terraço do shopping e acendeu um cigarro.

–Tá vamos começar... Pode perguntar o que quiser, juro que vou responder.

–Por que fugiu?

–Tinha um rapaz, ele era da faculdade na época, ele vivia me perseguindo porque achava que eu era maior de idade, então um dia ele tentou transar comigo no banheiro de um bar. E eu fui embora de lá eram três da manhã sem ter a mínima ideia pra onde ir, então um homem que eu encontrei me ajudou e disse que ia me levar em casa, só que aí quando eu cochilei ela já estava fazendo outro caminho. Ele me levou para uma casa no meio do nada sabe, a casa era no meio de um floresta e ele me deixava presa no porão da casa, ele só aparecia para me dar comida e transar... Fiquei basicamente um mês sem tomar banho, e quando eu fazia xixi e coco tinha que ser em um balde...- Leila deu uma longa tragada.

–Nossa eu não...-Luísa abaixou a cabeça.

–Eu consegui fugir, mas fiquei totalmente perdida naquele meio de mato- Leila deu outra tragada mais forte.

–Ma-mas como você fugiu?

–Ele um dia bebeu tanto, que quando foi me estuprar de novo com a garrafa de vodca na mão- ela gargalhou- eu quebrei a garrafa na cabeça dele e depois bati com a madeira na cabeça dele, sai correndo e peguei uma sacola e a enchi de coisas para comer e encontrei dinheiro em uma gaveta, procurei as chaves do carro, mas não encontrei em lugar nenhum e então...

–Você não se sente mal de falar isso, não sente vontade de chorar ou algo do tipo?- Luísa indagou.

–Já expliquei tanto essa história... Que não me sinto tão triste, eu sinto vontade de chorar, mas depende das pessoas que eu conto...

As duas ficaram em silêncio e então Leila voltou a contar.

–Eu fiquei andando uns dois três dias andando por uma trilha até encontrar um pessoal hippie, e eles me disseram que eu estava em um lugar totalmente longe daqui. No começo eu estava gostando, mas então percebi que tinha que ir para casa. Mas eu não tinha dinheiro, e vivia fumando maconha... Então o pessoal me deu dinheiro para vir embora...

–E você ficou quanto tempo com eles mais ou menos?

–Uns quatro meses... A gente vendia pulseiras e colares, mas não dava para quatro pessoas sobreviverem...- Leila abaixou a cabeça.

Então ouviu um bipe, Leila pegou de sua bolsa um IPhone 5, e começou a mexer nas notificações. Como assim ela era uma hippie e tem um iPhone?

–Mas esse celular... Co-como conseguiu esse celular?- Luísa estava desconfiada.

–Irmãzinha, irmãzinha... Em momentos difíceis de nossas vidas, fazemos coisas difíceis.

–E que coisas? Roubar?

–Não...–Leila abaixou a cabeça– se prostituir...

Luísa apenas arregalou os olhos.

A história continuou, Leila explicou como havia conseguido chegar em casa, roubando um tarado, mas Luísa se sentia mal, como ter tanta raiva da irmã sendo que a única coisa que ela queria era ir para casa.


Luísa tinha que tomar uma decisão, já eram quase nove da noite e Iara havia ido comprar um milkshake para cada uma.

–Bem... Você pode ir lá para casa, os nossos pais não vão te ver mesmo. E então... Amanhã de manhã você fala com eles...

–Nossa! Muito obrigada irmãzinha!

As duas se abraçaram.

Viva a adolescência!  VOL. 01Onde histórias criam vida. Descubra agora