TORTURA

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Tortura

Nathaniel

Já fazia tanto tempo, quer dizer, me parecia tanto tempo.

Não sabia ao certo quantos dias ou meses haviam se passado. A verdade é que qualquer tempo nessa vida sem ela ao meu lado, era um tempo vazio, um buraco no espaço.

Eu não existia nessas horas.

E muitas se foram desde que ela se foi.

Eu me satisfazia por breves instantes, imaginando uma vida diferente. Fantasiava uma existência onde eu seria apenas um homem, e ela apenas uma mulher. Só. Nos casávamos, e criávamos nossos filhos, uma vida simples e feliz.

Há tanta vida nesse mundo, tantas pessoas, tanta coisa. Não poderia ela ainda existir também? Não poderia eu, partir daqui em seu lugar?

Como meio anjo, reconheço que não deveria me entregar a esse martírio, mas isso não importava.

Liza era a minha luz, e por consequência, minha escuridão.

Não guardava arrependimentos, um único momento ao seu lado justificaria toda a minha existência, faria tudo de novo.

Sei lá no fundo que nos reencontraremos. Sua alma não se separaria da minha.

- Eu vou encontrar você, Liza!

Gritei para os céus em um misto de tristeza e fúria.

Chovia há dias na praia maldita.

Eu gosto quando chove. O céu se torna um reflexo do meu rosto.

Agora eu já ansiava pelas alucinações. Era uma forma de vê-la, ainda que cruel e ilusória.

Me perguntei o que teria acontecido à Virtude aquela noite no cemitério. Afinal, falhamos.

Teria sido Olaf, forte o bastante para eliminá-la?

Antes que pudesse divagar sobre o assunto, tive minha atenção desviada pela chuva de relâmpagos que ofuscou o horizonte. O mar se agitou furioso.

Dezenas de ondas subiam metros acima da superfície e quebravam na orla.

Estreitei os olhos e descobri o que acontecia. Na verdade, enxerguei a monstruosidade que as ondas traziam.

Nunca vi algo assim antes.

Tamanha crueldade.

À beira do mar, jaziam pilhas de corpos das vítimas de Olaf. Ocupavam toda a costa da praia. Homens e mulheres de diversas idades, nem crianças foram perdoadas.

Senti a dor daquelas pessoas, a dor de suas famílias. Fui rasgado por dentro.

Suas vozes gritaram em minha cabeça, pediram ajuda como se estivessem vivas, apesar de seus corpos ali.

Foi então que entendi. Ele coletava suas almas, os habitava e sugava suas vidas, era daí que vinha sua força.

Quando pensei que não poderia piorar, eu a vi. Liza. Ao fundo, agitando os braços.

Corri até a margem e mergulhei me jogando entre os corpos, nadei até ela, mas Liza se distanciava de mim.

Aumentei as braçadas para alcançá-la. A onda mais uma vez a cobriu, mas dessa vez, ela não levantou. Desapareceu, perdida para sempre no oceano.

- Liza!!!

Gritei diversas vezes para o vazio, e nada.

Permaneci ali, no mar de corpos, boiando entre eles, quando alguma coisa me puxou para o fundo.

Engasguei e forcei os braços para cima.

Tossi a água que engoli ao conseguir emergir a cabeça na superfície.

Outro puxão me afundou, me debati com todas as forças, mas apenas afundei mais. Sentia que a qualquer momento me tornaria mais um daqueles corpos. Mais uma alma eternamente condenada e esquecida.

Perdi o ar e as forças ao engolir uma quantidade incontável de água.

Mantive os olhos abertos debaixo d'água e vi os milhares de corpos submersos. Aceitei o fato de que estava prestes a me tornar um deles.

Desci as pálpebras e esperei o fim.

Agora nos encontraremos Liza.

Meu batimento desacelerou. O corpo adormeceu e a mente acompanhou. Uma voz gritou com urgência em algum lugar no fundo da consciência. Não compreendi o que dizia.

Antes de morrer, pensei ter ouvido:

- Venha!

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Ainnnn, que dó do Nate! Como está o coração de vocês? :,(

Quarta-feira tem mais! E decidi postar capítulo duplo porque quinta, dia 4, é meu aniversário! Iei! \o/

Beijosss e obrigada a todos que estão adicionando o livro no Skoob! =)


O Templo - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora