CONVIDADA
Raquel
Por que diabos ela iria querer ir para aquela festa? Podia pensar em pelo menos outras vinte festas muito mais interessantes acontecendo no exato momento em Nova Iorque. E ainda por cima, achou muito rude da parte dos noivos, que sequer a convidaram.
Que perda de tempo. Lá estava ela, no seu antigo quarto apertado, da casa medíocre em Winterhill. Desperdiçando um bom vestido e uma noite de sábado para realizar a vontade de seu futuro marido.
No início, acreditou ter tirado a sorte dos dois lados. Um homem bonito, educado e rico. Muito rico. Chegou até a pensar em paixão. Quase amor, quase. E durou por um bom tempo a sensação, até satisfatória.
Mas Raquel estava, se possível, abatida e cansada. Ethan a evitava cada vez mais. Andava consumido no próprio trabalho. Nunca se beijavam, nunca sa- íam para jantar. Só não diria que nunca se viam porque ela se comportava como era exigido de uma primeira dama. Comparecia aos eventos com a aparência de um milhão de dólares e sorria ao seu lado. Somente em eventos Ethan lhe dirigia alguma atenção, mas esses também foram diminuindo de frequência. Raquel passou a andar a maior parte do tempo sozinha e se deu conta do armário cheio de mais coisas do que poderia querer. Não havia um salão de beleza com algum tratamento ainda não testado por ela.
Nesses seis meses em Nova Iorque, tendo o limite de crédito tanto al- mejado, finalmente percebeu que o dinheiro, somente, não lhe traria felicidade. Carregava um vazio a ser preenchido. A necessidade de um toque. Um ca-
rinho. Um olhar. Mas se tratava de algo muito particular. Alguém muito específico, para dizer a verdade. Um homem com quem encontrou poucas vezes. E as raras vezes foram mais do que o suficientes. Mais do que qualquer instante com Ethan.
Por um milésimo de segundo se animou com a ideia da festa. Será que finalmente o encontraria? Murchou tão rápido quanto. Para vê-lo teria de se aproximar da pessoa que mais evitava. E, de um jeito ou de outro, agora teria Ethan ao seu lado, mas para Raquel, nada era definitivo assim. Sempre acreditou em reviravoltas a seu favor.
233
O Templo
Finalizou a maquiagem e treinou o seu melhor sorriso no espelho antes de ir até o carro a esperando. Estranhou o pedido de Ethan, ele lhe pareceu afo- bado ao telefone:
— Não entre pelo arco principal montado na praia, estou te esperando nos fundos.
Deu de ombros ao desligar. Só ia aquela festa para atender seu pedido. Não faria diferença o lado por onde entraria.
Eram todos presos a mesma teia. Inconscientes às consequências de cada ato. De cada escolha os levando gradativamente à mesma conclusão.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Templo - Livro 2
Fantasy"Se Liza lembrasse do ocorrido no cemitério, talvez encontrasse a explicação para as sombras. Ou talvez entendesse de onde vinham os sussurros em seus pensamentos. No entanto, tudo o que ela se recorda é de um nome: Ethan. Até um estranho se apres...