ESPECTROS

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ESPECTROS

Nathaniel

Ou eu estava alucinando pela raiva, ou Olaf havia desaparecido no horizonte.

O aspecto da praia era o mesmo de antes, ou pior. O céu negro, as areias cinzas, o mar sem vida e na atmosfera, a promessa do vazio, da agonia.

O cenário poderia mudar a qualquer momento, se aprontava para minha próxima tortura.

Mas o fato era, eu estava lá de verdade?

Eu não sentia o chão aos meus pés, nem o vento em minha pele. E onde estaria Johan?

Observei o lugar como se houvesse uma espécie de filtro, uma lente que me causava essa ilusão. A impressão era a de que meu corpo, permanecia no Templo.

Havia um silêncio mortal no lugar, as árvores secas, minhas antigas companheiras, sequer se moviam.

Olaf voltou e o mar se enfureceu. Uma onda gigantesca se formou e veio em minha direção. Tentei me mover mas as pernas travaram. O mais estranho foi a água me cobrir e eu não sentir absolutamente nada. Olaf, que se aproximou para ver qual efeito causou, me encarava confuso.

Me escutei tossir, apesar de não ter engolido uma gota d'água.

"Colabore Nathaniel". Ouvi a voz de Johan em minha mente.

Então era isso, Johan me controlava e eu apenas observava. Foi a sensação mais estranha que já tive.

Olaf pareceu mais satisfeito após meu corpo simular um leve engasgo, quando Johan se apoiou nos joelhos e fingiu puxar o ar.

- Como vai meu caro? Devo confessar que as vezes sinto sua falta. Os humanos são muito fracos para me entreter.

Meu corpo sentou na areia e encarava o chão, simulava o desespero. Johan era bom nisso.

- O que você quer? – ouvi surpreso, minha voz respondê-lo.

- Esse comportamento, não condiz com alguém tão iluminado quanto você, meu caro.

- Eu estou na escuridão Olaf, o crédito é todo seu. Você venceu, agora me deixe.

- Anjos... – suspirou fingindo tristeza – Vocês são mais fracos que os humanos. Veja, um herdeiro de um líder, derrotado por uma garotinha. Acho que você vai ficar animado então, pois trago notícias.

Sabe Nathaniel, o caminho não foi exatamente o que eu queria, mas o fim, acabou sendo muito melhor. Liza, agora é minha.

- Do que você está falando? Ela está viva? – me observei levantar enfurecido.

- Dia após dia, mais ela se entrega a mim. – me disse com aquele sorriso presunçoso.

Eu sabia que precisava controlar minhas emoções e deixar Johan dar conta da situação. Poderia colocar tudo a perder se fizesse algo errado, mas eu queria matá-lo. Me tornei por instantes, um homem e tudo o que desejava, era a morte de alguém. Eu era mesmo uma vergonha para a minha raça.

- Por mais que eu queira acreditar que ela vive, Olaf. Sei que é pura invenção sua.

- Deixe-me lhe mostrar então.

Olaf esticou seu braço em minha direção e eu senti a pior dor que já imaginei, uma dor que superava todas as alucinações que já havia me causado. Ele forçou uma lembrança em minha mente. Assisti Liza o beijando de maneira apaixonada, debaixo do chuveiro, nua.

O Templo - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora