DESTINO

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Destino

Liza

Entrei correndo no orfanato. A neve caia grosseiramente pelo caminho enquanto fugi de Adrian. Sentia-me perdida e envergonhada.

Sentei no banquinho de madeira da capela e suspirei.

Ele viu meu sonho com Ethan e agora sabia do meu segredo. Da minha maior vergonha.

E eu ainda estava dividida, não sabia no que pensar. Haviam coisas demais em minha cabeça. 

Acho que zonza seria a melhor palavra para me definir.

Pensei no cemitério, no que poderia ter acontecido àquela noite. Pensei no meu sentimento por Ethan e estava assustada com o algo totalmente novo, que se apoderou de mim, no momento em que o vi na lembrança. O dono dos olhos esmeralda.

Mas não eram só seus olhos, era o seu olhar que mudava o mundo a minha volta, um olhar tão tenro. Olhar que abriu um universo de esperança para mim e eu sequer sabia seu nome, ou porque ele me olhou daquela maneira, como se eu fosse o seu mundo inteiro.

O rosto de Ethan se manifestou com tanta força quando pensei no dono dos olhos esmeralda, que cheguei a procurá-lo pela capela. Foi como se ele tivesse se materializado ao meu lado.

Respirei fundo e caminhei lentamente até a entrada dos fundos para chegar aos dormitórios. Estranhei o silêncio daquele horário.

Nenhuma criança falando, nenhuma irmã pela capela?

- Sairam todos em uma excursão Liza – ouvi Irmã Daiana às minhas costas e dei um pulo com o susto – Desculpe querida, não quis assustá-la. Venha, vamos trabalhar nos quartos.

Fomos até o quarto dos meninos e começamos a arrumação guardando os brinquedos no lugar. Chegamos à troca dos lençóis e Irmã Daiana se cansou. Ela sentou em uma das camas enquanto continuei a trocar as roupas de cama.

O som ruidoso de engasgo me assustou. Olhei para trás e vi a Irmã tossir até cair da cama.

Ela se retorceu no chão. Ajoelhei nervosa ao seu lado e me aproximei de seu rosto.

Precisei conter um grito. Os olhos dela pareciam congelados. As íris mudaram de cor. Se tornaram púrpura. Ela tremia no chão, parecia prestes a ter uma convulsão. Fiz menção em levantar, mas ela me impediu ao me segurar pelo braço e deitar a cabeça sobre meus joelhos.

Congelei ao ouvir sua voz rouca, a fala saiu engasgada:

- Ele está vindo Liza. Você não deve confiar nele, aquele dos olhos que encantam. Porque você é predestinada. Há muitas histórias que desconhece. A hora está chegando, ela vai tentar levar você ainda esta noite, a peça essencial, todos querem, todos tentarão, mas somente um terá sucesso. Estamos todos em grande risco e você não terá para onde escapar.

Enrijeci o corpo e tremi com arrepios dolorosos. No fundo eu podia pressentir.

Desde que acordei no hospital, eu soube que algo terrível havia acontecido no cemitério.

Talvez certas verdades não possam ser ocultas. Talvez certas desgraças não possam ser evitadas.

Se tornava cada vez mais difícil respirar.

Se a Irmã não estivesse caída em meu colo, eu teria corrido para longe dali.

Precisava descobrir o que era a minha vida e o que eu estava deixando passar. Entendi que não encontraria a paz em nenhum lugar onde estivesse. Pelo contrário, levaria problemas para aqueles à minha volta.

Ela ofegou ao terminar de falar, como se algo a tentasse impedir de me pronunciar aquelas palavras. Ficou caída por alguns minutos, com a mão sobre o peito, até me olhar novamente. Notei que seus olhos estavam normais de novo. De volta ao branco leitoso.

- Liza, você está bem? – ela acariciou meu rosto.

- Eu que devo lhe perguntar isso Irmã. Como está se sentindo?

- Um pouco cansada, e tonta. Já vai passar. Me desculpe Liza, não sei de onde vieram essas palavras, isso nunca me aconteceu antes.

- Não precisa se desculpar. Começo a entender que devo me acostumar a esses eventos, mas depois conversaremos sobre isso, vou levá-la até a enfermaria.

Se eu era predestinada, só podia me perguntar, a que?

Desde que acordei para esse mundo tudo o que havia para se descobrir envolvia desgraça, e pelo que começava a perceber, estava apenas começando.

As crianças voltavam da excursão quando me dirigi a porta da saída da capela. Um menino correu até mim e me abraçou. Eu não lembrava de tê-lo visto pelo orfanato antes:

- Trouxe pra você tia Liza! – ele exibiu um enorme sorriso no rosto e estendeu os braços para mim. Parecia muito satisfeito por me entregar aquilo.

- Muito obrigada! Ela é linda!

Respondi sem saber muito o que dizer e parei para observar a flor. Lembrava uma orquídea. Nunca havia visto uma daquela cor, não sei se existia de fato. Suas pétalas eram negras.

Observei-a mais de perto, sua flor era pequena e delicada.

Ignorei a ardência em meu nariz, apesar do aroma me parecer familiar. Cheiro de sal, de terra e orquídea. Meus olhos queimaram quando aspirei a pétala, fiquei tão absorta com a orquídea, que não percebi que já estava na rua.

Eu vim andando e cheirando uma planta enquanto a neve caia fortemente? Como cheguei aqui?

Nenhum carro passava, notei também que não havia ninguém por perto, estava totalmente deserto, no meio da tarde.

O vento assobiava assustadoramente, soprava com tanta força que precisei proteger os olhos com um dos braços esticados a frente. Me vi perdida no meio de uma nevasca.

Olhei ao redor e as ruas não pareciam as mesmas, não havia nada além de neve. O vento começou a queimar minha pele e meus olhos lacrimejaram pela ardência.

Andei em passos leves, não sabia se ia na direção certa.

Minhas pernas pesavam toneladas, como se eu estivesse em uma subida íngreme. Parei para tomar fôlego e não entendi o que acontecia, tudo ao alcance de minha vista eram brumas e neve. Um deserto branco no horizonte, com somente um ponto azul que flutuava. Pensei por um momento que tivesse me confundido, tentei inutilmente afastar as brumas ao sacudir a mão à minha frente, mas elas se fecharam em volta de mim, sufocantes.

Claustrofóbica, me senti dentro de uma nuvem, sem oxigênio, com a visão coberta por um véu branco.

Parei por um momento, inspirei com força e meus pulmões queimaram com o frio, cai de joelhos na neve.

- O que está acontecendo? – perguntei sem ar, para o nada. Meu peito se comprimia com a inspiração que eu não conseguia completar.

O vento cessou de repente, me senti ligeiramente aliviada, mas quando tentei me levantar, não pude. As brumas me pareciam mais sólidas, e eu não via sequer minhas próprias pernas.

- Socorro!

Minha voz se perdeu no vento, e ouvi uma risada atrás de mim.

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=O =O

Cadê o Nate pra salvar a Liza??? :'(

O Templo - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora