APRISIONADOS

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Aprisionados

Nathaniel

Olaf libertou Liza e por consequência eu estava parcialmente livre. Temia a cada segundo o que poderia lhe acontecer e Johan me contava as histórias em frangalhos, não sei se possuía alguma intenção oculta, mas isso estava levando tempo demais.

Percebi em minhas reflexões, que todos nós estamos em algum tipo de prisão. Seja aquela que reside em nossa própria mente, seja a cela em que alguém nos joga. É possível estar em corpo no lugar mais belo, mais sereno e estar completamente enclausurado, pois só se é livre, quando o é em pensamento.

E a cada dia, enxergava mais correntes ao meu redor. Argolas de ferro que nos prendiam a todos, uma teia se iniciava no fundo do poço e enquanto eu lutava com todas as armas que conhecia, ficava cada vez mais emaranhado naquela armadilha.

Observei a luz ofuscante emanada pelo Óculus Mundi, o brilho azul que pulsava da esfera. Durante minha contemplação do rosto das estátuas em sua volta, tentei decifrar o que aquela luz significava.

As enormes estátuas, idênticas aos membros do Conselho, tinham o pescoço curvado para observar a esfera. Somente esta noite analisei atentamente, pois eram tão altas, que para fitar suas faces tive que me elevar alguns metros do chão. As quatro possuiam seus pulsos estendidos à frente e exibiam a mesma marca que Gaia tinha em sua pele. Três letras V levemente retorcidas, se unindo ao centro onde formavam um triscle.

Por que a mãe de todos os vícios e os membros do Conselho, supostamente imaculados, carregariam o mesmo símbolo?

Símbolo este, estranhamente talhado no mármore, onde a esfera girava preguiçosamente com a água da fonte que jorrava da parede ao fundo do Templo.

Movi a mão à frente para tocar do Óculus Mundi e a voz de Johan irrompeu furiosa pelas colunas do Templo.

- Não faça isso seu idiota! O anjinho terminou o tour pelo deserto e voltou para atazanar meu sossego.

- Não se esqueça, quem me trouxe aqui foi você!

- Se arrependimento matasse... Eu lhe traria aqui de novo! – ele riu feito um louco, e apoiou as mãos nos joelhos.

Flutuei de volta ato seu encontro, Johan se mostrava um excelente professor de tolerância, se havia algo que aprendi nesse tempo, foi como controlar minhas ruínas.

- Imagino que tenha algo a me dizer – falei sem paciência.

Ele levantou a mão pedindo que eu esperasse enquanto se recuperava da sua crise de gargalhadas.

Com a respiração entrecortada, Johan começou a falar como se continuasse uma conversa já iniciada:

- Ninguém jamais tocou na esfera Nathaniel, seu efeito é desconhecido. Fique longe do Óculus Mundi se deseja rever sua Liza. Se lembra da memória que assistiu através das Madras? Do dia em que seu pai e eu fomos expulsos do conselho?

- Sim, continue.

- Olaf, sob o nome de Anliel enganou os membros do Conselho, ele jamais olhou pelo Óculus Mundi. A lembrança que você assistiu, foi do dia que ele contou a mentira. Como você mesmo já sabe, Olaf deseja a alma dourada para ter um corpo que lhe pertença e sobreviva a todas as maldições de sua alma. Ele os traiu, os induziu a criar o tratado pois sabia que não conseguiriam cumpri-lo. Ele mesmo garantiria que você permanecesse vivo, por isso ajudou seu pai, na espera do momento certo de entregá-los para o julgamento. Deixando assim você desprotegido, ciente de que Morte se encarregaria de cobrar suas dívidas e então garantiu o caminho livre, para que você lhe revelasse a alma dourada.

Mais uma vez eu sentia as correntes se apertando, conforme as histórias me eram reveladas.

- Pelo menos isso foi o que ele pensou. Porque Ivanka aguardava a traição de Olaf e o deixou pensar que estava livre. Cumprindo a promessa de cobrar sua dívida e sendo dona de poderes imensuráveis, Ivanka iludiu os membros do Conselho um a um assumindo a forma física de Gabriel e todos receberam o Estigma Púrpura, prontos para servi-la. Se não fosse pelo Óculus Mundi, o Conselho seria escravo da Morte e só os Céus sabem o que teria sido feito dos humanos com tais poderes. A esfera os salvou antes que Morte fizesse o chamado, trazendo-os até o Templo e no lugar de se tornarem escravos, foram aprisionados nas estátuas que pode ver a nossa volta. Condenados a assistir eternamente pelo Óculus Mundi, toda a desgraça que acometeram a humanidade.

Johan me mostrou o pulso, marcado pelo estigma púrpura, o mesmo desenho que vi em Gaia e nas estátuas.

- Como você escapou?

- Eu estava escondido em um dos poucos lugares onde Morte não tem poder. No Jardim dos Anjos, criado por mim. Descobri há pouco tempo que o Óculus Mundi apenas não me condenou, porque me passaria a missão de preparar você.

- Como foi selado o tratado? Ele ainda existe? Há como quebrá-lo? – o bombardeei.

- Vai me dizer que deseja libertar o Conselho? Após tudo que lhe contei?

- Estou interessado em salvar Liza.

- Então não é tão virtuoso assim não é, meu rapaz? – disse com desdém alisando sua barba branca. – O fará para seu próprio bem.

O encarei sem responder. O silêncio para Johan era a melhor maneira de fazê-lo continuar falando. Vendo que ignorei seu comentário ele prosseguiu.

- O tratado foi escrito no pergaminho com a chama sagrada. Há uma cláusula nele, que anularia o poder de Morte já que ela também descumpriu com sua parte. Mas este desapareceu e assim, os anjos ficaram a mercê da mãe do vazio. O que o conselho fez com seus pais foi inútil, eles acreditaram que Morte os perdoaria se o sacrificassem. Tolamente induzidos por Olaf.

Mais uma vez ele ocultava a principal questão. No que isso se associava a mim e a Liza? Por que me mantinha prisioneiro no deserto?

Johan me deixou sozinho e todos os meus pensamentos se concentraram em Liza. Em nós dois juntos no Penhasco. Mergulhei fundo nas lembranças para matar a saudade, e não pude acreditar no que aconteceu.

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MISTÉRIOS REVELADOS... =o O que acharam da história?

Beijosss e até amanhã!

O Templo - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora