FIM - PARTE II

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ADEUS

Liza

Inspirei o ar fresco do Penhasco. O aroma das flores. De terra.

Ouvi o som das cachoeiras e expirei.

No momento em que espalmei as mãos na grama, engasguei e paralisei.

Senti os braços quentes de Nathaniel me acariciando. Escutei sua voz me chamando no fundo, mas fui incapaz de responder.

A cabeça latejou de maneira dolorosa. Como se minha consciência lutasse para puxar uma cortina negra que encobria tudo o que eu precisava saber.

Senti um nó no peito. Engasguei de novo.

Meu corpo sofreu de tremores contidos no início, seguido de amplos movimentos, incontroláveis e angustiados.

E a memória se manifestou de maneira brutal. Quase uma violação.

Flashes e mais flashes passaram em ritmo acelerado por meus olhos. Imagens de vinte e um anos que haviam sido esquecidas.

A realidade ia se afundando em mim, me ancorando no fundo.

As lembranças margearam as paredes da minha consciência escura e ganharam nitidez. Ondas e mais ondas de visões picotadas se encontraram e os fragmentos se uniram, como peças de um quebra cabeça. As recordações se afundaram, todas ao mesmo tempo, criando um panorama sólido. Contive um espasmo e estremeci. Os braços de Nathaniel me apertaram com mais força. Ouvi sua voz suave repetir meu nome, mas estava sem voz.

Porque lembrei. De tudo. Eu sabia. Agora, eu sabia.

Meus pais. O cemitério. Delegado Machado. A profecia. Meu amor por Nate.

O muro de vidro retentor de minhas lembranças se estilhaçou e elas vazaram de volta.

Madame Nadja estava certa ano passado: junto de seu amor, caminha a morte.

Pelo menos eu teria minha última chance de ser feliz antes de me despedir. Os tremores passaram. Respirei fundo. Eu o sentia a centímetros do meu rosto.

Se não tivesse que dizer adeus, teria entrado em euforia. Mas aquele seria o nosso reencontro e, ao mesmo tempo, nosso adeus.

Ergui as pálpebras e meu corpo pareceu se encher de luz ao fitar aquelas esmeraldas. Ele sorriu, me observava de muito perto. Os batimentos aceleraram. Estiquei as mãos e toquei seus cabelos negros, passeei com os dedos por sua pele branca e sedosa. Deslizei as mãos em seu rosto na tentativa de imprimir seu toque, seu cheiro, seu olhar tenro.

Nunca, nada nem ninguém, poderia tirar isso de mim.

Memorizei cada expressão, cada músculo, cada palavra oculta em seu olhar intenso.

Nate preencheu cada espaço vazio em mim com seu calor inebriante ameaçando me devorar.

Lágrimas de felicidade escorreram por minha bochecha.

Ele fechou os olhos por um breve segundo e os abriu de novo. Cada célula do meu ser o desejava. Chegava a machucar. Como se saciar essa saudade fosse uma angústia que jamais chegaria ao fim.

Nate arfava e me encarava como se temesse que eu desaparecesse ao desviar os olhos. Como se ainda tentasse se convencer de que não era um sonho.

Ele segurou meu rosto com as duas mãos e enxugou minhas lágrimas com os polegares. Meu peito inflou e esvaziou. Dizer adeus parecia impossível agora que eu recordava.

O Templo - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora