CORVOS E SOMBRAS

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Corvos e sombras

Liza

O atalho de Adrian não serviu para afastar os presságios. Eles me seguiram.

Acordei de madrugada com dois corvos bicando furiosamente a janela, desesperados para entrar. Eram completamente negros, acho que foi a primeira vez que observei um assim, tão de perto. Os olhos, as garras, e o bico todos da mesma cor. Eles pararam de bicar o vidro quando me aproximei, um deles me fitou profundamente, o olhar que me deu foi quase humano. Enquanto todos os pelos de meu corpo se arrepiavam, fechei rapidamente as cortinas e o barulho assustador de seus bicos contra a janela voltou, acompanhado de asas batendo e aquele som arrepiante de corvos grasnando.

Desci a escada, não podia ficar ouvindo aquilo, estava me enlouquecendo. Liguei a tv da sala em um volume alto, queria que se transpusesse ao som deles lá em cima. De repente, o silêncio se fez, respirei aliviada e quase gritei quando os vi ali, me observando da janela de baixo. E o barulho recomeçou.

Eles grasnavam ruidosamente e batiam suas asas voando para cima e para baixo, a cena era agoniante.

Quando me dei conta que haviam janelas no apartamento inteiro, corri para o corredor e foi pior, tudo ficou muito mais assustador.

Vozes sussurradas falaram dentro de mim, invadiram meu pensamento, eu não tinha controle, as vozes me lembravam almas pedindo ajuda, não consegui discernir o que diziam e elas começaram a gritar por respostas.

Abaixei-me no corredor e cobri os ouvidos, sabia que seria inútil mas estava aterrorizada e não adiantaria correr, não adiantaria gritar, porque o que quer que estivesse acontecendo, se passava dentro de mim.

Pensei em gritar por ajuda, mas não podia contar a verdade a ninguém, me chamariam de louca.

Acreditei que fosse perder, desejei que aquilo acabasse, ainda que tivesse que me levar junto. Inspirei com força.

Uma voz se distinguiu das outras que me assolavam e a reconheci imediatamente. Era ele, aquele por quem eu ainda lutava, mesmo sem nenhuma lembrança concreta. Suas palavras me cobriram, se espalharam em mim como um abraço confortador e os gritos na minha cabeça enfraqueceram. E as vozes, como imersas em água, me fizeram pensar na imagem horrível de pessoas se afogando.

"Conte até 10 Liz, respire, se acalme, abra os olhos e verá que nada disso é real, está apenas em sua mente."

Eu poderia jurar que senti suas mãos me envolverem, o toque suave de sua pele macia me aninhou e me trouxe paz. Meu corpo inteiro ficou morno. Abri os olhos e havia uma espécie de aura dourada desaparecendo no ar, suas últimas cores cintilaram e sumiram. E eu vi, por um milésimo de segundo, seus dois olhos, verdes como esmeraldas. Ele me via por dentro. Foi a única conclusão que atingi na hora. Não vá, pensei chorosa antes que se fosse.

- Liza! Você está bem? – perguntou Adrian levantando-me do chão em um abraço quase sufocante.

- Adrian, onde você estava?

- Eu estava aqui o tempo todo – falou passando a mão em meu rosto, ainda abraçado comigo – Mas você não me viu, não me escutou e ficou imóvel, mesmo quando eu sacudia você.

Soltei-me lentamente do abraço quando recobrei a consciência, Adrian não usava camisa, e exibia suas belas asas bege, malhadas de caramelo. Pude sentir seus músculos bem definidos colados ao meu corpo.

- Venha, Liz – me chamou com os olhos cheios d'água – Vamos dormir.

Arregalei os olhos, ele queria dormir comigo?

- Não Liza, quis dizer que vou dormir no seu quarto, não posso deixar você sozinha – falou respondendo a pergunta que não manifestei.

Ao chegarmos na porta, Adrian me pegou no colo e flutuou comigo sob a cama.

"Liza, meu Deus. Pensei que tivesse perdido você." – falou daquele jeito, em meus pensamentos, tinha os olhos suplicantes, inundados de carinho.

"Já estou melhor Adrian, está tudo bem." – tentei acalmá-lo sem conseguir evitar o calor que seu corpo me provocava.

"Por que você faz isso, Liza? Se fecha nessa fortaleza e não me deixa cuidar de você?"

"Porque eu estou bem agora, já passou. E eu deixo que cuide de mim sim, só gosto de ser independente, aliás eu preciso né? – sorri tentando relaxá-lo – Podemos voltar ao chão por favor?"

Parecendo irritado com minha resposta, ele nos desceu lentamente e me deitou na cama de casal. Depois ficou ajoelhado ao lado de meu rosto, parado feito uma estátua me observando. Senti que ruborizava.

- Adrian? Então, vamos dormir?

- Vamos linda – dizendo isso, me beijou a bochecha com seus lábios macios e carnudos e foi apagar a luz.

Isso estava ficando estranho demais. Ele abandonou aquela postura às vezes presunçosa que tanto me irritava e agora agia de maneira madura, respeitando meus limites e com toda essa ternura desarmante.

Assim que relaxei, dois olhos verdes me fitaram do escuro. Deixei-me sentir aquela saudade e o imaginei me abraçando forte, falando com aquela voz que me curava em meus ouvidos. Esqueci que Adrian estava ali comigo.

"Isso não foi legal Liza."

"Desculpe Adrian. Boa noite."

Pensei que seria capaz de adormecer, mas o barulho no andar de baixo quase me provocou um infarto.

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O que será que está esperando a Liza no andar de baixo? =O

Beijossss e até amanhã!!!

O Templo - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora