SOMBRA

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Sombra

Inspetor Mathews

Primeiro a maluquice de ver um cachorro se transformar em homem e agora isso. Não, não, não. Não entraria nessa asneira. Será que foi assim que seus amigos se suicidaram?

Foram mesmo levados a loucura?

Seria essa a razão? Alucinações os deixaram sem escolha a não ser a morte?

Tentou se convencer.

Isso não fez nenhum sentido, até inspetor Mathews sentir na própria pele.

Pudera, foi por isso que delegado Machado se tornou obsessivo. O maldito caso era insolucionável. E agora eram seus próprios olhos que lhe contavam.

Que diabos era isso?

Ele investigava as mortes em Nova Iorque, idênticas as de Winterhill e Los Angeles e não chegava a conclusão nenhuma.

Além de nenhuma delas deixar alguma evidência capaz de incriminar alguém, inspetor Mathews sentia-se perdido.

Enevoado, talvez fosse a melhor palavra.

Seguia as pistas ocultas nas sombras e de repente se perdia num beco, numa esquina. Como um cão correndo atrás do próprio rabo. Isso não era digno de um inspetor, era vergonhoso, sim.

Mas isso nunca lhe aconteceu antes.

Por isso achava tudo tão estranho.

Como se alguém o induzisse, plantasse pensamentos errados em sua mente, o desviasse de seu caminho. Uma voz sibilava em seus ouvidos. Lhe dizia que era ele quem matava as meninas inocentes.

Nunca acreditou nessas baboseiras, mas não havia outra justificativa agora.

Como ele sempre acordava perto do corpo das garotas, sem recordação nenhuma?

Nas primeiras vezes, pensou em procurar um médico. Mas desistiu facilmente ao cogitar a explicação de seus sintomas.

Me sinto perdido, ouço vozes e tenho a vista escura. Ridículo.

Seria levado rapidamente até um instituto psiquiátrico.

Quando sentia que era capaz de raciocinar normalmente, voltava a seguir a garota. Ela não parecia ter ligação com aquilo.

Sua rotina se mantinha: Central Park, Orfanato Santos Anjos, testando constantemente sua decisão de não entrar para falar com sua possível parente de sangue, passeio com o cão e com o cara. A mesma chatice, com excessão do último dia. Recebeu a visita de uma loira e fizeram alguns passeios turísticos.

No final da tarde se enfiaram num táxi ao sair do museu de cera e o inspetor Mathews as seguiu em seu carro alugado, até uma casa abandonada no Brooklyn.

O que essas garotas foram arrumar ali?

Ele não podia entrar pois se denunciaria. Esperou então o que lhe pareceram algumas horas.

De repente viu movimentos no alto da casa. No telhado, para ser mais específico.

Bateu com a cabeça no volante algumas vezes ao ver o que viu. Para a sua infelicidade, as pancadas não apagaram as imagens e estariam gravadas para sempre em sua lembrança.

O cara tinha asas e segurava a garota no telhado. Ela pareceu se debater e ele a soltou. O inspetor quase teve um troço, ao pensar que veria em segundos a garota se espatifar no chão. E ele não poderia ajudar em nada. O cara de repente a segurou impedindo que ela rachasse a cabeça e a beijou.

É assim que os jovens se relacionam hoje em dia? Entre a vida e a morte?

Observou os dois terem uma espécie de discussão, a garota andou de uma forma estranha, parecia sentir dor. Apoiou as mãos no capô de um carro, e esse explodiu. Explodiu!

Cacete! O que foi isso?

Inspetor Mathews largou seu carro parado na esquina e foi verificar a explosão. Se aproximou do fogo e a garota e o cara haviam desaparecido.

Distraído, ouviu em cima da hora o som brusco e arrastado de borracha freando no asfalto. E não teve tempo de desviar do carro vindo em alta velocidade na sua direção.

Sentiu o impacto primeiro nas pernas, a dor subiu, cresceu e se espalhou por todos os lados.

Um apito estridente zumbiu nos seus ouvidos e sua cabeça bateu no asfalto.

Uma sombra. Foi a última visão que registrou antes da luz se apagar.

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Coitado do inspetor, né? ='(

Beijosss a até amanhã!

O Templo - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora