ÓCULUS MUNDI
Nathaniel
Johan voltou a se sentar ao meu lado nos degraus, algumas horas depois.
Ele bufava em intervalos curtos de tempo. Acho que tentava me torturar com seu silêncio e conseguia. Ou, isso era mais um teste e dessa vez eu não falharia. Apesar do um milhão de perguntas que eu tinha e da ansiedade crescente por Liza, decidi me manter calmo.
Eu precisava estar no Templo.
Vimos o sol nascer e se por ainda em silêncio. Algumas vezes ele alisou sua barba, me olhou incrédulo sacudindo a cabeça e sempre que parecia prestes a falar, sua testa enrugava e seus olhos púrpura brilhavam com certa fúria. Então, ele respirava fundo e voltava a encarar o horizonte.
Eu estava pronto para assistir mais um sol nascer quando ele se levantou:
- Venha.
Sem esperar resposta, Johan andou até o Templo e entrou. Receoso, eu o segui.
- Seja bem vindo ao Templo, o centro do mundo.
Dei um passo hesitante para dentro do Templo e me surpreendi, consegui entrar.
O Templo enfim, estava em mim.
A energia ali era intensa, o poder que o lugar emanava vibrou em meus poros, estava ali havia menos de um minuto e já me sentia mais sereno.
Logo percebi que o lugar era uma espécie de santuário. Não se podia entrar com vibrações obscuras e o coração pesado para assim manter, o que se perpetuava ali.
Fiquei sem palavras.
O templo era tão alto que mal se via o topo das colunas. Andei lentamente, estupefato com a majestosidade do lugar.
Da entrada, era possível ver uma concentração de luz ao centro, onde haviam belas colunas de calcário branco, marcando um amplo espaço aberto.
Ao fundo, havia uma fonte cuja água escorria direto da parede, onde seis anjos de pedra se reuniam em volta de uma enorme esfera perfeita de quartzo azul. A esfera girava lentamente e sozinha, disposta sob uma pedra de mármore branco, enquanto a água caía à sua volta.
Havia um símbolo em relevo na base da pedra que segurava a esfera, composto por três letras V ligeiramente torcidas, que se uniam formando um triscle. E logo abaixo do triscle, o desenho de um pergaminho.
Eu desejava saber um milhão de coisas, no entanto, enquanto à questão que me revirava o estômago não fosse respondida, permaneceria inquieto. Liza havia mesmo perdido a memória? Estaria apenas confusa no cemitério? Nosso tempo juntos naquela noitefoi tão curto que sequer trocamos uma palavra.
Que Deus me ajude a me manter são, para concluir o que quer que seja, que me trouxe aqui.
- Nathaniel, mal foi convidado a entrar e já deseja sair? Aquiete-se. Há alguém cuidando da garota. – Johan se dirigia a mim novamente.
- Obrigado, Johan – suspirei e me deixei ficar no Templo.
O lugar era um banquete para os sentidos.
- Johan?
- Sim?
- Como conseguiu me libertar do Coemeterium? – estava há dias com esta questão me martelando, decidi aproveitar o momento – E por que me tirou de lá?
- Você atrai atenção demais meu rapaz. Localizar você foi a coisa mais fácil que já precisei fazer. E quanto a Olaf, ele tem a mente previsível e fácil de ludibriar. Seu ego anda tão inflado e seu desespero tão desenfreado, que creio que ele levará algum tempo até se dar conta de que você foi liberto da maldição que lhe jogou. É o que vivo dizendo. Me tornei um velho repetitivo. Nossos piores inimigos, são os internos. Eles nos cegam na ansiedade, no pesar e não conseguimos enxergar o que está bem a nossa frente. Mas não ficarei com todo o crédito, não fui eu quem salvou você, foi o Templo. Seu rosto apareceu na esfera, uma missão para mim. E posso lhe garantir, perdi a conta dos anos que já vivo aqui. Foi a primeira vez que vi isso acontecer. Sabe Nathaniel, fiquei bastante intrigado. O que é bem raro, para uma pessoa como eu. Alguém cujos olhos presenciaram das coisas mais belas, às mais terríveis.
- Intrigado a meu respeito, ou à respeito da esfera?
Johan riu com minha pergunta, coçou o queixo alisando a barba por um momento e me disse:
- Você não possui a mais vaga noção não é mesmo? Sobre quem é, a razão disso tudo, como chegamos aqui?
- Não Johan. Fui criado por uma freira, em um orfanato em Winterhill, mas suponho que já sabia disso. Todo o conhecimento que possuo, ou chegou até mim com o tempo, ou me foi dito por irmã Daiana, que Deus a tenha.
Dessa vez ele gargalhou. A irritação formigou por meus braços, mas me contive.
A paciência é uma virtude. A paciência é uma virtude. A paciência é uma virtude.
- Nathaniel, você é a quebra do tratado! O que me intriga é que você ainda esteja vivo! Me desculpe pelas duras palavras, mas essa é a verdade. Um dos líderes do Conselho quebrou o tratado com Morte, e no entanto, aqui está você! –disse quase se divertindo. Comecei a perceber que em alguns momentos, Johan parecia gostar daquilo. Da dor, do caos.
- Pessoas morreram Johan e eu não sei porque. E mais pessoas ainda sofrem. Eu estou tudo, menos intrigado. Mas certo de que deve haver uma razão para isso e um propósito para mim.
- Peço perdão por meu divertimento Nathaniel, não consigo me conter às vezes. Acabo não passando de um velho frio e rabugento, mas fico feliz de ser seu mentor pelos próximos dias. Aproveite o seu tempo aqui. O Templo é um refúgio, nada pode nos encontrar.
- Obrigado.
- Quanto à esfera, aprendi a usá-la, vai ficar feliz em saber, que temos o óculus mundi.
- O olho do mundo? – perguntei espantado.
- Sim, para ser usado com sabedoria, pois o outro lado também nos vê. Logo, tenhamos cautela. Ah, quase ia me esquecendo, irmã Daiana está viva. Ela escapou do incêndio e reside em Nova Iorque, próxima de Liza.
- O que!?
- Não faça perguntas agora. Medite. E quando eu voltar, lhe contarei a história do tratado com Morte.
Johan desapareceu após concluir a frase, mas não me importei. Era uma excelente notícia e pela primeira vez nos últimos tempos, pude acreditar que as coisas rumavam ao nosso favor.
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E esse Johan, hein?? Vocês teriam paciência com um mentor desses? rsrs
Beijosss e até amanhã!
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O Templo - Livro 2
Fantasy"Se Liza lembrasse do ocorrido no cemitério, talvez encontrasse a explicação para as sombras. Ou talvez entendesse de onde vinham os sussurros em seus pensamentos. No entanto, tudo o que ela se recorda é de um nome: Ethan. Até um estranho se apres...