A MARCA QUE CONDENA

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A marca que condena

Nathaniel

- Cansou de passear pelo deserto meu jovem?

Johan, mantinha o hábito de aparecer bruscamente ao meu lado, e repetia o gesto agora, assim que me aproximei do Templo.

- Cansei de muitas coisas, Johan – falei friamente pela milésima vez, me sentando no degrau do Templo.

- Vejo que conheceu, Gaia. Ouça-me agora, não acredite em uma só palavra do que diz. Aposto que lhe contou a sua triste história, botou toda a culpa em Haniel e colocou o Conselho como injusto.

- Por que deveria acreditar em você e não nela?

- Eu era um membro do Conselho, se esqueceu? Insolente!

- Exatamente, Johan. E o Conselho fez o que de bom? Porque tudo o que vejo e ouço, são falhas e mais falhas. Erros que me prendem aqui!

- Oh, pobre humano injustiçado por nossos erros. Pois não se esqueça que o pior erro foi o de seu pai! Quando escolheu amar Isabel! Por causa disso, eu perdi meus dois filhos! – gritou exasperado e entrou de volta no Templo.

Eu o segui.

- Já sei de Moysés e Maya. Eles eram seus filhos. Foram eles que caíram no lago Nayuko.

- Parabéns pela raríssima esperteza. Demorou só um pouco, não?

Os segundos no Templo se tornavam cada vez mais angustiantes, tentei usar outra abordagem antes de desaparecer e partir para Nova Iorque:

- Johan, sei que deseja terminar essa missão e se livrar de mim. Então por que não vamos logo com isso? Diga de uma vez o que é preciso, faça o que for necessário.

- Sei que também mal pode esperar para se livrar de mim Nathaniel, o sentimento é recíproco.

Velho insuportável.

- Sim, é verdade, Johan! Mas não é tudo culpa sua. A verdade é que preciso vê-la e todas essas histórias, essas descobertas, me prendem aqui. Sinto as coisas se desnudando em câmera lenta.

- Tenha calma, que o tempo se aproxima.

Meneei a cabeça, obviamente sem calma nenhuma. Estávamos agora no amplo espaço que havia no centro do Templo. Observei as quatro enormes estátuas de anjos inclinadas em direção à esfera de quartzo azul, girando lentamente sob a água da fonte e olhei abaixo dela aquele símbolo, dos três Vs retorcidos, formando um triscle e liguei os pontos: Vício, Virtude e Vazio.

Johan também observava a esfera, mudo. Olhei seus olhos e me lembrei da pergunta que havia guardado para lhe fazer:

- Johan, o que fez seus olhos se tornarem púrpura?

- Aquelazinha lhe contou sobre isso também, não é?

- Não. Apenas reparei que vocês dois tem os olhos iguais.

- Infelizmente, verá que há muitos de nós com esse olhos por aí.

- Por que?

- Obviamente se lembra do que lhe disse sobre o lago e as duas crianças, correto?

Balancei novamente a cabeça.

- Após ver meus filhos condenados a servir à Morte, ingenuamente pensei ter encontrado uma saída. Eu fui até os jardins da Morte Nathaniel. Tentei oferecer um acordo, que é claro, ela recusou. Me disse para me considerar grato, por me deixar voltar. Mas eu não estava disposto a perder e na época, ainda tinha certos poderes. Assim, lancei um encanto no cemitério de Winterhill, O Jardim dos Anjos. Lá a Morte não poderia entrar e toda lápide ali em memória, representaria uma alma a menos para ela. Com isso, condenei não apenas meus filhos e esposa, mas todos os humanos que os seguiram. Estão todos presos, em um lugar entre o Céu e a Terra, lugar que não consigo encontrar. A Morte, quando descobriu o meu feito, enfeitiçou a terra para que sempre que alguém vivo entrasse sem convite, morresse ao sair ou matasse para se manter vivo.

E como se não bastasse, recebi o Estigma Púrpura, a marca recebida por todos que traem a Morte, todos que tentam enganá-la.

- Como ela fez isso? A Morte não deveria ser apenas o Vazio? Além disso ela condenou as almas gêmeas, os humanos, por que o conselho não impediu?

- Ela fez muito mais que isso Nathaniel. Nós não sabíamos do enorme erro que cometíamos ao forjar aquelas três almas e todos nós pagamos o preço.

- Tem que haver alguma maneira de impedi-la.

Johan me fitou sério, senti que ele não me dizia tudo o que sabia.

- Ainda não terminei de contar, Nathaniel. Pare de se comportar como um adolescente e ouça.

Se eu falasse, minha voz entregaria toda a irritação que senti naquele momento. Indiquei com a minha mão, que ele continuasse.

- Bom – prosseguiu emburrado – O Estigma Púrpura, escraviza aqueles que a recebem a servi-la quando fizer o chamado. Após tentar enganá-la, recebi a orquídea negra, flor pela qual ela se afeiçoou depois que Gaia seduziu Haniel.

- Gaia seduziu Haniel?

- Sim, eu lhe disse que ela mentia. Foi ela que lhe propôs que fugissem e o fez cair na tentação de beijá-la. Agora, continuando... – falou novamente irritado - A orquídea, ou é o chamado para servi-la ou a ordem de aguardar que colete sua alma. De qualquer maneira, você acabará por descobrir, que não existe saída para nenhum dos dois casos. O dia em que eu deixar o Templo, ou me tornarei seu servo, ou terei minha alma coletada para dentro da flor. Eu a joguei fora centenas de vezes, mas veja – disse Johan erguendo para mim uma pequena flor em sua mão, a tirando de dentro de suas vestes – ela sempre volta, porque depois que a recebe, ela está em você.

Johan me deixou sozinho contemplando a esfera e comecei a ligar os pontos. Ambos com olhos púrpura, ambos com a marca dos Vs, e ambos desperdiçando meu tempo.

Estou chegando, Liza.

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Uuuuuuu mistérios.....

E aí? O que estão achando?

Beijossss e até amanhã!

O Templo - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora