Capítulo 04: Desejos

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Floresta da Infinita Escuridão

Terra

Elena Treagus sonhou com Leonard naquela noite. Sonhou com primeira noite que passaram juntos, em seu quarto, antes de sua viagem das férias de Julho de 2009. Reviveu aqueles momentos durante aquela noite e, quanto abriu os olhos, ela ainda não estava acordada. Sem querer, ela estava vendo-o no Paraíso.

Leonard dirigia uma moto em uma estrada retíssima e sem nenhum buraco. Sem dúvida não estava no Brasil. Então, onde estaria? Da última vez que o vira, ele estava preso em um lugar escuro, sem ter o que comer; e apenas Elena sabia disso e, por isso, tinha de salvá-lo. Contudo, ele estava livre e em algum lugar desconhecido. Foi quanto notou, no horizonte, o formato de uma cidade com uma roda gigante absurdamente grande. Era a maior que existia no mundo. Ele estava indo ao lugar favorito dela: Londres. Desejou do fundo do coração estar com ele, porém mesmo com todo o poder que tinha dentro de si, não podia vê-lo, falar com ele, tocá-lo, beijá-lo. Muito menos trazê-lo de volta para si.

Havia uma forma. E a resposta estava em suas mãos, mas ilegível. Estava a uma floresta de distância de recuperar seu amor.

Forçou-se a voltar à realidade.

A luz branca da lua ainda dominava a Floresta da Infinita Escuridão. Ela fazia jus ao nome, pois apenas a pequena clareira que estavam, onde o vilarejo vitoriano curtia a passagem de tempo abandonado, era iluminada. Se eles adentrassem poucos metros na floresta, não enxergariam nem a um metro distância.

Seus companheiros, Jonathan e Melanie, dormiam profundamente, enquanto Anúbis fitava o luar com um olhar saudoso, como se a lua trouxesse assim memórias de uma época distante. Um passado esquecido por toda humanidade. Sua pele cinzenta com hieróglifos tatuados em alguns pontos, como no ombro, antebraços e topo da mão, não brilhava; era como seu ele absorvesse a luz da lua para si e, egoísta, não dividia com os outros a sua volta. Apesar da sua cor diferente e do rosto constantemente lembrando um chacal, ele era bonito. Ela se perguntou se o professor Collor, de quem o deus tinha possuído o corpo, se parecesse com este diante dela quando jovem.

– É um belo luar, não? – Ela disse, quebrando o silêncio que ele carregava sozinho.

Devagar ele baixou os olhos para fitá-la: – Sim. É noite de lua cheia. De acordo com o professor aqui, essa lua também é chamada de "a lua dos lobos" ou, até mesmo, "a mãe dos lobos". Interessante, não?

– Eu não sabia que você tinha acesso às memórias de Collor.

– Eu tenho, mas apenas quando quero. É como se tudo que ele soubesse fosse um livro gigante que eu posso ler quando bem entender. Mas Collor mesmo morreu. Foi para o Inferno.

– Os mortos egípcios não vão para outro lugar?

– Não mais. Desde o banimento, o Duat está fechado para almas humanas. Há algumas pessoas que vivem por lá, mas eles descendem do Egito antigo. Um grupo de pessoas, magos em sua maioria, gostavam de viajar ao Duat e, quando houve o banimento, eles ficaram presos por lá.

Ela sorriu em resposta: – E o que esse luar te lembra? – Perguntou, imaginando que as palavras de Anúbis tentavam esconder algo a mais.

– Do que está falando? – Olhou-a nos olhos.

– Você fitava a lua como se estivesse com saudade.

– A sim. Foi numa noite de luar assim que eu conheci uma mulher chamada Maggie. Ela era hebreia. Ela foi a única mulher quem amei e me envolvi. Foi antes de Moisés e do banimento. Enfim, isso não é importante. O que faz acordada?

Afterlife: MundosOnde histórias criam vida. Descubra agora