Capítulo 35: Lutadores

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Munfarft, Godheim

Jogaram a mim e a Týr em uma cela de pedra com camas de ferro e sem colchão. Havia quatro camas por cela e, demos graças, apenas quatro escravos, contando com nós dois. Dois homens estavam ali; um homem de pele queimada de sol, sem pelo algum sobre o corpo; cicatrizes nos ombros, rosto e barriga. O quarto escravo era branco, também sem pelo, e com tatuagens nos ombros e braços; consegui contar dezesseis riscos no braço esquerdo e trinta e sete no direito. Assim que os guardas saíram de vista; comecei a olhar todos os detalhes da cela; Týr fez o mesmo.

– Não tem como. – O moreno disse de sua cama. – Essas celas são feitas de metal élfico. Ninguém jamais conseguirá escapar.

– Acredite, nós já tentamos. – O branco não interrompeu suas flexões para acrescentar.

– Eu vou ficar careca também? – Perguntei, para confirmar.

– Sim, essa é a marca de Faturin. – O moreno preferiu sentar para ver os recém-chegados. – Ora, ora. Uma mulher. É uma guerreira?

– De certa forma. O nome é Delaria. – Týr respondeu, falando pela primeira vez desde que nos jogaram aqui.

– Leonard. – Informei.

– Eu sou Graham, e o exibido ali é Kresimir. – O moreno, Graham, apresentou-se. – Desista, a única forma de ganhar a liberdade é se vencer cinquenta lutas. Então, Faturin nos liberta.

– E quantos já saíram? – Týr perguntou.

– Nenhum. Se você perde vinte, você é sacrificado, por que está dando prejuízo. – O que fazia flexões, Kresimir, levantou-se; ele estava brilhando de suor.

– Eu já tenho trinta e sete vitorias, e dezesseis derrotas. Serei o primeiro a sair daqui.

– A não ser que perca mais quatro vezes. – Graham falou. – Então, qual o grande plano de fuga, quatro olhos?

Estranhei o apelido, apenas depois me toquei que estava usando óculos. Tirei-os, para minha surpresa, a armação era feita de metal e, como tal, poderia ser afiado. Até mesmo os vidros poderiam ser usados. Olhei para os outros prisioneiros e contei o plano. Os dois se entreolharam, tentando decidir se valia a pena o risco, afinal, se fossem pegos, seriam mortos. Em seguida, confirmaram que ajudariam, por isso pegaram meus óculos, quebraram as pernas da armação e começaram a afiar na pedra de que era feita as paredes.

Para manter as lentes em meu rosto, rasguei uma tira de minha blusa e amarrei-o passando a fita pela cabeça; ficou extremamente desconfortável, mas era melhor do que enxergar tudo embaçado.

As camas eram presas à parede na horizontal; duas correntes na diagonal, uma em cada ponta, completavam o sustento. Analisei bem as correntes, elas não estavam enferrujadas, pelo contrário, estavam tão boas, que pareciam ter sido colocadas ontem. Todavia, nem tudo era feito de metal élfico; os parafusos que prendiam as correntes à cama estavam marrons. Talvez, com a força certa, poderíamos parti-los.

– Não adianta. – Graham informou. – Nós já tentamos. Por mais corroído que esteja, não conseguimos arrancar as correntes da cama.

Tudo bem, pensei. O plano é usar apenas os óculos.

Apenas quando a noite já era cheia, foi que nossas adagas improvisadas estavam prontas, bem a tempo, pois na manhã seguinte viria o homem para cortar meus cabelos. Durante a noite, Týr resolveu rasgar sua blusa também, deixando sua barriga lisa a mostra; rasgou o pano em várias tiras, e passou a trançá-las. Pouco tempo depois, ela tinha uma corda firme, que não podia ser rasgada facilmente; presas em ambas às mãos, serviria para enforcar alguém. A fada havia feito um estrangulador.

Afterlife: MundosOnde histórias criam vida. Descubra agora