Capítulo 34: Munfarft

847 76 9
                                    

Hwen, Godheim

Apesar de estar diante dos meus olhos, minha mente não conseguia processar a ideia. Ali estava o coração com desenhos tribais, aquele que praticamente era o símbolo de minha família. Eu também tinha uma irmã desaparecida; junte os pontos. Aquela, diante de mim, era Marcella, apesar de seu rosto não lembrar nem um pouco o meu, ou os dos meus pais ou irmãs.

– O que? – Ela perguntou ao ouvir-me chamando-a de Marcella.

– Nada... – Falei; talvez, revelar que ela era de outro mundo poderia causar algo nela que poderia ter consequências; eu tinha que falar com Týr primeiro. – É melhor nós terminarmos o treino por hoje.

Aldith, ou Marcella, como queira, despediu-se com um movimento de cabeça. Eu saí da escola de esgrima e praticamente corri de volta ao casarão em que estávamos hospedados; quase caí das taboas que formavam as ruas duas vezes, mas consegui equilibrar-me e continuar correndo.

Encontrei Týr deitada na cama, sem fazer nada, apenas olhando para o teto. Às vezes eu gostaria de saber o que se passava na cabeça da fada. De qualquer maneira, aproxime-me com pressa e sentei ao seu lado. Ela assustou-se por um segundo, mas logo se recompôs. Com seu mau humor corriqueiro, ela me fitou. Em poucos segundos, falando tão rápido quanto minha boca permitia.

A fada perguntou se eu tinha certeza; eu quase bati nela por isso. Se eu não tivesse certeza, eu teria corrido por taboas entre árvores de quase 20 metros de altura? Não, acho que não. Minha decisão de não falar para ela foi a certa, pois muitos dos humanos não acreditam que existam outros mundos.

Naquela noite, porém, não preguei o olho. Todas as lembranças que eu tinha de Marcella brotaram na minha cabeça; era como se fosse algum efeito colateral de transportar minha mente para o corpo de outra pessoa. As lembranças se tornam mais nítidas e realistas. Então, ao nascer do sol, quando Týr despertou, eu sussurrei apenas alto o bastante para que a fada ouvisse:

– Eu preciso contar a verdade para ela.

– Não, não precisa. – Ela falou, levantando-se. – O que você precisa é ir comigo até Yarrin para que salvemos as fadas. Ponto final.

– Týr, ela é minha irmã! Ela precisa saber que tem uma família em algum lugar! Uma que passou os últimos quatorze anos se perguntando o que diabos aconteceu com ela. E agora eu sei! – Eu também levantei, andei de um lado para outro no quarto.

– Não! – Týr veio na minha direção, um dedo acusatório apontado para mim. – Você não pode surgir do nada na vida de uma pessoa e simplesmente destruir tudo que ela conhece. Você não vai dizer nada!

Eu bati na mão com a qual ela apontava para mim. Foi o estopim para uma discussão que, de murmurar, foi para gritos em três ou quatro falas. Ambos soltamos argumentos lógicos, apesar dos meus estar baseado em sentimentos meus e de minha família, já os dela baseado nos sentimentos de Aldith. A porta de nosso quarto abriu no momento exato em que eu gritei a plenos pulmões:

– ALDITH PRECISA SABER A VERDADE! POR MAIS QUE SEU MUNDO FOSSE DESTRUÍDO POR COMPLETO, EU PRECISA SABER A VERDADE! UM MUNDO DE MENTIRAS É MUITO, MUITO PIOR. – E, obviamente, quem estava na porta era ela, Aldith; ela nos fitava como se fossemos dois galos de briga.

– O que exatamente vocês estão escondendo de mim? – Ela falou, sacando sua faca e apontando para nós, como se fossemos dois inimigos prontos para serem queimados, exatamente como Kamil.

– Nós não fomos completamente honestos com você. – Eu respondi; meu tom era calmo e triste, muito contrário de como estava falando cinco segundos antes. – Mas não é nada que você precisará usar isso. – Apontei para sua adaga. – Não fomos sinceros sobre minha... Origem.

Afterlife: MundosOnde histórias criam vida. Descubra agora