Afterlife: Mundos

Capítulo 12: Árvores

Floresta da Infinita Escuridão

Terra

A música tocada no piano era incrível. As notas estavam perfeitas; todas no mesmo tom, tempo, ritmo; nenhuma saía do compasso. Elena não conhecia tantas assim, mas conseguiu reconhecer que era a canção Just the Way You Are de Bruno Mars. Amava essa música. Era a música dela e de Leonard. Sentiu vontade dançar, então, dançou. Foi para cá e para lá, seguindo o ritmo lento. Lembrava-se quando, em sua festa de aniversário de quinze anos, Leonard fora seu príncipe e eles dançaram essa música. Na época eles ainda não namoravam, mas eram grandes amigos, apesar de Elena já estar apaixonada por ele.

O chão parece molhado, percebeu. O chão era quadriculado em preto e branco: uma pista de dança. Contudo, os quadrados brancos tinham um tom avermelhado. Isso é sangue, concluiu, mas sangue de quem? É meu? Um holofote acendeu, iluminando um piano de calda. Era dele que vinha a música, contudo, apesar das notas sendo tocadas, não havia um pianista. Assustador, pensou.

Ela estava em um palco, porém sem plateia ou cadeiras para um público. Havia cortinas vermelhas pendurada dos dois lados. Não conseguia ver os bastidores, ou qualquer outra coisa. Era apenas ela, o piano, o sangue e o piso quadriculado.

O que está fazendo, Elena?, a voz grave que falava dentro dela e que fizera o pacto em troca de saber perguntou.

Estou dançando, respondeu de forma simples.

Digo, o que está fazendo do lado de fora, no mundo real.

Eu não sei. Não me lembro.

Você está morrendo.

Não, não estou. Estou... Interrompeu-se, sem saber o que responder.

Você está morrendo, a voz repetiu.

Ok. Posso estar. Mas isso é bom, vou poder me encontrar com Leonard.

Se você morrer, você esquecerá tudo. Não o reconhecerá. Você não o terá de volta.

Elena parou de dança e fitou a escuridão em que a luz do holofote não chegava. A música do piano cessou. A verdade caiu sobre seus ombros como uma bigorna cai em um cartoon qualquer. O esquecimento. Essa era a verdadeira morte.

Abriu os olhos com o cenho franzido de raiva. A escuridão de tom arroxeado estava a sua volta. Lembrou-se onde estava. Lembrou o que precisava fazer. Lembrou-se do que mais queria. Leonard. Eu não vou esquecer!, vociferou com o pensamento. Fora presa dentro da árvore de Yamata no Orochi pela Loba chamada Fraude. Sua energia vital sendo sugada. Sentiu o ódio crescer dentro do seu coração, tornando-se sua essência. Sentiu a Magia correndo em suas veias.

Usando apenas a força, quebrou os galhos que prendiam seu braço direito; então o usou para libertar sua boca e pescoço. Liberta, ela gritou com toda a força e ódio de seus pulmões:

– Incendia!

Fogo roxo queimou instantaneamente, nascendo de Elena e tomando toda a árvore. O calor seria insuportável se não fosse ela a conjuradora. Aos poucos, a madeira foi sendo consumida, perdendo sua forma e tornando-se fraca, como um pedaço de carvão. Facilmente ela se livrou dos galhos que a prendiam. Usando seus próprios punhos furiosos, ela abriu uma saída, sem se importar com os machucados que se formavam neles.

Encontrou uma loba paralisada de medo ao lado de fora. Ninguém nunca havia escapado daquela árvore maldita e poderosa. Nunca. Nem mesmo os magos mais poderosos o fizeram. Aquela garota, porém, não só escapara como a estava destruindo com fogo simples e suas mãos limpas. Fraude recuou alguns passos, sem saber o que fazer.