Capítulo 36: Batalha dos Deuses

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Duat

Kifo voou por tanto tempo sobre o Mar de Escaravelhos, que suas asas estavam doloridas. Felizmente, ele chegara à outra margem, então pousou e descansou. A batalha contra Vizard e aquela deusa haviam tirado muito de si, mais do que ele esperava. Deitou o homem, ainda vivo, na areia na beira do rio que desembocava no Mar. Se as informações que Apófis havia colocado em sua mente estavam corretas, aquele era o rio Nilo, que também era parte da Terra. De fato, o rio entrava no Mar de Escaravelhos e saía na nascente dele, na Terra. Era um ciclo praticamente infinito.

Se fosse humano, teria tomado um susto quando um barco praticamente nasceu do mar e passou a navegar o rio acima. Sabia que aquele era o barco de Rá, fazendo seu ciclo, mas que agora estava vazio. Um navio fantasma cumprindo sua missão automaticamente. Kifo sentiu uma presença; era fêmea, e provavelmente uma humana, mas uma que tinha algumas características especiais. Escondeu-se atrás de uma duna para observar.

O barco seguia correnteza acima; ele viu uma mulher ruiva subir nele. Não sabia o que ela poderia querer ali, e de fato não se importava, a não ser que ela interferisse em seus planos. Voltou para onde tinha deixado o homem e deitou; não sabia que era possível, mas dormiu.

Acordou depois de longas horas de sono. Como o céu nunca mudava de cor, não sabia se era dia, noite ou se até mesmo a data não havia mudado. Pegou o homem nos braços e voou outra vez, em direção à cela de Apófis. Passou por cima de dois portões estranhos, provavelmente o do meio dia e o da tarde; o deus do caos estava preso naquele que pertencia à noite.

Como esperado, um exército de deuses e homens o aguardava. Kifo não atacou imediatamente, pois tinha que deixar o corpo que Apófis usaria. Escondeu-o em uma duna ali próxima; por cima dela, observou o exército. Não havia mais do que trinta deuses, sem dúvida, afinal tinham escolhido apenas os que combatiam. Já os homens, eram mais cem. Um exército ínfimo em comparação à quantidade de Filhos do Abismo que existiam e que fariam parte de seu exército, mas ainda assim, seria um combate difícil por causa dos deuses. Tinha que acabar com eles, dar um jeito de separá-los e matar um a um. Ainda bem que a espada que conservara dentro de si por mais de dez mil anos era capaz de matar aqueles seres.

Reconheceu a deusa que havia combatido aproximando-se do exército. Ela diria as melhores estratégias de combater Kifo que ganhara pela experiência, ou seja, seria um problema. Deixou de observar e deitou na duna, pensando em qual seria a melhor estratégia. Infelizmente, ele não era capaz de pensar em nada que não envolvesse um ataque de frente.

Ouviu uma trombeta sendo tocada. Quando percebeu, havia um homem a alguns metros dele. Kifo estava na linha de visão. Lá se vai o elemento surpresa, pensou. Avançou contra o homem e o matou sem usar sua espada; havia outros três com eles, que foram facilmente massacrados. Esperou.

Deuses em forma de animais avançaram contra ele; Kifo sacou a espada de seu peito. Quando os deuses estavam próximos o bastante, atacaram. O Filho da Morte defendeu-se da melhor maneira que pôde; matou alguns deles, mas ele estava prestes a ser subjugado. Não tinha como vencer tantos ao mesmo tempo.

Então, a cavalaria surgiu de dentro da areia. Escorpiões gigantes brotaram do chão e atacaram os deuses; confuso por um segundo, Kifo quase teve uma espada atravessada em seu peito; mas bloqueou e matou o atacante. Quando conseguiram terminar com essa primeira onda de deuses, um dos escorpiões, que era maior que os outros, encarou-o e, de alguma forma, falou que ele era um demônio enviado pelo caos para ajudar Kifo a extinguir a raça do panteão egípcio.

Agora sim, um ataque de frente faria sentido. Com cerca de vinte escorpiões, Kifo avançou contra o exército, que preparou-se para o combate. Homens, feras e deuses lutaram durante muito tempo; espadas e ferrões, um contra o outro; apesar dos escorpiões não terem poder para matar os deuses, uma ferroada era capaz de transformá-los em areia da qual, eventualmente, os deuses renasceriam.

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