Páginas Molhadas

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         Na volta para casa eu fiquei me perguntando o porquê tinha feito aquilo, o motivo que tinha me levado a terminar com Richard, já que parte de mim estava me dizendo que eu não deveria fazer aquilo. Não fui para omeu apartamento quando cheguei em Londres, fui para o Lago Serpentine. Me sentei na margem e apreciei o pôr-do-sol. Por incrível que pareça eu não chorei, sentia que minhas lágrimas haviam congelado dentro de mim. Eu sabia que por mais que fosse difícil dizer adeus, era o certo a fazer. Sabia que eu me veria vivendo num mundo solitário por algum tempo, mas mesmo que vivesse assim, não seria por muito tempo. O câncer trataria de resolver meus problemas com sentir.

          Não podia mais viver nessa melancolia que fazia com que eu me afundasse em pensamentos infinitamente tristes. Essa não era eu. Mesmo com tudo, ainda acredito que eu era feliz, não era? Com tanto tempo dormindo eu tinha perdido a ideia de quem eu era, do que eu queria. Por mais que eu estudasse e trabalhasse, eu não planejava um futuro. E por que eu planejaria? Sempre que a palavra "futuro" me vinha à cabeça, eu me imaginava morta dentro de um caixão branco encharcado em lágrimas. Isso não podia ser saudável. Sem motivo algum eu resolvi ligar para o garoto do trem, Dylan.

         - Alô? - ele perguntava com uma voz ainda mais grossa no telefone.

         - Oi Dylan, aqui é a Evelyn. Como vai? - falei.

         - Oi Evelyn, bem e você? - ele parecia apressado - Posso ligar depois? Estou um pouco ocupado.

        - Não, tudo bem - fiquei envergonhada - Bom trabalho.

         Ele agradeceu, então desligou o telefone. Continuei apreciando o lago, até que escureceu. Algumas luzes se acenderam. Estava muito vazio o lugar onde eu escolhera me sentar, fazendo com que eu me sentisse ainda mais perdida em meus pensamentos. Voltei para casa de ônibus, ouvindo algumas músicas mais agitadas para ver se eu me animava. Não adiantou. Entrei jogando a mochila em cima do sofá, então percebi que meu pai, minha mãe e meu irmão estavam lá, além de Violet. 

         - Onde você estava? - minha mãe perguntou nervosa - Nós te ligamos o dia todo.

         - Eu sei que eu deveria ter avisado, mas eu já sou adulta mãe. Digo isso achando muito estranho o fato de eu já ser adulta, mas já sou. Já deveria saber que com a quantidade de problemas que eu tenho, uma hora eu iria sumir - falei irritada.

         - Você pode ser adulta, mas isso não muda o fato de que sou sua mãe e que me preocupo com você Evelyn Benetti. Esteja ciente disso. 

         - Só preciso ficar sozinha. 

         Saí da sala um tanto pesarosa, me trancando em meu quarto. Tomei um banho quente e parece que ele derreteu minhas lágrimas, já que acabei chorando. Juro que eu já não chorava pelo câncer. Estava mais preocupada com o tempo que eu havia perdido me lamentando. Não queria viver do passado e também só pensar no futuro, eu realmente precisava aprender a viver meu presente. Vesti uma roupa qualquer, peguei o álbum que Richard havia me dado e saí do apartamento. Voltei para o lago Serpentine.

         Ao chegar lá, observei as águas que eram iluminadas pela luz do luar, aquela era uma imagem encantadora. Folheei o álbum novamente e algumas lágrimas desceram de meus olhos. Toda aquela felicidade das fotos haviam sido apagadas ao longo de 4 anos e meio. Coloquei o álbum no lago e empurrei para longe, mesmo que fosse parar do outro lado da margem, eu não saberia. Só precisava ficar longe dele. Talvez fosse idiotice, mas queria sentir que eu  tinha deixado meu passado para trás. Prometi para mim mesma que eu seria feliz. 

          Quando me virei para ir embora, me assustei ao ver Dylan acenando para mim. A manga de sua camisa social estava dobrada, os botões próximos à gola abertos, o terno no ombro e os cabelos um tanto bagunçados. Ele me olhava meigamente enquanto sorria. 

          - Desculpe pelo modo como estou - ele disse se aproximando e rindo -, eu voltei agora pouco para Londres. 

          - Não se desculpe - eu o encarei me aproximando -, preciso de um favor.

          - Qual?

          - Isso - falei o beijando no impulso. 

 

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Só Mais Um Dia - Parte II Onde histórias criam vida. Descubra agora