Mcdonald's

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          - Por acaso você teve piolho? - eu o olhei rindo - que diabos foi isso?

          - Não precisa se sentir mal por conta da sua falta de cabelo, agora eu também não tenho mais - ele falou depois me beijou na testa.

          - É lindo o que está fazendo, mas não era necessário, seu cabelo era tão bonito - eu disse passando a mão na sua cabeça nua - mas você continua lindo.

          - Perder a namorada e o cabelo já é demais - ele riu - aonde quer ir?

          - O que tem em mente?

          - Nada, para ser sincero. Pensei em só ficar andando por aí, lanchar em algum lugar. O que acha? - Ele me olhou com receio.

         - Me parece ótimo - sorri.

         - Então vamos - ele segurou na minha mão, então saímos.

          Ficamos caminhando por um grande espaço de tempo. Era sábado e o sol apareceu estranhamente, deixando o clima agradável. Richard como sempre estava usando uma blusa cinza, um casaco preto e uma calça escura porém mais clara que o casaco. Ele parecia mais magro que antes, o que me preocupou um pouco, mas não sabia como entrar nesse assunto.

          - Richard, está tudo bem? - perguntei.

          - Está sim, - ele me olhou - por quê da pergunta?

          - Você está mais magro, como se por alguma preocupação você tenha perdido peso. Como está na sua casa?

          - Bem… - ele abaixou a cabeça - Não sei se tenho que encher sua mente com besteira…

          - Ei, eu me preocupo contigo, sabe disso. Pode contar comigo.

         - Meu pai sumiu tem um tempo, até achávamos que ele tinha sofrido algum acidente e desaparecido, mas acontece que ele apareceu.

         - Simplesmente apareceu? - segurei sua mão - Onde ele estava?

          - Ele não lembra, o que o trouxe de volta foi uma lembrança com meu tio, mas ele não faz ideia de quem eu seja, nem minha mãe - ele falava de uma forma aflita.

          - E ela?

         - Ela nunca deixou de amar o meu pai. Está arrasada por ele nem saber quem ela é…
      
          Ficamos em silêncio por um tempo. Não sabia como aconselhá-lo nem conseguia me colocar no lugar dele. Era uma situação muito complicada, nem eu saberia como agir.

          - Não sei o que dizer… Me desculpe por não conseguir ajudar - falei por fim me sentindo culpada.

          - Tudo bem - ele sorriu- nem todos sabem como ajudar, nem eu sei o que fazer. Mas ele já foi ao médico, e parece que ele sofreu algum acidente. Algumas partes do crânio estão lesionadas. Estamos todos fazendo o possível. Ele só fica na casa dos meu tio, não quer ficar com “estranhos”, que somos nós segundo ele.

          - Não o culpe pelo que está acontecendo, talvez ele não tenha culpa de tudo que aconteceu nesses anos. E quando melhorar talvez explique o que aconteceu - disse o abraçando.

          - Espero que sim, estou sofrendo mais por causa da minha mãe… Não tenho memórias suficiente com ele para sentir saudades. Ela que não merece isso.

          - Sim, ela não merece…

          Dei um beijo nele. Não conseguia ajudá-lo. Não era como se eu passasse pelas mesmas coisas em casa. Meu pai sempre esteve presente e me apoiando quando precisei, não sabia como era ter essa carência paterna, mas eu amo Richard, e faria de tudo para que ele se sentisse melhor.

          Fomos até uma lanchonete do Mcdonald's. Ele parecia que tinha ficado uns dias sem se alimentar direito, então estava disposta a dar toda besteira salgada e doce para que ele pudesse engordar um pouco.

          - Vamos querer três promoções de Big Macs - disse para o rapaz que nos atendia - e depois duas casquinhas de sorvete.

          - Três? - Richard me encarou.

          - Dois para você, um para mim - respondi.

          - Não estou com tanta fome - ele me olhou rindo.

          - Você precisa comer Richard, olha sua magreza.

          - Tudo bem, - o atendente nos olhava - então serão três promoções, certo?

          - Sim - respondi, então paguei o lanche.

          Nos sentamos e aguardamos o lanche chegar. Richard tinha ficado com a aparência de “badboy” com aquela cabeça raspada. Não era de todo mal.

          - Você está com cara de mau- comentei.

          - Mau? - ele riu - E isso é mais atraente para você?

          - Com certeza, - ri e segurei sua mão - está muito atraente.

          Então ele riu e me olhou profundamente nos olhos. Eu vi que Richard tentava se animar, mas não estava nada bem, os problemas em casa estava o consumindo por dentro. O pior era que eu não podia fazer nada, e isso me consumia também.

          - Sei que não posso ajudar em praticamente nada, mas vamos tentar esquecer tudo que nos faz mal, pelo menos por hoje, pode ser? - falei.

          - É uma boa ideia, - Richard deu um suspiro - não sei se vou conseguir, mas vamos tentar.

          Os lanches chegaram então fiz de tudo para que ele comesse os dois sanduíches. Ele comeu com uma certa resistência, sempre me oferecendo metade, mas o obriguei a comer. Não queria que mais alguém tivesse problemas de saúde.

          - Sabe que isso não vai repor todos os nutrientes que preciso, não sabe? - ele disse comendo o último pedaço do lanche.

          - Sei sim, mas vai dar uma engordadinha, e por agora é o suficiente. Não queria sair para comer salada, de qualquer forma - falei rindo.

          - Obrigado por ser exatamente o que sempre preciso, - ele disse com um sorriso, então passou catchup no meu nariz - isso como recompensa.

          - Idiota - disse rindo enquanto me limpava com um guardanapo.

          Ficamos mais um tempo ali, conversando num Mcdonald's. Era o remédio mais simples para curar nossas dores. Ou talvez o remédio fosse nós mesmos, curando a existência um do outro.

 Ou talvez o remédio fosse nós mesmos, curando a existência um do outro

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Só Mais Um Dia - Parte II Onde histórias criam vida. Descubra agora