Lago

94 4 5
                                    

          Saber o que fazer nunca havia sido um ponto forte em mim. Na realidade estava completamente perdida de como continuaria lidando com tudo aquilo que envolve a minha vida. E se tudo simplesmente acabasse? E se o câncer findasse a minha existência sem que pudesse me despedir? E pior, será que as pessoas continuariam me poupando de seus problemas por conta da minha doença? Odeio quando os outros simplesmente preferem acreditar que sou frágil demais e que não conseguiriam  encontrar suporte em mim.

          Me levantei da cama atordoada com todos aqueles pensamentos em minha cabeça. O quarto estava escuro o que me fez tropeçar na lateral da cama enquanto ainda estava me levantando - "droga!" -pensei.  Quando finalmente consegui acender a luz, fui até o guarda-roupas e peguei meu casaco branco de lã (o mais quente que tinha) e saí do quarto. Toda a casa assim como o quarto estava escura e silenciosa, não se ouvia um ruído se quer. Andei em passos lentos para que não me ouvissem em direção a porta da sala e então a  destranquei, precisava sair para pensar.

          Eram mais ou menos três horas da manhã e o vento gelado me lembrava de que provavelmente faziam menos de 10°C, contudo  ainda achava que caminhar era melhor do que ficar acordada em minha cama remoendo meus anseios. Ao me afastar um pouco da casa avistei um lago, então me lembrei de que Richard havia me dito que em frente a casa de sua tia tinha um lago que poderíamos nadar quando o clima estivesse bom. Caminhei até lá atraída pela bela imagem que o reflexo da lua nas águas do lago formavam, além do grande número de estrelas que se podia ver no céu, deixando tudo tão perfeito que consegui até mesmo não pensar no que me angustiava. Aquele local me atraía tanto que tive uma ideia muito estúpida: resolvi entrar no lago. Tirei meu casaco e minha camisola, ficando apenas de calcinha e sutiã. Caminhei descalça até a margem, a grama fofa estava tão fria que me perguntei se não estava congelada. Entrei devagar, a água estava tão fria que chegava a ser insuportável, o que não me fez desistir. Foi quando percebi que era melhor me jogar de uma vez e mergulhar e foi o que fiz. Nadar foi maravilhoso mesmo que o clima não estivesse ao meu favor, e senti-me livre de todos os meus problemas, mesmo que apenas por alguns momentos.

          Aproveitei o lago por alguns minutos, então tudo ficou escuro. Não sei ao certo o que havia acontecido, mas acordei nos braços de Richard me tirando de lá.

         — O que você está fazendo? — perguntei irritada.

          — Evelyn você estava desacordada dentro do lago, eu é que pergunto: o que você estava fazendo? - ele respondeu irritado.

         — Nadando...  — disse baixo.

         — Eu acredito mais na possibilidade de que você estava tentando se matar. Achou mesmo que entraria num lago a noite fazendo 9°C e nada aconteceria?

         Não respondi mais nada, apenas fiquei observando o quanto ele estava bravo com o que eu havia feito. Entramos em casa e ele me levou até meu quarto e me cobriu com vários edredons.

          — Eu não te entendo Evelyn, esses dias aqui eram para termos bons momentos juntos.

         — E como acha que nós teríamos esses bons momentos se você não é honesto o suficiente para me contar as coisas que estão acontecendo com você?! — falei irritada, então comecei a chorar — Como espera que nosso casamento dê certo se você não compartilha seus problemas comigo Richard? Estou cansada de tudo isso. 

           — Não queria te preocupar mais, você já sofre tanto com sua...

          — Me poupar de seus problemas não me torna menos doente Richard, — disse o interrompendo — só me faz acreditar que nunca vou ser capaz de levar uma vida normal.

          — Não tive a intenção de te ferir Evelyn... — ele se sentou ao meu lado na cama e segurou as minhas mãos — Não é questão de não confiar em você ou algo assim, na realidade não sei o que fazer. O que estou passando não dá resolver com planejamento ou sei lá... A única coisa que posso fazer é sentar e esperar que o tempo conserte as coisas, ou simplesmente aceitar que meu pai jamais vai se lembrar de mim ou da minha mãe.

         — Me desculpe... — disse ao perceber o quanto eu havia sido insensível — Realmente queria poder fazer mais.

          Ele se aproximou um pouco mais, então nos abraçamos. Não sabia como resolveríamos tudo aquilo, mas tinha certeza de que conseguiríamos desde que continuássemos juntos.

 Não sabia como resolveríamos tudo aquilo, mas tinha certeza de que conseguiríamos desde que continuássemos juntos

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
Só Mais Um Dia - Parte II Onde histórias criam vida. Descubra agora