Primavera

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          Uma semana depois do dia em que fiquei até o amanhecer conversando com Dylan eu já estava me sentindo melhor. Eu não contara a Violet que tinha passado a madrugada conversando com Dylan, porém de algum jeito ela descobriu, e eu fui forçada a tocar no assunto todos os dias. Eu estava quase concluindo meu 2° grau e estava feliz por isso, e as coisas no trabalho corriam bem também. Eu passava boa parte do tempo conversando com Dylan e marcamos de nos vermos novamente. Ele me fazia esquecer que eu estava doente ou qualquer coisa que tenha me feito sofrer no passado, pois ele não havia vivenciado nada daquilo comigo, o que fazia com que eu me sentisse mais à vontade em relação à mim mesma.

         Comecei a escrever, colocar meus sentimentos no papel. Como se eu conseguisse acrescentar um pouco da minha alma nas linhas e palavras. Talvez eu estivesse descrevendo uma bela parte de mim em cada verso.

"Existem ocasiões em que me sinto real, como se fosse vista e amada por todos. Cheia de motivos que me fazem sentir um exemplo para mim mesma. Pois existe um lado meu que precisa aprender a se valorizar e ver que nem todas as pessoas estão certas ao falarem de mim. Existe parte da minha alma que tem que entender que não estou sozinha. Preciso deixar que meu coração bata no mesmo ritmo que a melodia doce e calma de um piano, ou no mesmo ritmo em que as árvores encontram ao se sacodirem por causa da brisa. Só preciso fazer com que minha alma se torne tão bela quanto um jardim florido e que meu corpo se mantenha numa única estação: a primavera."

         Quando pensava em mim novas coisas surgiam em minha mente. Não me via mais como aquela pobre garota adolescente que morria de câncer. Agora eu me via como uma pessoa que travava uma batalha todos os dias para manter-se viva e feliz. Eu ainda tinha tempo para fazer qualquer coisa que eu queria. Tempo de me encontrar, de me redescobrir. Sentia que minha alma era infinita, assim como a imensidão de coisas que juntas se transformavam em mim. Tinha perdido a vontade constante de gritar, como se finalmente tivesse achado um equilíbrio. Eu tinha conseguido conciliar a morte com a felicidade.

         Era terça-feira e o dia estava ensolarado. Eu voltava do trabalho, já cansada por ter passado a manhã estudando e a tarde trabalhando, quando me surpreendi com uma ligação.

         - Oi, é a Evelyn Benetti? - perguntou uma voz desconhecida.

        - Sim. Quem fala? - perguntei.

        - É uma emergência Evelyn. O Richard sofreu um acidente e está internado no Hospital St. Mary em estado grave. Quem fala aqui é a tia dele, Lucy. Ele está chamando seu nome há um tempo. Seria possível você vir aqui?

         Senti um mal estar repentino. Eu que sempre me preparava para morrer estava lidando com algo novo: Ver alguém partir.

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Só Mais Um Dia - Parte II Onde histórias criam vida. Descubra agora