Memórias

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          - Gosto de vir aqui - disse Richard quando chegamos no parque que nos conhecemos - conheci a pessoa mais importante da minha vida aqui.

         - Tua mãe te deu à luz aqui? - comentei rindo.

         - Você tem cada piada ruim - ele falou rindo também - boba.

         O abracei, e ficamos assim por um tempo. O parque não era mais o mesmo, alguns brinquedos estavam quebrados, a pintura estava velha e a aparência era um tanto triste. Mal conseguia reconhecê-lo.

          - Aqui mudou muito, acho que abandonaram esse parque - disse jogando as folhas que estavam no balanço no chão - tudo sujo e velho.

         - Vão destruir esse parque e construir outro. - Richard dizia um tanto chateado - Gostava daqui. Ele guarda parte das nossas melhores lembranças.

         - Não gostaria de ver esse parque sendo destruído, mas nos despedir dele é o que nos resta.

         - É... - ele disse chutando um galho- Espero que o outro parque tenha um escorregador melhor.

         - Ou balanços menos coloridos - comentei.

         Começamos a rir, não existia nada que não pudesse se tornar em sorrisos. Ficamos balançando por algum tempo em silêncio. Cada um de nós estava tendo problemas que tentávamos pôr de lado sem muito sucesso. Era horrível não ser capaz de resolver algumas questões.

        - Você está vendo aquela estrela? - perguntei a Richard apontando para o céu- Ainda é dia, mas já conseguimos ver uma estrela.

         - Estou vendo sim, mas o que tem? - ele perguntou apreciando o céu.

         - Se parar para pensar, essa estrela é como nossas escolhas. A oportunidade de fazer as coisas da forma certa sempre vai existir, assim como a esperança. Mesmo que quase não consigamos enxergar a oportunidade que temos, elas sempre estarão lá, só esperando a hora certa de aparecer. Assim como essa estrela, que vai estar bem visível quando anoitecer. Tudo tem uma hora certa.

          Ele sorriu, então segurou minha mão. Não precisou dizer nada para que eu entendesse que havia dito tudo que ele precisava ouvir. Voltamos a ficar em silêncio, então anoiteceu. Ficamos balançando por um tempo, no vento frio da noite.

          - Sabe Evelyn, às vezes eu queria ter lembranças com meu pai - Richard disse olhando para o céu - Lembranças de ele me levar para ver o jogo, me ensinando a andar de bicicleta, nadar... Gostaria de viver aquelas lembranças mais comuns que quase toda criança tem. No geral, eu aprendi tudo sozinho, só meu tio me levava ao jogo.

          - Tem coisas que eu também gostaria de ter vivido. Gostaria de ter frequentado a escola como todo mundo, ter me formado, ter ido ao baile de formatura... Ter ido com você teria sido um sonho. E sobre seu pai, sei como se sente em relação a sentir um vazio, sinto isso em relação a uma parte da minha vida, principalmente do tempo em que fiquei em coma. Perdi 4 anos num sono profundo.

          - Foram os piores anos da minha vida, foi o tempo que namorei a menina mais fútil que poderia conhecer. E perdi o tempo com a que mais amo - ele disse pensativo.

          - Jennifer era bonita - falei baixo - E ninguém nunca vai te culpar por tentar seguir em frente. Se um dia eu morrer antes do esperado, siga em frente. Sua felicidade será a minha.

          - Não diz besteira, ainda temos muito tempo juntos. E mesmo que eu seguisse em frente, jamais amaria alguém como amo você, sabe disso.

          - Você nunca tentou de verdade para saber.

          Então ele me beijou, mas dessa vez foi de uma maneira mais intensa, como nunca havia me beijado antes. Me puxando para perto, ele apertou minha cintura, então foi beijando meu pescoço até que apertou minha coxa, então me afastei.

          - Vai devagar - eu disse o encarando - está se empolgando demais.

          - Me desculpe - ele disse ficando um pouco envergonhado - Mas sabe Evelyn, com a idade que temos, é normal que aconteça algo a mais, já não temos só 15 anos.

          - Podemos nos casar antes? - disse nervosa, nunca havíamos falado disso antes - Não conseguiria fazer isso antes de casar, sei que é muito careta, mas...

          - Olha, tudo bem - Richard falou me interrompendo - Não quero que nenhuma etapa seja atropelada. Desculpe, mas é que eu te desejo muito, mais do que antes.

          Ficamos em silêncio. A verdade é que eu tinha medo. Medo de viver coisas novas, apesar de que só me imaginava vivendo isso com Richard. Talvez casar fosse ter que aceitar novas experiências.

          - Acho melhor eu voltar para casa, já está tarde - disse por fim, as coisas tinham ficado estranhas.

         - Tudo bem.

          Caminhamos até a minha casa num silêncio perturbador. Nunca havíamos ficado tanto tempo sem saber o que falar. Ele nem segurou minha mão, e foi estranho. Talvez eu tivesse feito algo errado. Quando chegamos, Richard ficou em dúvida se me dava um beijo de despedida ou não, então o beijei.

          - Sou sua noiva, pode me beijar - falei, e ele ficou sem saber o que fazer.

          - Não sabia o que ia achar, você está brava com o que houve - Richard me olhou inseguro.

          - Não estou brava. Só ainda não é a hora certa, eu acho.

          - Tudo bem, - ele me beijou na testa - tenha uma boa noite, se cuide.

          Richard foi embora e o clima tinha ficado estranho, fiquei pensando no que fizera, tinha medo de ter sido grossa. Entrei em casa e Dylan brincava no chão da sala com um caminhão azul de plástico.

          - Évlin!! - ele gritou correndo até mim, e me agachei para abraçá-lo.

         - Como está o meu lindão? - dei um beijo em sua bochecha.

         Minha mãe apareceu, então me trouxe a comida que tinha guardado para mim.

          - Vai jantar meu bem, está tarde - ela disse me entregando o prato.

          - Obrigada mãe.

          Durante o jantar fiquei pensando em como seria minha vida no futuro. Eu tinha medo daquilo que mais assusta as pessoas, a mudança.

 Eu tinha medo daquilo que mais assusta as pessoas, a mudança

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Só Mais Um Dia - Parte II Onde histórias criam vida. Descubra agora