Amanhecer

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          Fui me afastar de Dylan mas ele segurou minhas mãos que estavam na altura de seus ombros. Nos olhamos nos olhos por algum tempo, então ele prestou a atenção em meus lábios rosados.

          - Me desculpe, estou com raiva do meu ex-namorado e acabei descontando em você - falei desviando meu olhar.

          - Que maneira boa de se descontar - ele riu - se quiser eu posso fazer para você esses favores sempre.

          - É sério - eu o olhei -, foi idiotice.

          - O que tem de errado em você me beijar? Até onde eu sei vocês terminaram.

          - Mas eu não quero beijar alguém sem sentimento. Acho isso frio demais para vir de mim. - coloquei a mão em seu rosto - Estou muito confusa.

         Comecei a chorar, então Dylan me abraçou, fazendo com que eu apoiasse minha cabeça em seu peito. Foi então que começou a chover, porém continuamos abraçados. Eu podia ouvir seu coração, que batia calmamente, como uma melodia serena de piano e flauta. Fechei meus olhos por alguns instantes e pude notar que eu me sentia melhor.

         - Vamos sair daqui - ele disse andando comigo até um local tampado - Vai se resfriar.

         - Quem dera se minha única preocupação fosse uma gripe, - tentei ri -desculpa por deixar você me ver nesse estado.

          - Não se preocupe, não estou tão melhor assim. - ele riu com os cabelos caídos na cara, encharcados - Quero saber dos motivos que fazem você ficar chorando. Quer desabafar?

         - Te conheci hoje, não sei se...

         - Isso não te impediu de me beijar - Dylan sorriu -, certeza que não quer falar nada?

          Nos sentamos em uns bancos que achamos, então contei a ele sobre eu ter câncer, ter ficado 3 anos e meio em côma e como toda a minha vida mudou radicalmente depois disso. Ele me ouviu e secou minhas lágrimas algumas vezes, então quando terminei de falar ele apenas disse:

          - Minha mãe faleceu o ano passado. Eu sei como você se sente. Desde que ela se foi eu não paro em casa. Vivo para o trabalho porque perdi o entendimento do que é viver. Sinto como se todos os dias eu tivesse que sobreviver. Não sei como lidar ainda.

          - Sinto muito. - o abracei - Acho que a verdade é que não existe um ser humano que não tenha que lidar com algum tipo de frustração em sua vida. Parece idiota eu estar mal por causa de um garoto, mas não é só isso. Meu coração dói quando eu penso nas coisas que eu não pude viver por causa da minha doença. Existe um vazio de 3 anos na minha vida que nunca poderei preencher.

         - Não se sinta assim. Você tem muito tempo ainda. Mesmo que esteja doente, todo tempo que tiver pode ser aproveitado. Se desapegue do passado, eu tento fazer isso todos os dias. Por enquanto ainda parece impossível mas vou conseguir, só preciso deixar que o tempo cuide disso - ele deu um sorriso fraco.

         Ficamos conversando sozinhos ali até o amanhecer, o que foi lindo visto do Lago Serpentine. Sentia como se minhas lágrimas fossem levadas pelo lago, assim como minha dor.

 Sentia como se minhas lágrimas fossem levadas pelo lago, assim como minha dor

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