Três Semanas

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          Acredito que era de madrugada quando acordei. O quarto do Hospital estava escuro e silencioso, exceto pelo barulho dos grilos lá fora. A sensação era de que eu havia passado minha vida dormindo, e que não haveria mais ninguém me esperando. Eu estava com alguns tubos ligados a mim, e usava uma camisola horrorosa que fazia com que eu sentisse um pouco de frio.

          Olhei para o lado, havia um relógio. Eram exatamente 4h30 da madrugada, o que significava que logo amanheceria e eu poderia perguntar a alguém o que estava acontecendo. Meu cabelo estava bagunçado e parecia maior. Quanto tempo eu teria perdido? Às vezes acreditava que a morte poderia ser um alívio permanente de tudo que era obrigada a passar.

          Finalmente o tempo passou e eram 6h00 da manhã. Uma enfermeira entrou no quarto e se assustou ao me ver acordada. Ela usava a roupa padrão do Hospital, prendia os cabelos num coque muito bonito e usava sapatos laranjas. Por quê laranja?

          - Evelyn, como se sente querida? - disse vindo até mim e me analisando brevemente - Há quanto tempo está acordada?

         - Me sinto bem - disse enquanto ela anotava algumas coisas na plaqueta - Que dia é hoje?

         - Hoje? Dia 23 de maio, querida. Não se preocupe, ficou apenas 3 semanas "fora". Foi necessário para sua recuperação.

         - O que aconteceu comigo? - eu a olhei chocada - Quer dizer, meu quadro estava estável e de repente isso acontece?

          - Querida, a médica virá falar com você, não se preocupe, vou chamar sua mãe também. Por agora não se preocupe com nada. Já volto, tente não se aborrecer com nada.

         Ela saiu da sala sem falar mais nada. Como assim eu tinha dormido 3 semanas? E onde estava Richard? Violet? Precisava ver alguém. A dor que eu sentia toda vez que quase morria me fazia refletir sobre se era realmente necessário continuar tentando manter viva. De repente Richard apareceu na porta do quarto e uma lágrima desceu de seu rosto. Usava uma calça jeans velha e uma blusa desbotada, parecia exausto e estava com o cabelo bagunçado. Ele foi até a mim e se ajoelhou ao meu lado. Seguramos nossas faces.

          - Não posso mais fazer isso com você - eu lhe disse olhando no fundo de seus olhos -, Richard você merece algo melhor. Merece alguém que consiga te amar sem prazo de validade. Alguém que você não tenha medo que evapore, que escape do seus olhos sem que você tenha como impedir. Eu te amo...

          Richard me beijou impedindo que eu dissesse mais alguma coisa. Sentia falta de estar com ele, de seu abraço, do seu toque. E por mais que eu quisesse que ele fosse feliz, sem ter que sofrer comigo, provavelmente ele era a única coisa que ainda me fazia querer continuar vivendo. A única coisa que mantém meu corpo buscando a vida.

          - Evelyn, você não vai se livrar tão fácil assim de mim - disse Richard apertando minhas mãos - ainda viveremos muita coisa juntos.

         Dra. Emma e minha mãe entraram no quarto. Richard se levantou para que minha mãe pudesse me abraçar, ela também parecia muito abatida.

         - Evelyn! - ela disse me abraçando - Meu amor, nem acredito que acordou - seus olhos se encheram de lágrimas.

         - Estou aqui mãe - falei a abraçando forte - não sei por quanto tempo, mas ainda estou aqui - pensei.

         Minha mãe me deu um beijo na testa e me soltou. Dra. Emma parecia séria e o que quer que ela ia dizer, parecia difícil demais para ser dito. Ela pediu para que minha mãe se sentasse. Fiquei nervosa.

        - Evelyn seu quadro piorou. O câncer teve um avanço repentino e infelizmente vamos ter que começar uma quimioterapia com urgência, antes que se espalhe para outros órgãos, pode ser que seu cabelo volte a cair... - Dra. Emma suspirou - sinto muito querida, mas vamos fazer o possível para que tenha sua vida de volta.

          Senti meu coração acelerar, não imaginava um futuro para mim, por mais que eu quisesse.

          Senti meu coração acelerar, não imaginava um futuro para mim, por mais que eu quisesse

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