Me Olhe Nos Olhos

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          Cheguei no Hospital ofegante e nervosa. Eu que finalmente tinha conseguido reorganizar meus sentimentos, agora senti que eles haviam desabado novamente. Fui até a recepção tentando conter o nervosismo.

         - Quero ver um paciente - me confundi um pouco, então respirei fundo -, o nome dele é Richard Acker.

         - No que ele deu entrada no Hospital? - a mulher de cabelos castanhos e olhos escuros me encarou.

        - Ele sofreu um acidente, eu não sei bem o que aconteceu.

        - Sei quem é. - ela disse pesquisando no computador à sua frente - A senhorita não vai poder falar com ele agora, mas a família dele está na sala de espera, caso queira dar um apoio.

        - Obrigada.

         A sala de espera estava lotada. Por um momento me perdi com tantos rostos na multidão, então consegui ver a mãe de Richard. Fui até ela um pouco apreensiva, eu com certeza não era a pessoa que ela mais adora no mundo.

         - Oi Sra. Acker. - eu a olhei e percebi que seus olhos estavam inchados de tanto chorar.

         - Evelyn! - ela disse me abraçando forte, o que me deixou muito surpresa, então tornou a chorar.

        - O que houve com o Richard? - perguntei aflita logo depois que ela se afastava e secava as lágrimas com um lenço.

         - E-Ele estava bêbado - lágrimas voltaram a cair de seus olhos - e bateu o carro.

         - Richard bêbado? O que aconteceu com ele? - a encarei.

        - Minha filha eu não quero cometer o mesmo erro outra vez te culpando, mas desde o dia em que vocês terminaram ele não tem sido o mesmo. Na verdade, desde quando você entrou em côma Richard tem se isolado e só estudado. Mas sobre o álcool... Eu não sei, meu filho nunca foi de beber...

         - Vai dar tudo certo Sra. Acker - passei a mão em seus cabelos escuros - Richard vai se recuperar. Eu vou ficar aqui com você e...

        - E minha irmã - ela chamou uma mulher loira que usava roupas muito elegantes e não parecia estar abalada -, Cassandra está aqui me apoiando. É a mãe de Sophie.

         - Tão arrogante quanto a pequena Sophie - pensei -, Que bom que tem alguém te acompanhando. Eu vou ali tomar um café e já volto - falei saindo.

        Tentava por tudo não chorar, mas sentia que todo o meu corpo dissolvia por dentro. Mesmo que eu não fosse mais a namorada de Richard, ele sempre seria uma parte importante de mim, até mesmo uma parte de quem eu sou. Ele foi meu primeiro amor, foi com ele que beijei pela primeira vez e também vivi com ele momentos que despertaram dentro de mim verdadeira ternura. Richard foi a única pessoa que tinha conseguido fazer com que eu me sentisse viva, mesmo sabendo que eu estava e ainda estou morrendo todos os dias.

        Fui na máquina de café e comprei um para mim, então sentei numa das cadeiras que ficavam em frente. Por um momento achei que não havia som ao meu redor, e me senti completamente só. Bebi o café lentamente, deixando com que o gosto doce e quente descesse aos poucos pela minha garganta.

        - Evelyn! - ouvi a voz de Richard me gritar, então me virei para olhar e me deparei com ele me olhando atordoado.

         Usando uma roupa branca ele me encarava aflito. Levantei para tocá-lo e me surpreendi por não conseguir. Talvez ele também estivesse passando pela mesma experiência que eu de ficar fora do corpo enquanto estava inconsciente, mas se isso fosse verdade, com poderia vê-lo?

         - "Porque não há nada mais puro que eu consiga sentir
A cada passo sinto que atravessaria o céu para te encontrar
Pois te ver é o momento que mais me faz sorrir
Portanto o que mais sonho é poder te amar"- ele sussurrou essas palavras em meus ouvidos, então sorriu e desapareceu rapidamente.

         Uma lágrima deslizou pelo meu rosto. O que tinha acontecido com ele? Joguei o resto do café fora e corri até onde a mãe de Richard estava. Ela estava chorando muito.

        - O que aconteceu? - perguntei assustada.

        - Richard está morrendo! Falaram que vão nos deixar vê-lo pela última vez! - ela gritou.

        Saí correndo até o quarto de Richard e entrei sem permissão. Ele estava inconsciente e muito machucado, com o olho roxo, os braços cheio de pontos e vários ematomas pelo corpo.

        - Sei que você pode me ouvir - segurei sua mão -, você precisa saber que eu te amo. Desculpa por ter te deixado ir, mas acreditei que era o melhor para você, para nós. Eu não consigo entender o porquê de tudo isso estar acontecendo com nós dois. Lembra de quando você me pediu em namoro e eu só respondia com "talvez"? Saiba que não vou te abandonar, isso é certeza. Sei que você consegue, guitarrista.

        Quando disse isso, senti a mão de Richard apertar a minha de leve. Ficaria ali com ele, do mesmo modo que ele sempre me apoiou quando eu estava no hospital. Ficaria ali pelo menos até que eu pudesse o olhar nos olhos outra vez.

 Ficaria ali pelo menos até que eu pudesse o olhar nos olhos outra vez

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