Capítulo 1

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Agora

- Então, depois que perdeu sua mãe em um acidente de carro, você começou a se esforçar para redimir a assassina, que agora está com amnesia, e conheceu um novo garoto no colégio, de quem esconde sua atração para proteger os sentimentos de uma amiga. Depois descobriu que o garoto estava sendo caçado pela CIA e uma das agentes dessa instituição estava, por acaso, tentando namorar seu pai... E amedrontada porque o garoto é um lobisomem.

Uma longa pausa se instalou. Atentei-me ao resume que ela havia apresentado, verificando os itens daquela lista repleta de acontecimentos bizarros aos quais minha vida havia recentemente sido reduzida.

- Você se esqueceu do envolvimento da com a máfia russa e do tiroteio de que participamos.

Olhando para sua prancheta, a Dra. Jones respondeu:

- Sim. Eu esqueci - em seguida, ela anotou algo e, então, brincou com a caneta, colocando-a de forma definitiva sobre a mesa larga e negra - Bem, parece que nosso tempo chegou ao fim. Seu relato certamente é fascinante - comentou, confirmando o que eu já sabia muito bem - Mas...

Eu me sentei, o sofá de couro rangeu logo atrás de mim. Lancei para ela um olhar que claramente dizia: Mas o que? Eu tinha falado muito.

Embora eu detestasse admitir, os orientadores do colégio estavam certos. Era bom expressar tudo aquilo para um profissional objetivo.

Portanto esperei, olhando com expectativa para aquela médica diante de mim. Não me restava duvida de que ela poderia dizer mais do "mas", depois de tudo o que havia confessado.

- ...se você quer superar o trauma causado pela morte de sua mãe, o que é, na verdade, o ponto central da sua situação, terá que dizer a verdade aqui

Ela se levantou, repuxando os lábios . Dizer a verdade? Eu tinha dito tudo. Eu tinha arriscado os Rusakovas para salvar minha sanidade. Sanidade que, por sinal estava desmoronando.

Não consegui me conter e comecei a rir. Ri tanto que cheguei a ficar sem ar.

Eu poderia contar em uma das mãos as vezes que disse a verdade durante os dois meses desde que tinha conhecido Pietr Rusakova. Mentiras? A expressão"já tinha perdido as contas" adquiriu um significado especial.

Mas... Tentar finalmente dar um jeito a situação e ser repudiada? Isso não era exatamente o que eu esperava. Ela piscou para mim.

- Estou falando sério Jéssica. Máfia Russa? Agentes do governo? Lobisomens? - disse ela rindo - Acho que eu devia agir como os outros psiquiatras e prescrever cegamente algum remédio com um nome novo e interessante. Mas quero ajuda-la a melhorar, e não simplesmente medica-la. Quero que você volte a realidade.

- Você não acredita no que eu digo?

- Minha opinião profissional é que você está brincando comigo. A maioria dos jovens se fecha na primeira visita ou evita o centro dos problemas. Mas você... - ela lançou um olhar sobre a prancheta. - Você é editora do jornal da escola. Certamente é inventiva. Por conta disso, escolheu o outro caminho: exibir um traço admirável de sua criatividade. Não tem problema, eu seu muito bem tolerar esse tipo de porcaria

A voz da médica ficou baixa e ela amassou o canto do papel com notas recém tomadas.

- Temos que ser assim quando trabalhamos com jovens - ela murmurou - Você não é mais cheia de ilusões do que um adolescente comum

- Eu mato um homem

Meu Deus! Com todas as notas que aquela mulher parecia tomar, ela não estava me ouvindo?

- Sim Jéssica, você já e disse isso. Mas onde está o corpo, querida? Eu esperaria que alguma evidência do "banho de sangue", como você descreveu a situação, fosse vista por alguém. Por que não apareceu nada nos jornais?

- Eu já disse. Os agentes chamaram um... - mordi meu lábio inferior. Por que as palavras certas não apareciam quando eu precisava delas? - Uma equipe de limpeza.

- Sim, os agentes - ironizou a médica, usando os dedos para fazer gestos de aspas no ar - Inclusive... - ela olhou as paginas na prancheta até encontrar - Inclusive Wanda, a bibliotecária

- Ninguém da às bibliotecárias os créditos que elas merecem - comentei nervosa - Sim ela trabalha no departamento de referência e é uma agente armada do governo.

- É claro - disse a Dra. Jones ainda sorrindo - Tão... Inventável! E provavelmente com um número enorme de livros atrasados, o que a faz ser muito criativa a respeito de bibliotecárias. Interessante...

Eu não tinha ideia do que mais podia dizer. Realmente já tinha dito tudo.

- De qualquer forma, é o seu plano de saúde que cobre as sessões. Você decide se quer desperdiça-las com fantasias.

Ela se virou para olhar pela janela, um sinal claro de que estava me dispensando. Eu me levantei, pendurei minha bolsa sobre o ombro e caminhei em direção a porta, tão confusa quanto quando cheguei.

Eu tinha decidido voltar ao me normal. Terapia regular. Uma vida sem mãe. Nada de voltar a me envolver com tiroteios contra a Máfia Russa. Praticamente nenhuma presença da CIA. E um lobisomem mais-ou-menos-namorado que ainda estava saindo com Sarah, minha amiga-não-muito-estável, em uma tentativa de evitar que aquela situação desencadeasse seu retorno a psicose absoluta.

Certo. Então meu normal não estava nem próximo do que era considerado normal de acordo com padrões de outras pessoas. Mas era o melhor que eu podia fazer.

Voltei a andar a cavalo e a realizar minhas tarefas na fazenda, além de tentar me manter em dia com as aulas e trabalhar para o jornal do colégio.

Eu ainda tinha meus amigos. Amy me apoiava, e Sophia, bem... Sophia estava sempre por perto, a ponto de me fazer reconhecer que ou ela se importava, ou estava fascinada com a tragédia que parecia continuamente cair sobre mim. E havia Sarah, lindamente angelical e que tinha consigo tão pouco de sua memória original que era quase seguro estar de volta dela. Ou pelo menos isso era o que eu esperava.


Primeiro capítulo, o tão esperado capítulo. Segurem o coração que vem muitas coisa por ai viu.

Bjs Pri.

O segredo das sombras (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora