Capítulo 40

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De volta a casa dos Rusakova, rapidamente nos esquecemos do trabalho de Biologia e demos início a uma discussão.
- Eu só acho que...
Amy sacudiu a cabeça.
- Não se deixa um cara como Marvin assim, de uma hora para outra.
- Por que não? - suspirei.
- Ele fica louco sem mim. Ele precisa de mim - afirmou Amy. - Deixá-lo vai piorar ainda mais as coisas. Veja, não estamos falando de uma situação em que só há preto e branco - insistiu.
- Não. Preto e roxo - gritei.
- Marvin me ama. Ele só fica fora de controle as vezes.
- Você viu como suas costas estão?
- Você não pode estar falando sério. Com que frequência as pessoas olham para suas próprias costas? É por isso que as piores partes do nosso corpo estão nelas... Para que não vejamos.
- Isso não é... - olhei para Pietr e Max, que estavam deitados entre nós no tapete e forçaram um sorriso ao perceberem a lógica de Amy.
- Isso não é nada engraçado. Ele está ferindo você. Não tem nada de engraçado nisso!
Max concordou sombriamente com a cabeça. Pietr desviou o olhar. Em seguida, bufou, admitindo:
- Eu estava pronto para...
- Para dar a ele o maior susto da sua vida - concluiu rapidamenre Pietr, lançando um olhar de repreensão para Max.
- Da - urrou Max, deitando-se novamente. - Pravda. - ele rolou no chão e então se levantou, apoiando o peso do corpo nas mãos e nos joelhos enquanto seguia até o assento de Amy. Os músculos de Max se tencionavam, deixando marcado o movimento que fazia sob sua camiseta de algodão. Mesmo ali, completamente humano, eu via tão claramente o lobo que havia em Max. E realmente não sei como Amy não percebia aquilo. - Joga-lo contra o chão - rugiu, colocando uma mão de cada lado do sofá de dois lugares onde Amy estava sentada e ajoelhado de modo que seus narizes se encontrassem.
- Eu... - ela engoliu em seco, hipnotizada pelos olhos de Max.
- Você precisa de um motivo? - disse ele, com voz rouca.
Ajeitei-me em meu assento e desviei o olhar, ciente de que estava vendo o início de algo extremamente pessoal. Porém, meus olhos continuavam voltando para eles: minha melhor amiga e o irmão mais velho (e definitivamente gostosão) de Pietr.
Amy ficou congelada, hipnotizada, enquanto Max se inclinou e a beijou. Como se a conhecesse. Como se estivesse fazendo alguma promessa apaixonada com seus lábios.
Mais difícil do que assistir era não assistir.
Pietr limpou a garganta quando me viu observando aquilo.
Max se afastou, lenta e suavemente, inclinando e olhos sempre fixos no rosto de Amy, que passava de um rosa suave para um vermelho profundo.
- Preciso de mais do que isso - ela murmurou.
Max se aproximou novamente...
- Não! - ela foi empurrando-o para que ele ficasse de pé. - Eu não estava falando disso. Seu cachorro! - provocou.
- Você nem imagina... - disse Pietr bocejando.
Max inclinou o corpo novamente.
- De que você precisa para se livrar dele?
Pietr sugeriu uma retroescavadeira.
Amy olhou para mim em busca de ajuda, mas eu cruzei os braços.
- Dê o seu preço. É claro que Max vai te dar... - sacudi minha mão no ar - isso quando você precisar. Mas de que você realmente precisa para se defender de Marvin? Para colocar um ponto final nisso?
Amy brincou com os dedos e mordeu o lábio inferior. Fechou os olhos por um momento. Quando eles se abriram, estavam aflitos e transmitindo uma sinceridade explícita.
Max colocou sua mãe sobre a de Amy, acalmando-a.
- De que você precisa?
Eu nunca tinha visto olhos tão tristes. Embora ela tenha respondido "proteção e um lugar para dormir", ouvi o pedido por um herói escondido em sua voz. O seu rosto demonstrava uma angústia que ela devia estar escondendo há semanas. Ela empurrou a mão de Max, deixando o corpo cair para frente, cabeça sobre os joelhos. Tremeu em um único soluço, cobrindo a cabeça com as mãos.
Max olhou para mim, assustado. Perdido.
Eu o encarei. Um belo "pegador", Max sabia como fazer as garotas formarem fila. A última coisa que Amy precisava naquele momento era de entrar em uma fila com outras garotas. Pensei em Stella Martin. Como ela se sentiria se Max a dispensasse? Se sentiria como Sarah, se Pietr me escolhesse. Devastada e traída. Droga.
Amy precisava de um herói e, por mais que eu tivesse esperança, duvidava de que Max estivesse pronto para o trabalho. Ainda não.
- Com licença - disse eu, empurrando-o para o lado. Passei meu braço em volta de Amy e acariciei seus cabelos. - Você vai ter isso - prometi. - Nós vamos dar um jeito. Vai ficar tudo bem.
Ela soluçava em meus braços. Uma gatinha, e não a tigresa com quem eu tinha crescido. A garota que eu sempre pensei que entendesse.
Max se escondia em um canto. Suas costas estavam rigidas; seu queixo, levantado. Eu me perguntava em que ele estaria pensando.
E então vi uma corrente brilhar em volta de seu pescoço e percebi que, por mais que ele desejasse Amy, não queria que ela viesse até ele como as outras garotas vinham. Talvez ele estivesse mais perto de fazer o papel de herói do que qualquer um de nós imaginava.

O segredo das sombras (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora