Capítulo 24

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No dia seguinte, sem nenhum sinal de Pietr por perto, Sarah me pegou entre as aulas e me arrastou até o banheiro feminino. Desde que Pietr chegará a Junction High, eu passava tanto tempo nos banheiros do colégio que achava que devia começar a pagar o aluguel.
Até mesmo a maquiagem perfeita de Sarah (Sim, eu me dei conta, assustada, de que ela voltara a usar maquiagem) não conseguia esconder as bolsas escuras sob seus olhos.
- Há algo sobre aquela noite que você não me disse?
Droga, droga, droga! Qual noite? Eu havia inventado uma série de mentiras, em especial sobre as noites recentes. Agora precisaria descobrir sobre qual noite ela estava falando. Eu estava cansada demais para tentar adivinhar. E uma coisa que ninguém nos diz: mentir não é apenas moralmente errado, mas também me deixava exausta.
- Qual noite?
Houve um pequena mudança em seus olhos, como se alguém nos espiasse ao fundo. Amy entrou no banheiro assobiando.
- Oi. Ouvi que você estava por aqui - disse Amy olhando para mim. Em seguida, jogando seus longos cabelos vermelhos e estalando os dedos, ela olhou para Sarah. ESarah ignorou.
- Dezessete de julho. A noite em que sua mãe morreu.
Amy voltou a assobiar, deu meia volta e retornou ao corredor. Ou talvez a aula. Algumas de nós ainda tentávamos chegar a sala de aula de tempos em tempos.
- Huuuum.
Havia muita coisa que eu não tinha dito a Sarah sobre aquela noite. Como o fato de que ela tinha causado o acidente. Ou o fato de que eu a tinha a arrastado, inconsciente, para fora do carro, garantindo sua segurança, porque minha mãe me dissera para fazer aquilo. Ou que, ao salvar a vida de Sarah, deixei que minha mãe morresse em meio ao fogo. Ou que eu prestasse Sarah era, basicamente, o último desejo de minha mãe.
Caramba! Eu esperava que minha mãe não tivesse se apegado a esse desejo.
Por onde começar? A verdade parecia estranhamente escondida debaixo de montes de mentiras. E  que bem a verdade faria quando Sarah estava prestes a voltar a ser aquela pessoa desagradável de antigamente? Conhecer a verdade a ajudaria ou a feriria?
E como eu pude me atrever a tentar transforma-la em uma pessoa melhor? Ela parecia bastante contente sendo malvada. Em que ponto meu desejo de fazer Sarah "melhor" tornou-se um estranho complexo de Deus? Ela não devia conhecer a verdade, fazer sua escolhas?
Esfreguei minha mão na testa, uma dor de cabeça ameaçava surgir.
- Está bem. Existe, na verdade...
O alarme de incêndio soou.
- Merda! - exclamou Sarah.
Meu coração acelerou. A nova Sarah sabia fazer escolhas lexicais. Por que usar palavrões quando você podia ser criativo sem descer o nível? Porém, a Sarah original... tremi.
- Vamos.
Caminhamos até o hall e fomos rapidamente separadas pelos grupos de pessoas que evacuavam as salas de aula.
Já do lado de fora, sob uma forte brisa, eu me perguntava se o alarme de incêndio não era alguma intervenção cósmica peculiar. Talvez, afinal de contas, eu não devesse dizer nada a Sarah. Ou talvez não por enquanto. Droga! Se o alarme de fogo era um sinal, não podia ser mais claro?
Eu pulava em uma tentativa de manter meu corpo aquecido. Os rumores se espalhavam em meio à multidão. "...alguém a aula de Beany Belden acendeu um fósforo"; "um problema elétrico"; ...A biblioteca pegou fogo...".
Meu QI diminuía conforme eu ouvia.
Max apareceu, seguido por aquela manada de garotas trabalhando. Ele se posicionou atrás de mim e me envolveu com seus braços. Meu corpo enrijeceu.
- O que você está fazendo?
- Você parece fria.
- Assim como metade das garotas aqui. E você vai chegar mais longe com elas do que comigo - assegurei-lhe.
- Nossa Jessie! Dê algum crédito para um garoto - Ele murmurou. Senti sua boca tão perto que seu hálito esquentou minha orelha.
- Aaaah, eu dou crédito para você Max - respondi - Mas isso não significa que eu entenda por que você está atrás de mim.
Ele abaixou a voz, seus sussurros eram tão tangíveis quanto o esfregar da língua de um gato sobre a pele. Ignorei aqueles arrepios que surgiam em meu braços como resposta.
- Veja. Às duas horas.
Olhei para frente e para minha direita.
Pier envolvia o corpo fraco de Sarah em seus braços. Ele olhou em nossa direção. Seus olhos tinham um brilho vermelho fraco
- Poderíamos deixá-lo com ciúmes - ofereceu Max - É um jogo meio sujo para fazermos com .Eu irmãozinho, mas... - ele bocejou. É eu sabia que seus olhos estavam adotando um aspecto de sonolência, de alguém muito a vontade. O que algumas pessoas velhas chamariam de olhar 43.
Eu já tinha visto Max fazer esse tipo de jogo antes. Mesmo sem olhar, eu sabia que Pietr tinha visto.
- O que você diz? - resmungou Max - Talvez um beijo...?
- Não seja atrevido. Além do mais, eu não quero que ele sinta ciúmes. Quero que ele seja inteligente.
O riso de Max fez meu corpo estremecer. Seu corpo estava próximo das minhas costas
- Boa sorte com isso - Ele tentou me intimidar - Pietr tem dezessete anos. Ele tem uma namorada que se joga na frente dele. Não vai ser fácil ser inteligente. - O tom de voz de Max mudava ligeiramente - Por que você não empurrou meu irmão para sua outra amiga? Amy? A ruiva boazuda. Nos poderíamos separa-los e eu ofereceria meu ombro para ela chorar.
- Amy está com Marvin.
- É. Eu percebi - disse Max de forma monótona. Ele se aconchegava cada vez mais, e eu resistia a vontade de dar-lhe uma cotovelada nas partes íntimas. - Ela é uma delícia.
- Deixa Amy em paz Max. Ela está feliz com Marvin.
- E se não estivesse?
Eu rosne.
- Isso é sexy! - ele ronronou como se houvesse um cortador de grama em seu peito.
Na frente da multidão, os professores faziam sinais para que voltaremos para dentro da escola. Suspirando, distanciei-me de Max e ignorei os olhares enciumados de suas groupies.
- Então nada de deixar Pietr com ciúmes? - ele tentou novamente.
- O que você faria no meu lugar Max?
Ele desviou os olhos de mim por um breve instante, mas pude observar o caminho de seu olhar.
- Não sei Jessie.
Guiando seu grupo de admiradoras, Max se distanciou.
Abanei a mão para o casal que ele olhou antes de sair. Amy se soltou do braço de Marvin e acenou de volta para mim.

Eu observava do lado de fora do consultório do conselheiro Maloy. Não demorou muito para ele pedir para me ver, perguntando o que havia de errado. Deixei claro. Eu queria conversar com alguém sobre meus problemas. Não com ele. Conselheira Harnet, por favor.
Ele assinou meu passe, aliviado. Pelo menos eu não seria mais problema de Maloy e ele poderia voltar sua atenção novamente a preencher testes exigidos pelo estado, ciente de que, de tempos em tempos, alguém saberia o que eu estaria fazendo. Ele também registraria isso com clipes de papel coloridos.

Na manhã de sexta-feira, um vento varria Junction, oferecendo-nos um vislumbre do poder do inverno que estava por vir. Corri do ônibus direto para as portas duplas de vidro do colégio, desviando de pessoas que aparentemente não estavam sendo afetadas pelo frio.
Porém, aquele frio que acompanhava o vento não era nada assustador quando comparado com o abraço de boas vindas de Sarah e Pietr trocaram dentro do colégio. Aquilo não devia me surpreender, mas, de alguma forma, acabou me surpreendendo.
As portas se abriram com meu toque. O ar frio passou por mim, empurrando meus cabelos, entrelaçando-os nos dedos gelados do outono. O mesmo vento que me sacudiu também passava pelas mechas repicadas que se apoiavam sobre os olhos de Pietr.
Ele levantou a cabeça na direção do vento, dilatando as narinas enquanto seus olhos fechavam, ignorando o mundo. Alguma coisa se prendeu em seu rosto, e ele se inclinou na direção de Sarah, murmurando. Ela riu. Ele tocou no nariz, nos lábios, nos cabelos loiros que caiam pelo rosto e pelo pescoço magro de Sarah.
Onde estava o treinador Mac e seu apito de caça às demonstrações públicas de afeto? Eu desviei do caminho dos outros alunos, mas não conseguia fazer meu okhar desviar de Pietr. Ele olhou para mim, segurando seu olhar demoradamente. Seus olhos cintilavam o vermelho do fogo do inferno. O cheiro dela, o gosto dela descia queimando a garganta dele. Descansava em seus pulmões.
Aquela foi a primeira manhã em que procurei Derek. E só precisei de alguns momentos para encontrá-lo. Ele conversava com Marvin e, então, levantou o olhar. Assim que me viu, era como se nada ais importasse.
Eu deixei que ele me levasse até um canto quieto e mal iluminado próximo da sala de matemática. E não o impedi quando ele tentou me beijar. Em vez disso, envolvi seu pescoço com meus braços e ali me apoiei, deixando seus lábios sufocarem os meus, o tempo todo desejando que ele fosse Pietr.

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Sem revisão... perdão pelos erros.

O segredo das sombras (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora