Na manhã seguinte, no ônibus, Pietr me cumprimentou de longe, mas não retirou a mochila do assento ao seu lado. Mês assim, sentei-me ali olhando para a barreira irregular.
- Veja - disse Eu, afastando meu cabelo para mostrar o sinal amarelado fraquíssimo da ferida que já desaparecia - Quase passado.
Ele assentiu com a cabeça, fazendo um movimento seco. Seus olhos continuavam escuros. Turbulentos. Conturbados.
- Estou bem.
Entendi a mão para ele. Pietr recuou e forçou seus lábios a formarem um sorriso.
- Você vai ficar - ele concordou, logo se virando novamente para encarar a janela.
Naquele dia, Sarah dei três beijos em Pietr. Em um beijo particularmente longo, ela entrelaçou os dedos naqueles cabelos escuros para melhor captura-lo. Ele não parecia demonstrar muita resistência. Provavelmente estava distraído.
Eu tinha esperanças de que fosse porque as coisas estavam indo bem na busca por sua mãe. Mas, caso fosse isso, ele não tinha me contado.De volta a minha casa, eu alternadamente fazia Rio galopar ou trotar com velocidade mais lenta, ocasionalmente deixando -a andar livre pelo pasto enquanto Hunter e Maggie observavam em silêncio. Durante todo o tempo, em pensava em Pietr. E em sua família. Eu não podia imaginar o que era ter a mãe viva e não conseguir chegar até ela... Não conseguir vê-la, abraça-la, beija-la... Até mesmo brigar com ela.
Eu não me sentiria bem no lugar deles, esperando até que outra pessoa decidisse quando ou se eu poderia ver minha mãe. Não era de se surpreender der que eles fizessem buscas durante a noite, procurando-a enquanto esperava a permissão para finalmente poder visita-la.
Movimento a rédea, encorajando Rio a andar.
Obviamente, se eu tivesse a opção de ver minha mãe uma última vez ao invés de saber que ela partiu para sempre, eu esperaria o tempo necessário para estar com ela novamente.
Voltando para o celeiro, ajustei-me na sela e pude ver alguém apoiado na cerca que delimitava a Fazenda. Fiz Rio ir mais devagar, em uma caminhada lenta, enquanto me perguntava por que ele estava ali.
Derek acenou para mim e se endireitou, a brisa brincava com seus cabelos suaves e louros.
Rio gritou na direção dele e eu fiz um sinal com a cabeça. Meu rosto deve ter demonstrado minha confusão.
- Oi - olhei para a estrada. Mercedes. Nada de caminhonete. Não faria sentindo dizer para ele que eu não podia receber visitas.
- Estive pensando que você realmente deveria voltar a competir.
- É mesmo? E por isso que você está aqui?
- Não só por isso. Mas o Golden Jumper está chegando.O Golden Jumper. O maior tornei da nossa região.
- Está tão perto que não consegui me inscrever.
- E daí? Chuck e Lucy são velhos amigos da minha família.
- Charles Overton e Lucinda Walsingham?
- Os próprios - Derek sorriu ao perceber que eu estava boquiaberta - Enfim, se você quiser competir, posso telefonar e pedir um favor... - ele passou a mão pela cabeça. Seus cabelos curtos brilhavam.
- Sério?
- Sério!
- Bem... Hum... Sim. Por favor. - acrescentei. O tempo até Golden Jumper me forçaria a manter minhas atenções em treinar. - Legal. E para que mais você veio?
- Quero aprender a cavalgar - ele confessou, cabisbaixo, repentinamente.
Por mais que minha "fase Derek" tivesse passado, eu não podia deixar de admitir que ele tinha algo especial.
- Se existe alguém suficientemente paciente para me ensinar, esse alguém só pode ser você.
Aquele sorriso me deixava deslumbrada. Senti minhas bochechas esquentaram.
- Na verdade, eu não costumo dar aulas - aleguei - Bem, ensinei uma vez em um acampamento... Mas era uma aula de nove anos. Francamente, eu me sinto mais a vontade ensinando coisas para os cavalos do que para os humanos.
Eu ainda estava sobre Rio quando Derek estendeu a mão para tocar em minha perna.
- Então pense em mim como um potro precisando de uma mão firme.Enrubesci. As imagens de Derek passavam por minha cabeça como excertos de um filme antigo. Derek jogando futebol Americano no parque. Com o uniforme da equipe. Derek na piscina municipal com sua sunga azul-marinha, a água respingando de seu cabelo. Derek sorrindo para mim. Derek me beijando no jogo do Homecoming.
- Em que você está pensando? Seu sorriso está indo de uma orelha a outra.
Constrangida, percebi que pensava em Derek como um pão, e não um potro. Suas mãos se distanciaran e eu limpei minha garganta, fazendo o pensamento desaparecer. - Acho que ensinar seria bom para o meu currículo quando eu quiser ir para faculdade, mas aprender requer tempo.
- Qualquer aprendizado leva tempo.
- E, por mais que eu quisesse...
- Posso pagar.
- Eu não... - porém, a ideia de recebe dinheiro adicional quando a fábrica de meu pai estava passando por problemas... sem um bônus de Natal, o dinheiro realmente funcionava como uma isca.
- E posso pagar bem - acrescentou Derek, piscando com um olho.
Em qualquer outro momento, meu orgulho teria entrado em cena e eu teria me dado conta do que estava acontecendo. Além disso, independentemente da receita adicional, o que Pietr diria?
Mordi meu lábio inferior. Pietr não tinha falado muito sobre nada nos últimos dias. E Derek tinha me dado aquele olhar... E oferecido uma pilha de notas como se nada fossem.
- Está bem.
Eu poderia convencer meu pai disso. Era trabalho, e não diversão.
E eu poderia ser uma profissional. Seria a instrutora de Derek. Não era como se estivéssemos começando um relacionamento. E daí que ele era minha antiga paixão.
- Está bem. Duas vezes por semana. Você escolhe os dias.
- Terças e quintas - disse Derek sem hesitar.
- Ele vai... - Derek fez uma pausa, olha do para meus olhos enquanto oferecia a mão para me ajudar a descer de Rio.
- O que?
- Pietr vai criar problemas? - perguntou - Sei que há algo entre vocês. Embora Sarah não tenha se dado conta.
- Não - segurei a mão de Derek, mas não me senti segura com relação aquilo que tinha acabado de dizer. Passei minha perna sobre a sela. As imagens invadiam meu cérebro novamente, ofuscando minha visão e confundindo minha percepção. Eu só via uma coisa claramente. Pietr beijando Sarah. Meu corpo caiu para frente, e Derek me segurou, e me abraçou, deslizando meu corpo lentamente para sua frente até que o ar ficasse preso em minha garganta e meus sapatos tocassem o chão. Nariz contra nariz, ele sorriu para mim.
- Não quero lhe causar problemas - confessou - Mesmo achando que você merece muito mais do que Pietr Rusakova. - Derek me soltou - Terça-feira - disse caminhando de volta ao seu carro.
Sim.
Certamente não haveria problema algum.🐾🐾🐾🐾🐾
- Sinto muito por você ainda estar de castigo - disse Sarah, sans Pietr, no corredor em uma manhã.
Será que havia alguém que não soubesse que eu estava de castigo?
- Então, como foi seu rendez-vous com Max, garotinha sem pudor? - ela me provocou.
Sério? Essa era a fofoca que explicava o motivo de eu estar de castigo? Minhas noções de aplicar maquiagem certamente não eram tão boas, ou então a CIA poderia entrar em contato comigo a qualquer momento para trabalhar com disfarces. Eu mantinha meus ouvidos fechados ao que as outras pessoas cochichavam, mas os rumores voavam por Junction com a mesma velocidade que o capim crescia no verão. Recusei-me a demonstrar que estava assustada.
- Foi tão surpreendente para mim quanto foi para você.
- Vocês estão saindo?
Pietr apareceu, carregando a mochila de Sarah junto com a sua. Ele me observou por um momento É, em seguida procurou pelo relógio mais próximo. Eu me fiquei em Sarah. Ela está a sorrindo. Sendo solidária. Inferno!
A mão dela deslizou pela dele e então ela as balançou suavemente. Casualmente. Como se eles estivessem mesmo juntos.
Inferno!
- Max e eu não faríamos certos juntos - meu olhar se desviou para Pietr e fixei meus olhos nele enquanto completei a frase: - Embora ele seja extremamente sexy.
Pietr não deu sinal algum de que estava ouvindo. Ele já não olhava mais para mim, mas observava o relógio. Outra vez
- Desculpe, mas Max é um pedaço de mau caminho - Sarah passou seu braço por dentro do meu e suspirou, apoiando-se no meu corpo - Tem alguém esperando por você por aí Jessica. Mais perto do que você imagina.
Segui o olhar de Sarah pelo corredor.
Derek estava de pé, iluminado pelo sol forte do outono. Seus cabelos loiros brilhavam, seus olhos brilhantes sorriam, combinando perfeitamente com aquela boca, enquanto ele brincava com seus colegas do time de futebol. Derek deve ter percebido nossos olhares, porque parou o que estava fazendo e olhou para mim, seu sorriso cada vez mais largo.
- Ele é lindo - disse Sarah, acenando levemente enquanto se apoiava em mim. Ela suspirou.
- Você parece cansada.
- Estou com aparência de cansada? - perguntou Sarah enquanto passara seus dedos no rosto para verificar. Ela brincou com as ondas loiras sedosas que emolduravam seu semblante De forma tão perfeita, escondendo a cicatriz na linha do cabelo, um lembrete de que ela quase morrera no acidente. No acidente que ela havia causado.
- Não, não. Sua aparência está ótima. Você só...
- Não ando dormindo bem.
- Pesadelos? Se quiser conversar sobre eles...
- Não. - a negação foi dita de forma penetrante, enquanto Sarah soltava meu braço.
- Ah. Tudo bem.
- Não - repetiu Sarah, suavizando sua voz e dando tapinhas em meu braço. - Não quero chatea-la com isso. Tenho certeza de que vou resolver isso sozinha.
Claro, pensei. Porque resolver problemas sozinha estava dando tão certo para mim.
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O segredo das sombras (CONCLUÍDO)
LosoweJéssica não é mais a mesma garotinha rural. Desde que se apaixonou por Pietr, um lobisomem russo, sua vida se misturou com uma complexa trama de poderes envolvendo a família do rapaz. Pietr e seus familiares são os últimos indivíduos de uma linhagem...