Capítulo 6

50 5 0
                                    


∞ Rafaela

Sinto uma sensação estranha, diferente mas prazerosa quando o vejo deitado ao meu lado. Sorrio para mim mesma enquanto relembro do passado, das nossas manhãs de preguiça e das lutas constantes para sairmos da cama. Acordar ao seu lado tinha-se tornado numa rotina que nunca pensei que me faria tanta falta. Ao início era estranho acordar e ver o Telmo, o ódio pela dor que o Dinis me causou era enorme mas eu continuava a amar aquele homem, que me conquistou no meio da floresta, que me conquistou pela sua suposta simplicidade e pelas ideias malucas.

Deito-me sobre o seu peito e acaricio-o suavemente. As memórias do passado emergem e revejo este momento várias e várias vezes no passado; após acordarmos, após uma intensa noite, tarde ou manhã – dependendo da ocasião. Pergunto-me como foi possível tudo se ter estragado e toda a nossa vida desfeita... pergunto-me como é possível estarmos aqui, agora, juntos.

- Bom dia, preguiçoso. - Sussurro ao seu ouvido

- Bom dia! – Responde com um sorriso de orelha a orelha. - Era capaz de me habituar a isto.

- Dizes isso porque ainda não chegamos á parte divertida de preparar os miúdos para escola. – Comento rindo. Mas a palavra "miúdos" faz com que o nome do Jonas surja na minha mente e o medo que sentiu com aquele pesadelo. Nunca o vi tão assustado por causa de um sonho.- Ontem o Jonas sonhou com o Telmo...

- Foi só um pesadelo, nada com importância. É normal a crianças terem pesadelos, é a mente deles a organizar e processar as informações do dia-a-dia. - Fala levantado o meu queixo para que olhe para ele. - O que se passa Rafa?

- Foi errado o que nos fizemos. O Jonas não está preparado para isto... para ter alguém a substituir o Telmo.

- Eu sou o pai dele! Se houve aqui alguém que substituiu alguém foi o Telmo, não eu. – Exclama num tom magoado - Foi só um pesadelo Rafa, ainda ontem tu ouviste o Jonas a dizer que gostava de nos ver juntos. Mas o importante é o que tu queres. E tu queres ou não estar comigo?

- Tu sabes que quero. - Respondo beijando-o.

- Então não há nada com que te tenhas que preocupar.

Deito de novo a cabeça no seu peito e ele beija-me o cabelo.

- Podíamos ficar aqui o dia todo.

- Para quê? Para a tua filha ligar a alguém a dizer que eu ando a fazer barulhos estranhos?!

- Sim. - Afirma e solta uma gargalhada. – Por falar nisso já estás melhor?

- Acho que deu para reparar que sim, esta noite. Vamos tomar banho?

As sensações estranhas mas ao mesmo tempo familiares continuam a invadir o meu corpo. Não permiti que tomássemos banho juntos, precisava de um momento para poder processar tudo o que tem acontecido. Ele não gostou, obviamente, mas esperou no quarto enquanto eu tomava banho.

Estamos a terminar de nos vestir quando duas crianças barulhentas invadem o nosso quarto. Envergando ainda os pijamas e os peluches que os acompanham durante a noite, ambos nos encaram. A Carol está confusa completamente sonolenta enquanto o Jonas nos encara curioso.

- Mãe... Mãe!

- O que se passa?

- O pai vai viver connosco agora? – Pergunta entusiasmado.

- Eu e o pai vamos a dar-nos uma oportunidade de ficarmos bem de novo, mas ainda é cedo para vivermos juntos.

- Poquê? - Pergunta a Carol totalmente alheia.

Segredos Perversos - A disputa (livro 3)Onde histórias criam vida. Descubra agora