Capítulo 38

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Daniela

A casa é pequena, só um andar, sem jardim, apenas um amontoado de pedras brancas e alguns vasos embelezam a frente da casa. Avanço a passos lentos atrás do meu pai mas sem largar as nossas mãos, que se apertam com firmeza.

Depois de sairmos do banco fomos almoçar juntos mas a conversa foi praticamente escassa, umas palavras sobre a Emily, sobre a Bianca e sobre o Lucas. Mas nada de muito aprofundado.

- Eu e a tua mãe conseguimos reerguer-nos e temos vivido confortavelmente. Não é o luxo que tínhamos mas não somos pobres. - Ele sorria fracamente - Foi o dinheiro que nos trouxe para esta situação, portanto, posso dizer que estamos melhor agora.

Mais silêncio.

- Tens uma irmã. Chama-se Helena, tem 15 anos. Gostava que a conhecesses.

Depois daquela bomba os ânimos mudaram completamente e a conversa terminou. Estivemos quase meia hora em silêncio.

- Se tenho uma irmã, significa que tudo o que existe tem de ser dividido por dois, o que invalida a venda da nossa parte da Monteiro&Associados, correto? Mas devo dizer-lhe que isso não vai acontecer, vendi tudo o que era nosso ao Dinis e não me arrependo da minha decisão.

- Não te preocupes com isso, tudo o que existia antes de partirmos pertence-te exclusivamente a ti. A Helena não tem qualquer poder sobre aqueles bens. O Pedro fez com que assinasses uns documentos em que declarava que tinha passado tudo para ti.

- O Pedro??? O advogado sabia que estava vivo?

Ele apenas assente?

- Como é que ele me pôde fazer isso? Ele, melhor que ninguém, sabia os problemas todos que enfrentamos, ele sabia que eu precisava daqueles documentos e mesmo assim não foi capaz de mos entregar...

- Calma filha, ele apenas cumpriu o dever dele como profissional e continuo leal como amigo. Mas ambos garantimos que tu tinhas tudo o que precisavas...

- Chega... Chega dessa conversa. - Interrompo-o enquanto me afasto.

O seu olhar mostra desespero, talvez receando que me vá embora mas, apesar de ser a minha vontade, permaneço de pé atrás de si. E com um suspiro de alívio ele abre a porta.

- Helena, deixa o telemóvel e vem ajudar-me... - Outra voz familiar se ouve. Fico estática, atrás do meu pai, a observar o ambiente. Um jovem sai chateada de uma divisão, a minha mãe está á porta de outra de braços cruzados. Elas entrem num conflito...ninguém nota a minha presença.

O meu pai avança até elas, sussurra algo na miúda e beija a sua testa. Vira-se para a minha mãe e faz o mesmo. E de repente torno-me na atração principal. O pano e a pequena vassoura que a minha mãe segurava caem ao chão, fazendo um som estrondoso, quase ensurdecedor. Ela respira fundo várias vezes, pisca os olhos... Até serem demasiadas as lágrimas e impossibilitarem-na de ver.

- Oh meu deus... - É o único que sai da sua boca.

Olho-a nos olhos enquanto sou alvo de uma análise por parte da miúda. Atrás dela tem um quadro grande com uma foto minha e da Emily... Lembro-me de quando foi tirada. A Emily tinha 4 anos, estávamos em Portugal...era verão... O advogado convidou-nos para almoçar... A foto foi tirada a meu pedido... No fim ele pediu para ficar também com ela.

Apesar de encarar a minha mãe consigo enxergar o ambiente que as rodeia: mais dois quadros pequenos...mais duas fotos que me lembro, uma saiu numa revista e outra já tem muitos anos.

Segredos Perversos - A disputa (livro 3)Onde histórias criam vida. Descubra agora