Capítulo 17

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ª Rafaela

É a primeira noite que passamos nesta casa como sendo moradores dela, nunca tinha pensando que ia voltar a viver nela, se mo tivessem dito há uns anos atrás ter-me-ia rido na cara dessa pessoa. O Jonas ainda está muito reticente acerca desta ideia e eu só aceitei esta mudança porque, apesar do medo que sente, ele apoiou esta ideia, caso contrário, continuaríamos a morar na outra casa. Sei que isto é importante para o Dinis, ter-nos cá, mas para mim é mais importante saber se os meus filhos estão bem e se sentem bem na sua própria casa. Deixei o Lucas sozinho com a Emily no quarto e fui avisar a Sílvia que ele ia dormir com a filha. Sim, pela primeira vez em seis anos o Lucas está a viver um momento de pai e filha que nunca teve direito a ter.

O Dinis está sentado na nossa cama ainda vestido á minha espera.

- Estou preocupado com a Dany. - Fala assim que dá pela minha presença.

- Ela precisa de estar sozinha.

- A Dany pode ser muito impulsiva e isso deixa-me preocupado.

- Não te preocupes ela não é assim tão maluca, ela sabe que a Emily precisa muito dela. - Digo abraçando-o por trás. - Eu vou ver se os miúdos estão bem, e tu vê se descontrais.

- O Jonas disse-te mais alguma coisa?

- Não. Ele só está um pouco preocupado que isto não dê certo e que alguém o tire daqui, ele tem medo de ficar outra vez sem casa, que seja obrigado a viver tudo de novo.

- Eu sei. Mas eu nunca vos faria isso, não a vocês, não com os meus filhos.

- Ele é uma criança Dinis, e ele também se sentia seguro com o Telmo e foram terceiros que nos fizeram isto, não ele. Percebes?

- Não há ninguém que vos possa tirar daqui. - Diz levantando-se e pondo-me uma madeixa de cabelo atrás da orelha. – Ninguém. – Repete, beijando-me de seguida.

- Nunca te vás embora. - Digo reclamando-o para mim e abraço-o.

- Não irei para lado nenhum. É aqui que sou feliz e aqui que tenho as pessoas mais importantes da minha vida. Nunca vos deixaria.

Beijo-o e em seguida saiu do quarto deixando-o a reclamar por mais.

Apesar de esta casa ser enorme e haver mais dois quartos disponíveis o Jonas escolheu dormir na cama da irmã, o Jonas está adormeceu, porém, a Carol continua a brincar com um peluche, deitada na cama.

- O que é que a princesa ainda está a fazer acordada? - Pergunto tirando-lhe o peluche da mão.

- Não tenho sono.

- Mas são horas de uma princesa estar a dormir, se não dormires amanhã não vais aproveitar o dia para brincares com o mano, a Emily e o Gonçalo porque vais estar demasiado cansada. Queres isso?

- Não. Eu quero ir ao paque o tio disse que nos íamos.

- Então tens que dormir. - Digo ajeitando-lhe os cobertores.

- Mãe?

- Diz.

- Eu gosto mais deste quato que o outo.

- Ainda bem princesa. - Beijo-lhe a testa. E ela vira-se e agarra o braço do Jonas.

Volto para o quarto. O Dinis já está na cama e eu apreço-me a vestir o pijama e a ir para o pé dele abraçando-o.

- Estás gelada.

- E tu estás quentinho. A Carol ainda estava acordada.

- Ainda?! Mas ela está bem?

- Não queria dormir porque dizia que não tinha sono.

- Só ela para fazer uma cena destas. – Fala às gargalhadas.

- Ela tem dois anos e já contribui mais para os cabelos brancos que o Jonas que tem sete anos. Mas ri-te, ri-te a vontade, serás tu a pagar o cabeleireiro.

- Olha que já que falas nisso, acho que devias de ficar linda com o cabelo todo branquinho e cinzento. A miúda já entende desta coisa de estilo.

Tinha saudades destas nossas conversas descabidas entre nós, apesar de eu e o Telmo termos tido uma boa relação não conseguíamos conversar desta maneira, a gozarmos com as coisas. Nos últimos tempos tínhamos discutido bastante e chegou haver um estalo por parte dele, mas nunca ninguém soube nem mesmo o Jonas assistiu. A morte dele foi um abalo muito forte para mim, apesar de tudo eu sei que eu ele gostava muito de mim, tal como eu também gostava muito dele. Chegaram-me a perguntar se nestes anos todos eu teria voltado para o Dinis se o Telmo não existisse na minha vida. Nunca soube responder nem á pessoa, nem a mim própria. O Dinis também teve uma pessoa importante nestes anos, uma relação bem mais curta que a minha e sem marcas, sem descendentes dela, mas que eu sei que também o marcou e que que me faz pensar que talvez a culpa de nós não termos ficado juntos mais cedo não era o Telmo, era que nos não conseguíamos esquecer o passado e que havia pessoas dos dois lados que faziam parte da nossa vida, e que não nos deixavam ficar juntos.

O Dinis adormeceu com um braço por cima de mim. E não demora muito tempo até eu adormecer também.

Somos acordados no dia seguinte com a Carol a saltar na nossa cama.

- Carol para. - Ordeno. - Já tomaste o pequeno-almoço?

- Não. Não queo.

- Mas tens que comer.

- Mas eu não tenho fome.

- Anda com a mãe. - Falo pegando nela ao colo.

- Eu queo levar a minha boneca.

- Vais comer, não precisas dela. Depois brincas com ela.

A dona Matilde está atarefada a servir o pequeno-almoço ao Lucas e às crianças.

- O que quer beber menina?

- Café dona Matilde.

- E a menina? - Pergunta apontando para a Carol.

- Sumo e bolo.

O Lucas enche-lhe um copo com sumo de laranja e eu dou-lhe o bolo.

A Dany entra cumprimentando-nos e beijando a testa da Emily.

- Vamos Emily.

- Para onde?

- Para nossa casa.

- Mas eu quero ir ao parque com o Lucas.

- Fica para outro dia, está bem pequena?!

- Afinal qual é o problema da menina ir comigo ao parque?

- Nenhum passei a noite toda sem ela, quero ficar com ela agora.

- Dany o mundo não gira á tua volta, não podes decidir quando queres as pessoas ou não.

- Posso porque ela é minha filha.

- Se formos por esse lado ela também...

- Quais são os brinquedos que vocês vão levar ao parque? - Intervenho. - Vão buscá-los. Jonas leva a Carol também.

Deixo-os sair.

- Vocês estão doidos?! Discutir á frente da miúda é demais.

Eles trocam olhares raivosos e a Dany vai-se embora de seguida.

- Controla-te Lucas. - Digo-lhe. - Eu tenho que ir trabalhar, ficas bem sozinho com os miúdos?

- Fico. A Sílvia também cá está.

Este vai ser tudo menos um Natal tranquilo, eles não conseguem estar nem dois minutos no mesmo sítio sem discutirem. Ainda não entendi como arranjaram tempo no meio das suas discussões para fazerem o novo bebé que vai chegar.

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Segredos Perversos - A disputa (livro 3)Onde histórias criam vida. Descubra agora