Capítulo 37

51 6 0
                                    


Não consegui explicar ao meu próprio filho porque de repente decidimos que tínhamos que nos mudar uma temporada para Itália. Resumi toda uma fuga em simples palavras de uma suposta diversão "vamos de férias".

- Já tens tudo pronto? - Pergunta Dinis desconsolado entrando no quarto do Jonas

- Sim. Só falta levar as malas para o carro.

- Eu faço isso.

- Obrigada, eu vou acordar a Carol e ver se o Jonas está pronto.

- Rafa... - Chama prendendo-me o braço. - Eu prometo-te que vou ser rápido a resolver as coisas por cá.

- Dinis nos nunca vamos ter paz, vai haver sempre alguém a querer nos destruir, agora é o Afonso mas amanhã vai ser outro qualquer. Estamos destinados a ter inimigos, inimigos que vão aos extremos para nos destruir.

Deixo-o e vou acordar a princesa cá de casa.

O Dinis anda frustrado porque ainda não conseguiu a paz que tanto ansiamos e isso agora implica separamos. É difícil depois de tudo porque passamos voltarmos a ficarmos longe, novamente ele ficará sozinho numa casa gigante com os nossos espaços a sua volta, é difícil lidar com as divisões abandonadas.

O nosso avião descola às 10:30 com escala para Lisboa e só depois é que partimos para Itália.

- Poque que o pai não vem de féias? - Pergunta a Carol quando estamos no aeroporto em Lisboa.

- Mãe tu estás chateada de novo com o pai? - Pergunta desta vez o Jonas.

- Já vos expliquei tudo. Nós vamos para a casa que o pai tem Itália e o pai depois vai lá ter se poder, ele está cheio de trabalho.

Não me lembrava como está casa era incrivelmente adorável, parece a casa de bonecas da Carol. Tem quatro quartos de paredes trabalhadas com cores claras.

-doutora? - Sou acordada dos meus devaneios por um homem de estrutura larga e alto vestido com um fato preto. - Desculpe incomodar. Eu só o chefe da segurança.

- Ah sim... O meu marido deve-lhe ter dito o motivo de estarmos aqui.

- Sim, estamos informados e estávamos preparados para agir. Estão seguros aqui.

- Espero que sim. O meu irmão vai chegar ao início da tarde. Ele vai ficar cá connosco.

- Não se preocupe vou avisar os meus homens. - Faz uma curta pausa. -Vou deixa-la com licença.

- Porque que temos que ter homens pinguins na nossa casa? - Pergunta o Jonas.

- Porque estamos num país que não é o nosso e precisamos de estar seguros. Leva a tua irmã para cima. Escolham os vossos quartos. - Falo pondo a Carol no chão. - Vai-la meu homenzinho. - Falo dando-lhe um beijo na bochecha e uma palmada no rabo.

" Já chegamos. Mas os miúdos estão muito desconfiados sobre estas supostas férias. Fico a espera que nos venhas visitar. Amo-te muito."

Mando uma mensagem ao Dinis antes de ir até a cozinha.

- Bom dia. - Falo.

- Bom dia doutora. Como correu a viagem? - Não me lembrava como a Antonella é animada ela consegue transformar uma cozinha num parque de diversões. - Está é Giulia vem para arrumar a casa desde que tive aquele problema de saúde que o doutor contratou a para me ajudar aqui.

- Muito prazer doutora. - Giulia

-O prazer é todo meu.

- O doutor não vem também para aqui? - Pergunta Antonella.

- O Dinis está cheio de trabalho mas talvez seja capaz de vir cá uns dias. - Faço uma curta pausa vou ver como os miúdos estão, e já descemos para almoçar.

- Quando os ricos começam a viajar mulher e filhos para um lado e marido para outro é porque está tudo mal. - Oiço ainda da cozinha.

É isso que pensam? Quem eu e o Dinis estamos numa birra conjugal e que nos separamos. Talvez seja melhor assim, não quero as empregadas a saberem o verdadeiro motivo de estarmos aqui mas também não quero que vendam isso para as revistas ou que isso chegue aos ouvidos dos meus filhos.

- Nós estamos separados por motivos de segurança. E espero pelo menos o sigilo sobre este assunto ou então já não serão mais necessárias nesta casa. - Quando pensei no que estava a fazer já estava feito, já não havia mais nada a fazer.

Oiço a Carol a chorar quando estou a subir a escadas.

- O que se passa? - Pergunto entrando no quarto.

- A Carol está sempre a quer tirar-me o comando.

- E que tal jogarem alguma coisa que possam fazer os dois.

- Mas está consola tem jogos fixes.

- Essa consola é dos tempos que o teu pai vinha para aqui nas férias. Não sei sequer como é que ainda funciona. E Jonas a muito mais para se fazer que passares a vida agarrado a essa porcaria. Mas agora também temos que ir almoçar e depois o vosso tio chega e vamos todos para a piscina.

- Se fosse antes para a praia.

- Amanhã talvez possamos ir Jonas.

O Lucas está amuado por basicamente ter sido obrigado pela Dany a embarcar para aqui. Eu também não posso mentir e dizer que fiquei feliz com esta ideia, preferia mil vezes ficar na minha casa, no conforto com os meus filhos o meu marido e a rotina do dia-a-dia mas por vezes não somos nós a decidir.

- Afinal tenho quarto aqui ou vou ter que dormir no sofá? - Intervém invadindo o nosso almoço.

Os miúdos fazem uma festa com a sua chegada.

- Pensei que ias demorar mais umas horas a chegar.

- A Dany estava desejosa que entrasse naquela porcaria de avião.

- Nunca pensei que ficasses assim tão amuada por estares de férias connosco.

- Se as condições fossem outras eu próprio tornaria a iniciativa de vir de férias connosco. Tu e eu como os velhos tempos.

- Que condições tio? - Pergunta o Jonas sem parar de comer.

- Não te metas em conversa de adultos, Jonas, e não se fala de boca cheia.

- Mas mãe... Os adultos são complicados de mais e nos podíamos ajudar a tornar as coisas mais simples.

Fico surpreendida pelas palavras do meu filho, nunca imaginei que diria algo assim, ele tem sete anos não é suposto já argumentar contra as minhas decisões, muito menos tão bem se continuar assim daqui a uns anos vai ser ele a educar-me.

- Jonas...filho estás na idade de não ter problemas, só brincar e pensar que a vida é um mar de rosas tens tempo para aprender que a vida nem sempre é o que queremos, que não pode ser controlada e que precisas de lutar para conseguires o que queres por isso aproveita enquanto são os adultos a tratar de todos os teus problemas.

- Mas eu já sei que nem tudo é como queremos.

- Ainda bem filho. - Faço uma pausa. - Almoças Lucas?

- Não, fiquei sem fome com a viagem, vou lá acima tomar um banho e depois vou descansar um bocado.

- Tens que ir connosco a piscina. - Jonas

- Quero ver quem é que ganha a dar o salto mais alto.

- A Carol nem sabe nadar, só vai agarrada a mãe ou ao pai.

- Sei sim. - Choraminga.

Deixo-os a partilhar as suas ideias para a tarde viajando mentalmente até outro mundo. Nunca me imaginei a fugir para garantir a segurança dos meus filhos, isto é o fim da linha, perdi tudo o direito à estar na minha casa, o direito à ter o meu marido, o direito à segurança dos meus filhos já não me resta nada. Por vezes a riqueza financeira é tão inútil quando estamos frágeis e impotentes. 

Segredos Perversos - A disputa (livro 3)Onde histórias criam vida. Descubra agora