Julieta

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O carro estaciona em frente a mansão Capuleto. Construída há mais de quinhentos anos! Retiro a mala e dispenso ajuda do motorista, que logo segue para guardar o carro. A enorme porta de madeira, ainda conservada durante os séculos, pesa mais que eu e minha mala juntas. Tenho dificuldades em empurra-la.

Dou meus primeiros passos dentro do recinto e então sou surpreendida por um abraço inesperado. Penso, a principio em atacar, mas reconheço o cheiro da minha prima. Rosa Capuleto.

Me viro e ela mantem um sorriso gigante nos lábios. Retribuo da melhor maneira que eu posso. Eu a abraço e a solto:

-Onde está vovô e vovó? –Questiono.

-Na sala de cima, a sua espera. Não consegui esperar quando ouvi o carro estacionando. –Ela disse corando.

-Certo, Rosa, vamos! –A chamei.

Rosa, minha prima, apenas um ano mais velha que eu, assim como eu, perdeu seus pais, e hoje moramos com nossos avós. Bom, ela continuou com eles, enquanto eu fui estudar fora. Mas voltei e estava disposta a repor minha vida e assumir os negócios da minha família.

Continuamos a subir os degraus. Os traços em mármore da escadaria eram dourados. As colunas ainda brancas e limpas. Provavelmente deve dar um grande trabalho para limpar.

Nos dirigimos para o escritório, que ainda ficava no mesmo lugar, como foi a vida toda! Abrimos a porta. Meu avô estava em sua cadeira de couro preta. Meu primo, em pé, ao seu lado. E minha avó lia um livro em sua poltrona branca e muito bem acolchoada.

-Vovô! –Exclamei, animada.

Ele me olhava por detrás dos óculos. Vi seu sorriso se alargar. Ele retirou seus óculos e se levantou. Segui até ele. O apertei como pude, e ele me envolveu em seus braços. Seu cheiro de livros era refrescante. Talvez fosse o cheiro do ambiente e não dele. Mesmo assim, estar em casa era acolhedor e bom!

-Ah, minha querida! –Ele me afastou um pouco e segurou meu rosto em suas mãos gélidas e enrugadas. –Não sabe a alegria que estou sentindo.

-Cahan! –Vovó tossiu, chamando minha atenção. Alisei a mão do vovô e beijei-as delicadamente.

Voltei para minha avó, que já me esperava de braços abertos. A abracei com saudade. Eu estava morrendo de saudade dela. Deles todos. Comecei a abraçar-lhe.

-Ah, minha criança! –Ela exclamou. –Está tão grande e linda!

Sorri e depositei meu rosto em sua mão, fazendo um esforço para segurar as lágrimas. Há mais de sete anos eu saí para fazer intercâmbio e decidi fazer minha faculdade de administração por lá. Não voltei para cá nem uma vez durante esses anos todos, então é de se esperar essa surpresa vinda deles.

-Estava com saudades! –Falei baixinho.

Meu primo se pôs mais perto de mim. E eu logo o abracei.

-Ah, minha prima querida. –Ele afagou seu rosto em meus cabelos. –Que saudade senti de você.

-Eu também, Theo. –Falei.

Theo, irmão de Rosa, meu primo. Eu o soltei e pude olha-lo. Ele é dois anos mais velho que eu. E depois desses sete anos ele ficou tão bonito. Mais do que me lembro. Eu os deixei quando tinha apenas quatorze anos, e ele tinha dezesseis. Ele sempre teve um cabelo liso e macio, e seu queixo sempre ossudo. E seu nariz grande, proporcional com seus olhos castanhos-mel. Assim como eu e Rosa, com nossos cabelos castanho-escuros e olhos cor mel.

Sorrio para Theo e ele me devolve o sorriso:

-Não sabe quanta falta senti, Julieta.

Franzi o cenho, levemente, fingindo estar chateada.

Os novos Romeu e JulietaOnde histórias criam vida. Descubra agora