Julieta

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Já se passou dois dias, E eles transcorreram normais. Na medida do possível! Infelizmente, minha guerra fria para com meu primo teria de sessar. O olhar do meu avô disse tudo!

Theo estava indo para seu confinamento. Ele se dirigia a passos lentos para o seu quarto, o que foi bom, pois eu pude segui-lo. Ele entrou, mas não bateu a porta.

Empurrei-a e estava dentro. Ele já deitara e me olhava, uma mistura de surpresa e desconforto. Não falava com ele, fazia dias, e eu nem havia contado quantos. Ficamos alguns longos segundos, talvez quase um minuto, nos encarando sem saber por onde começar. Puxei uma cadeira, e me sentei a uma certa distância dele.

-Como você está? –Perguntei com a voz suave.

Ele engoliu o seco.

-Tirando algumas dores dos hematomas, estou bem. –Ele disse, se ajeitando, em uma posição mais confortável para seu braço inválido. –Posso saber o motivo da sua visita?

Confesso que não gostei da sua ironia, mas o perdoei por ter prometido ao vovô que voltaria a falar com ele, mesmo que apenas o básico.

-O motivo da minha visita, é para saber como você está. Eu ainda continuo tendo o mesmo sangue que o seu! –Exclamei.

-Então não está mais com peninha dos Montecchios? –Ele levantou uma sobrancelha em dúvida.

-Para início de conversa, não estou com peninha de ninguém, mas obrigada pela ironia; eu pretendia ser a mais prazerosa possível e estava disposta a sustentar uma conversa pacifica, mas você ainda está alterado demais com os últimos fatos, o que não me deixa outra escolha a não ser continuar sendo firme com você! –Digo.

-Julieta, -Ele intervém. –Abra o jogo comigo, você está se envolvendo com um Montecchio?

Eu pensei em assentir, mas nesse curto espaço de tempo em que me permiti hesitação, pude notar que se eu dissesse sim, nem mesmo seu braço inválido, ou até a morte, poderia impedir ele de ir até lá e matar todos os Montecchios possíveis!

-Não. –Disse, um pouco menos confiantes, mas logo recobrei minha compostura. –É claro que não! Por que diabos eu iria me envolver com eles?

-Por que é a sina dos Capuleto?! –Ele sugeriu. –Sabe que a mim, você jamais conseguiu enganar. Eu sempre amei imensamente você, e sempre quis te ver bem. Não pode me culpar por isso!

Assinto.

-Não o culpo. –Digo. –Mas isso não exclui o fato de que o que você fez foi algo tão imprudente e tão arriscado. Meu Deus, sabe lá oque podia ter acontecido. Sorte, eu digo sorte mesmo, foi você ter apenas quebrado o braço e não o pescoço! Você não nota a gravidade da sua ação?

-É, claro que noto! –Ele diz. –Mas eu não ia deixar barato você se meter com um cara daqueles. Eu simplesmente não aceitava! Você é minha prima caçula e a mais querida. Por Deus, eu só quero o seu bem!

-Então por Deus, me deixe decidir qual é meu bem!

Ele me olha curioso.

-Ele é seu bem? –Ele me pergunta com uma sobrancelha levantada e a outra franzida.

Bufo de raiva.

-Chega! –Me levanto. –É impossível uma conversa civilizada com você, Theo. Você está escavando confusão, e digo que encontrará! Mas não comigo.

Me viro pelos calcanhares e caminha até a porta.

-Ju! –Ele chama. Me interrompo. –Espera. Não vai.

Me viro e volto a encará-lo. A calma que eu mantinha quando entrei foi embora para não sei onde, por que ali ela com certeza não estava! Eu tinha uma postura rígida. Estou com raiva!

-O que quer?-Perguntei.

-Não quero brigar. Não quero que fiquemos desse jeito. –Ele diz penosamente.

Sinto um pontada de culpa me atingir, mas logo volto a minha rígida posição.

-Mas que droga, é por sua culpa que ficamos sem se falar! –Esbravejo. –Por quê você sempre tem de querer envolver os Montecchios? Por que diabos eles tem de ser nossos inimigos? Você não percebe que toda essa guerra, esse ódio que você mantém no coração, isso faz mal pra todo mundo? Não nota?

Ele assente.

-Então se você nota o erro, se sabe que não deve agir dessa maneira, pare!

Ele assente novamente.

-Desculpa. –Theo murmura. –Eu não sei como mudar, mas espero mudar.

Minha expressão suaviza.

-É só você querer. Sua vontade é maior do que seu ser! –Digo. –Só não vá querer sair atrás de brigas quando se curar.

Ele assente.

Abro aporta.

-Julieta. –Ele chama. –Estamos de bem?

-Depende de você. –Digo e sorrio.

Sim, penso, parece que estamos bem. E espero que você continue com esse pensamento. Mal sabes, mas você e ele são parentes agora.

Os novos Romeu e JulietaOnde histórias criam vida. Descubra agora