Romeu

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Abro os olhos e vejo meu relógio. Ainda são quatro horas. Julieta está aninhada ao meu corpo. Encolhida e sendo protegida por mim. Não resisto ao impulso de beijar sua cabeça. Ela se mexe e me mantenho parado.

-Sei que está acordado! –Ela murmura sonolenta.

-Perdão, meu amor. Não quis acorda-la. –Beijo sua cabeça.

Ela se mexe e fira-se para mim. Me encara com olhos semiaberto e uma cara tão angelical de quem acaba de acordar.

-Eu não consigo acreditar que está aqui. –Ela murmura e sai com a voz rouca. Seus braços me envolvem e ela me abraça, afundando sua cabeça em meu peito nu. Faço o mesmo.

-Estou. Mas já está na hora de ir.

-Hum... que horas são? –Ela questiona.

-São quatro da madrugada. –Respondo. –Mas preciso ir antes que o sol nasça para não dar problema para você.

-Ah, não. Fique mais um pouco. Ainda nem amanheceu! Fique mais alguns minutos. Sairá antes mesmo do sol nascer. -Ela pede.

-Ah, meu amor. Se soubesse o quanto desejo ficar. -Passo a mão por seu cabelo.

-Não irei larga-lo! -Ela diz e se aperta a mim. -Me leva contigo.

-Ficarei por mais alguns minutos e depois terei de ir. Não quero lhe causar problemas! -Digo e beijo sua testa. Ela assente e se aninha ao meu corpo.

-Não irá me causar problemas. Já sou adulta. Cuido do meu nariz. -Ela diz.

-Sim, mas enquanto sua pureza... -Interrompo, lembrando da sua confissão no cemitério.

-Esqueça aquilo. -Ela Pede.

-Não posso. É algo valioso demais pra você. E para mim também, agora. Não sei se seus avós aprovariam um homem em sua cama.

-Eu aprovo. Eu aprovo! Não ligue para isso. -Ela pega minha mão e entrelaça seus dedos nos meus. -Não vamos falar sobre isso agora. Depois, quando casarmos, certo?

-Claro, meu amor. Faremos como achar melhor.

-Que horas são? -Questiona.

-Passou quinze curtos minutos. -Respondo.

-Bom, melhor ir. Não quero lhe causar problemas, também! -Ela diz. -Vá, enquanto o sol ainda não apareceu. Descanse e tenha um bom trabalho. -Ela diz.

-A você também! -falo e me levanto, vestindo a roupa que tiramos ontem. Ela veste sua camisola e me leva até a sacada.

-Vá, Romeu. Seu coração bate com o meu. -Ela me beija e eu retribuo.

-Quando iremos marcar? -Questiono.

-Não sei, mandarei alguém para dar meu recado a você. -Ela diz.

-Não seria melhor me dar seu número?

-E qual seria a graça? –Ela ri. -Mas mandarei meu número. O problema é que a tecnologia afasta as pessoas. Quando sentir saudades não me ligue, me procure! -Ela avisa.

-Claro. Irei procura-la. -A beijo novamente. -Até breve, meu amor.

-Até! -Ela diz.

Desço a sacada e corro em meio ao jardim, não antes de me virar e vê-la acenando para mim. Jogo um beijo para ela antas de sumir. O sol já está começando a surgir em meio ao horizonte. A moto está bem distante e escondida da casa Capuleto.

Ligo a moto e vou em velocidade regular até minha casa. Quando chego, entro levando-a e a estaciono na garagem, sem fazer barulho.

A penumbra indica que é cinco horas.

Subo a sacada do meu quarto e vejo, meus primos, com seus colchonetes estendidos no chão, montando vigília no meu quarto. Adentro na ponta dos pés, sem fazer barulho, e me deito. Eles acordam com um pulo:

-Romeu! -Nota Ben.

-Sim. -Sussurro. -Não fale alto. Irá acordar todo mundo.

-Onde passou a noite? -Questiona Marco. -Foi com aquela garota?

-Ah, caro primo. -Inalo o ar profundamente e me deito com as mãos atrás da cabeça, olhando pro teto. -Estive nos braços da paz. Ou melhor dizer: em volta da minha paz.

-Hum. -Murmura Ben. -Ótimo, pra você. Por que ontem, quando nem parou em casa, Theo Capuleto mandou uma aviso. Quer encontra-lo e resolver alguns assuntos.

-Ótimo! -Digo. -Um novo parente. Tenho de fazer as pazes.

-Não fale besteira! -Retruca Marco. -Não nos misturamos com eles. E você, não irá encontra-lo só. Ele é um príncipe dos gatos, astuto e traiçoeiro.

-Não há motivos para darmos força a essa inimizade quando o que pregamos é paz. -Digo.

-Eles não querem paz. -Resmunga Marco. -Iremos com você.

-Não há necessidade. -Digo.

-Não há? É o que Pensas! -Diz Ben. -Ele é irmão de Rosa. Deve querer mata-lo. Seremos seu suporte.

-Já que querem isso, vamos! Me digam onde ele marcou o encontro?

-Em um local privado. Um restaurante. -Diz Ben. -Pelo menos ele tem bom gosto.

-Então vocês irão na frente. -Digo. Eles assentem.

O dia amanhece e elessaem antes de mim. Durmo alguns minutos e sono, não comigo e Julieta, mas comos antigos Romeu e Julieta. O vejo em seus altares, cobertos por um fino panotransparente. Chego mais perto e noto que sou eu e Julieta.    


Os novos Romeu e JulietaOnde histórias criam vida. Descubra agora