Romeu

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Já está de manhã, e eu vim bem cedo até a igreja. Vesti um paletó bem limpo e me arrumei como pude. O padre Lourenço nem está tão preocupado, mas eu estou roendo até a carne dos dedos.

-Acalme-se! –O padre diz. –A menina virá. Ainda nem está na hora. Vá até a sacristia e reze até ela chegar!

-Não consigo. E se ela não vier?

-Ela virá! –Ele insiste. –Agora pare de irritar minha paciência, Romeu. Quero arrumar aqui, vá rezar, sim?

Me dirijo até o altar da igreja e me ajoelho, juntando as mãos.

-Oh, Senhor. –Falo. –Te imploro, faça-nos abençoados. Deixe-nos unidos, e que nem a morte nos separe. Eu a amo. A amo um milhão de vezes e, juro, a farei a esposa mais feliz que um dia existiu. Nos abençoe, Senhor!

Abaixo a cabeça e continuo a rezar baixinho. Só penso em Julieta. Ela está vindo? Ela virá? Ela quer desistir? Ela desistiu? Não. Ela virá. Seu coração bate junto ao meu.

Sinto uma mão tocar meu ombro.

-Ela chegou. –Diz o padre sorrindo.

Me levanto e vou até meu local.

Há apenas dois coroinhas ao lado do padre, que está em pé no altar. Permaneço no meu lugar, sorrindo, e sinto uma lagrima escorrer, a qual a enxugo.

Ama vem na frente e joga pétalas no chão.

Então, lá atrás, usando um lindo vestido branco, segurando um buquê vermelho, com seus cabelos presos e seu andar lindo e delicado.

Mais outra lágrima escapa. Julieta sorri para mim, e sorrio para ela de volta. Ama termina o percurso, e pega a mão de Julieta, entregando-a para mim:

-Cuide da minha menina! –Ela avisa.

-Cuidarei. –Digo.

Julieta lhe entrega o buquê e se volta para mim. Sorrio para ela que mantém o mais lindo sorriso no rosto. Nos viramos para o padre que começa a falar:

-Noivos caríssimos, viestes à casa da igreja para que o vosso propósito de contrair matrimônio seja firmado com o sagrado selo de Deus, perante o ministro da igreja e na presença da comunidade cristã. Cristo vai abençoar o vosso amor conjugal. Ele, que já vos consagrou pelo santo batismo, vai agora dotar-vos e fortalecer-vos com a graça especial de um novo sacramento para poderdes assumir o dever de mútua e perpétua fidelidade e as demais obrigações do matrimônio. Diante da Igreja, vou, pois, interrogar-vos sobre as vossas disposições. Rômulo Romeu Rodrigues Montecchio e Julia Julieta Fernandes Capuleto, viestes aqui para celebrar o vosso matrimônio. É de vossa livre vontade e de todo o coração que pretendeis fazê-lo?

-Sim. –Respondemos em uníssono.

-Vós que seguis o caminho do matrimônio, estais decididos a amar-vos e a respeitar-vos, ao longo de toda a vossa vida?

-Estou, sim. –Novamente falamos.

-Estais dispostos a receber amorosamente os filhos como dom de Deus e a educá-los segundo a lei de Cristo e da sua Igreja?

-Estou, sim.

- Uma vez que é vosso propósito contrair o santo Matrimónio, uni as mãos direitas e manifestai o vosso consentimento na presença de Deus e da sua Igreja.

Unimos nossas mãos.

-Eu Romeu, recebo-te por minha esposa a ti Julieta, e prometo ser-te fiel, amar-te e respeitar-te, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos os dias da nossa vida. –Digo.

-Eu Julieta, recebo-te por meu esposo a ti Romeu, e prometo ser-te fiel, amar-te e respeitar-te, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos os dias da nossa vida. –Diz Julieta.

-A aliança. –Fala o padre.

Coloco a aliança em seu dedo anelar e beijo.

-Confirme o Senhor, benignamente, o consentimento que manifestastes perante a sua Igreja, e Se digne enriquecer-vos com a sua bênção. Não separe o homem o que Deus uniu. Eu vos declaro marido e mulher. –Fala o padre por fim. –Pode beijar a noiva.

Sorrio e a beijo. Assim que separamos nossos lábios, vejo o olhar mais feliz de todos: o olhar da minha esposa.

Ama está chorando tanto e o motorista tem de consola-la.

Saímos do altar e nos dirigimos até a porta de saída.

-Para onde vamos? –Pergunta Ama.

Eu e Julieta nos entreolhamos:

-Ama, vá para casa. Irei passear com o meu marido. E o senhor, senhor Tomas, não conte nada a ninguém sobre hoje, por favor! –Julieta diz ao motorista, que assente com seu sorriso maneirado.

Eu subo na moto e ela logo depois envolvendo seus braços ao redor de mim. Uma pontada de dor se espalha, mas eu a tolero. Estou nos braços da minha paz.

Os novos Romeu e JulietaOnde histórias criam vida. Descubra agora