Já é noite e Ben ainda está no meu quarto.
-Isso é muito louco! –Ele diz. –Casaram, escondidos, a menos de um dia! Meu Deus! Isso é meio que dá um tapa na bunda dos nossos patriarcas, sabe bem disso.
-Sei. –Digo. –Mas não podia me submeter ao medo. Não em circunstâncias como essas. Mas me prometa, Ben, prometa que não contará a ninguém!
-Claro que prometo, primo. Sei guardar segredo. Mas isso não exclui o fato de eu achar tudo isso loucura demais. E vocês mal se conhecem!
-Ah, nos conhecemos. –Digo. –De vidas passadas, eu acho. Ela sempre esteve comigo. Em meus sonhos. Eu já a imaginava assim, antes mesmo de conhece-la!
Ben assente e sorri.
-Sei bem. –Ele murmura.
-Ah, mas isso não exclui o fato do senhor ter beijado Rosa! –Brinco com ele.
-Ah, aquilo? –Ele cora. –Bom, eu também sempre a achei linda, admito, mas respeitei quando a escolheu como sua garota e tudo o mais.
-Ela não era minha garota. Apenas confundi-a! –Digo.
-Que seja. –Ele ri. –Nós conversamos e eu disse que estava sentindo algo dentro de mim diferente. E ela disse que também sentia, mas que era madura demais para isso. E eu tive um momento em que foquei os olhos nos lábios dela e apenas observava-os. Como se ela tivesse me hipnotizado. Eu não sei!
-Amor! –Digo. –Isso é amor! As mulheres daquela família são bem sedutoras.
-Concordo! –Diz Ben. –Conseguiu até um marido!
-E em breve outra conseguirá um também!
-Não sou como você, Romeu. –Ele diz.
-Não, não é. Mas somos Montecchios! Somos os melhores! Os sonhos de qualquer mulher do planeta, não?
Ele balança a cabeça negativamente.
-Tem razão; não! –Digo. –Mas enfim. Somos o que somos. Temos um charme, assim como as Capuleto. E se Rosa também está apaixonada por você, então que fiquem juntos! Nossa trégua ainda está firme.
-É, mas a trégua é só fachada. Por debaixo dos panos ainda há essa interminável guerra! Foi por culpa disso que nós três perdemos nossos pais!
Sinto o bile subir e o engulo. Pensar na guerra das nossas famílias, na morte dos meus pais. Sinto uma vontade de chorar, vomitar e desmaiar. Mas engulo tudo.
-Elas não tem culpa. Assim como nós não temos também. –Digo. –As meninas não fizeram nada. E nós também não.
-Mas nossos nomes...
-Apenas eles são inimigos. Somos o que somos e jamais deixaremos de ser. Se você sentir que a ama, esqueça-se do seu nome. Abdique de tudo por ela.
-Você fez isso? –Ele questiona.
-Por Julieta, deixo tudo para trás. Eu a amo! –Falo.
Ele me olha, com as sobrancelhas arqueadas.
-Deve ser verdade. Nunca o vi assim. Julieta é uma mulher de muita sorte, por ter você como marido.
-E Rosa será muito tola se não quere você como marido! –Digo.
-Ah, eu... eu acho que quero vê-la! –Diz Ben.
-Vá então. Sabe como chegar lá? –O incentivo.
-A essa hora da noite? Não é arriscado? –Ele questiona.
-Está pensando em esperar amanhecer e tocar a campainha deles? Por favor, Ben. Suba até o quarto dela e diga o que sente! –Digo firme.
-Acho que isso não é prudente. Não ficará bem invadirmos uma propriedade.
-Como invadimos a festa deles naquele dia? –Digo. –Deixe de se acovardar!
Me levanto e pego um agasalho.
-O que está fazendo? –Questiona Ben.
-O acompanharei até a casa deles. –Digo.
-Para ver Julieta?
-Claro! –Afirmo.
-Então vou buscar meu casaco. Não iremos demorar, iremos?
-Você vai?
Ele sorri de canto, assim como eu. E sai apressadamente até seu quarto, para pegar seu casaco. Descemos e ligamos a moto. Vou dirigindo até a propriedade Capuleto. Estaciono a moto um pouco distante, e adentro a floresta, até encontrar o muro. Há uma parte menor, não mais que um metro e trinta. Pulamos e seguimos nos esgueirando pelo jardim. Nos escondemos de um guarda, que faz a ronda, e então, à uma distância, vejo a luz do quarto de Julieta acesa.
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Os novos Romeu e Julieta
RomanceAcerca de quinhentos anos atrás, houve a romântica história de uma moça e um rapaz. Por seu amor, ambos se entregaram a morte, e ainda reza a lenda, que foi culpa da sorte. Há quase quinhentos anos Romeu Montecchio e Julieta Capuleto, morreram por...