Julieta

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Assim que ele some vou até a porta e a destranco-a.

-Julieta, o que houve? Está tudo bem? –Ama questiona.

-Sim! –Digo. –Eu estava me arrumando e escutando música no banheiro, por isso não ouvi. Perdão, Ama.

-Tudo bem. Trouxe seu chá. Quer mais alguma coisa?

Balanço a cabeça negativamente:

-Não. Apenas dormir.

-Bom, com licença, minha Julieta!

Sorrio pra ela. Ah, Ama, não sou sua Julieta. Sou a Julieta de Romeu. Meu Romeu.

Ama se vira e segue em direção a porta.

-Os Montecchios são ardilosos, minha querida. Tenha ciência disso. O único Montecchio que amou uma Capuleto morreu há muitos anos. Não quero vê-la magoada. Lembre-se disso, certo?

Engulo a saliva.

-Sim, Ama. Entendi. –Digo.

Ela bate a porta. Odeio saber que o que ela fala é verdade. Esse homem, esse Romeu, mesmo que meu coração diga que ele é bom, tenho de dar espaço a razão. Ele pode me magoar e pode me fazer bem. Pode cuidar ou me machucar. Pode me amar ou me iludir.

Talvez ele queria me iludir me fazer ficar tão dependente dele, se aproximar da minha família e acabar com a vinícola da minha família.

A razão está falando um pouco mais baixo que o coração, que diz que jamais bateu tão forte quanto por Romeu, que ele é o certo. Ele pode ser como aquele Romeu, que amou cegamente minha tia Julieta e que morreu por ela.

Ele pode me fazer bem, assim como pode me fazer mal.

Durmo com essa divergência de ideias e sonho. Não comigo e Romeu, mas com os antigos Romeu e Julieta. Mas noto que ao final somos nós mesmos, mortos!

Acordo suando e ofegante.

-Menina Julia Julieta, o que aconteceu? –Questiona Ama.

-Um pesadelo. –Digo.

-Ah, já que acordou, levante e lave a cara. Seus tios e primos estão tomando café.

Assinto. Vou até o banheiro e lavo o meu rosto. Banho-me rapidamente e desço para tomar café com minha família.

-Bom dia. –Digo. Deposito um beijo na vovó e no vovô e me sento no meu lugar

-Acordou bem disposta hoje! –Meu avô comenta. –Irá acompanhar seus primos até a vinícola?

-Hum, ainda não sei. –Digo. –Irão até a vinícola da cidade?

-Eu irei. –Responde Rosa. –Vou ter de organizar os vinhos para podermos funcionar.

-E eu irei à fábrica! –Diz Theo. –Preciso ver o carregamento e não posso esperar por muito mais. Estou de saída. –Theo se levanta. –Virá comigo?

-Hum. –Penso. –Amanhã, hoje quero ir até a cidade, precisamos colocar a nova vinícola em funcionamento imediatamente. Irei acompanhar Rosa.

-Certo. Estou de saída, volto para o almoço. –Diz Theo e sai de casa para a sua vinícola.

Assinto para Theo e noto que ele queria que eu fosse. Amanhã, irei!

-Bom, vamos logo! –Diz rosa.

-Pegarei minha bolsa. Espere aqui, por favor. –Peço.

-Não demore! –Pede ela.

Subo as escadas correndo e apanho a bolsa. Despeço-me de Ama e desço as escadas pulando.

Seguimos de carro até a vinícola, onde as coisas começaram a funcionar. As prateleiras estavam sendo devolvidas aos lugares, preenchendo o enorme salão. As caixas de vinhos estavam sendo retiradas dos depósitos e logo minha prima interferiu:

-Apenas alguns ficam fora, não todos! Andem rápido! E eu quero tudo datado! –Ordenava ela.

-Acalme-se. –Peço.

-Ah, Julieta, você tem muito que aprender! –Disse ela e saiu dando mais ordens.

Senti pena dos funcionários, estavam sendo torturados por ela. Coitados. Ando pelas prateleiras vazias e vou vendo os caixotes que já estão preparados para serem esvaziados, e as prateleiras logo ocupadas.

Subo até o escritório administrativo e me sento à mesa. Passo os dedos pela superfície plana e lisa, totalmente envernizada. De repente meus pensamentos seguem Rômulo, meu Romeu e seus lindos olhos azuis. Os venenosos olhos azuis.

-Acha que é fácil, mas não é! –Diz Rosa, na porta. –Dar ordens é muito cansativo.

-Deve ser. –Digo vagamente. –Ahn, Rosa. O Romeu, aquele rapaz de ontem na festa, de onde você o conhece?

-Ah, ele corria atrás de mim.

Engasgo.

-Corria atrás de você? Como assim?

-Ele dizia que me amava, que estava apaixonado por mim, Mas eu não sou burra e sei que ele queria se infiltrar na empresa. O neguei enquanto pude, mas admito que ele é um belo pedaço de mal caminho. –Ela fala. –Por quê isso minha prima?

-Curiosidade. Eu o vi na festa e queria saber. –Minto.

Minha razão estava certa. Romeu quer me iludir. Me enganar. Destruir a empresa da minha família, como eu sabia.

-Ele é mais um Montecchio. –Digo e ela concorda prontamente.

Os novos Romeu e JulietaOnde histórias criam vida. Descubra agora