Permaneço paralisada para o caso de ele parar de fazer carinho na minha mão com o dedo mindinho. Olho para o seu rosto e vejo que está encarando o chão. Seus traços são tão perfeitos e lindos que chega a doer. O maxilar trancado. A boca. Os olhos. Os braços fortes.
Ele percebe que estou observando-o e eu desvio o olhar para o chão também.
- Mayara, onde fica sua roça?
Estranho a pergunta, mas resolvo responder.
- É relativamente perto de Petrópolis. Se chama Areal.
Vicente abre a boca para soltar algum daqueles comentários estúpidos quando uma batida forte vem da porta. Em seguida da primeira vem uma, duas, três, quatro. Quase derrubando a porta.
- Vicente, sai da merda desse banheiro! – é a voz de uma mulher e tenho dificuldade em reconhecer.
Mas ele reconhece rapidamente.
- É a Rebeca! Puta que pariu! – ele se agita e vai em direção à porta para abri-la, mas para um instante e olha para mim – Você precisa se esconder! – ele fala.
- Por quê? Não tenho nada para esconder dela. Aliás, você falou com Letícia que não tem namorada!
- Shhh. Isso não importa agora. Entra no boxe.
Ele pega meu braço, coloca minha bolsa junto a mim e praticamente me coloca lá. Faço menção de sair e ele diz:
- É sério. Por favor. Permaneça ai.
Ele me pediu por favor! Mesmo assim, fico tentada a não obedecê-lo por mentir para Let. Mas ele sai e fecha a porta escura de vidro do boxe na minha cara e continuo ali. Parada.
- O que você quer aqui Rebeca? Já te falei que te veria em casa. Mas que saco! – ele reclama e sinto passos invadir o banheiro. Com certeza são dela.
- Você vem numa festa e não me leva. Como assim?- ela resmunga do outro lado do boxe.
- Vem cá. – os passos se distanciam dos meus ouvidos e a porta do banheiro bate.
Eles saíram. Vejo xampus e condicionadores sob uma porta produtos na parede do boxe e tenho vontade de pegá-los e atirá-los longe de raiva. Ele mentiu para Let, mente para Rebeca e brinca comigo a todos os momentos. Vicente é muito canalha.
Saio da área de banho, ajeito meu cabelo no espelho e dou alguns minutos até sair do banheiro. A festa continua a todo vapor e as pessoas estão muito mais bêbedas do que quando cheguei aqui. Alguns se reúnem num tipo de brincadeira com doses de bebida e observa-os incrédula pensando em que lugar aquilo vai parar. Mas parece normal a eles. Do outro lado no fundo da sala vejo o grupo que estava com Vicente, eles estão fumando e uma nuvem branca paira sobre eles. Não sei distinguir se é apenas cigarro ou droga.
Esbarro em uma ou duas pessoas até ver Marcelo, Maria e Let acompanhados de Vicente e se não me engano Luís, o menino que me recebeu no primeiro dia na faculdade de arquitetura. Eles conversam entusiasmados quando me junto a eles.
- Voltei. – digo mais para Marcelo do que os outros em questão.
Vicente ignora minha chegada e Let comemora com palminhas. Só espero que ela não esteja drogada. Dou uma olhada rápida para Vicente como que perguntando se ela está bem e ele parece me confirmar numa jogada rápida.
- Ai. Geral está fazendo brincadeiras nessa instância da festa. Poderíamos criar uma também! – Luís sugere ao grupo.
- Oba! Acho uma ótima ideia. – concorda Maria com um copo de bebida nas mãos.
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Ilhas de Ilusões
RomanceMay é natural de Areal, uma pequena cidadela no interior do Rio da Janeiro. Aos dezoito anos, ela consegue aprovação em uma das melhores instituições de arquitetura da capital. Na universidade federal, a garota desbrava um universo contraditório e u...