10- Incompreensível.

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Prim...Prim...Prim...

Eu não tinha aula de manhã muito menos voltaria a Heim. Não era o alarme. Era alguém. E eu quis matá-lo. Acordar cedo para mim era normal, mas não estava programado. Odeio lidar com imprevistos.

-Alô? Quem deseja?- digo ainda rouca ao acordar.

- Senhorita Mayara. É a secretária do senhor Antônio. Ele exige sua presença aqui às nove e meia em ponto.

- Desculpe. Senhora...?

-Patrícia, sem senhora.

- Perdão Patrícia. Eu não estou mais interessada na vaga. Vocês podem procurar por outro alguém.

- Ele já sabe de tudo Mayara. Você não imaginou que temos acesso às câmeras de segurança? É melhor se apressar.

A ligação foi finalizada. Ele viu. O diretor da Heim me viu com o filho dele. Não posso voltar lá. Não posso, mas eu tenho que me justificar. Ele tem que saber a minha versão dos fatos.

Pego uma blusa branca lisa e um sutiã cor de pele junto com uma calça jeans justinha e corro para o banheiro. Em dois minutos tomo banho, me arrumo e me despeço de Letícia com um beijo.

No trajeto até o prédio da empresa, receio encontrar um senhor Antônio diferente do de ontem. Filmes de vilões surgem em minha mente. Aquele em que o cara poderoso se aproveita da influencia que tem para maltratar outras pessoas e passar a mão na cabeça do filhinho rico e mimado. É um bocado infantil, mas sinto medo do poder. De pessoas com poder então nem se fala.

Entro no elevador e dou de cara com o mesmo cenário de ontem. Um corredor de piso branco com uma bancada ocupada pela mesma loira platinada. A diferença é que a moça me parece bem mais simpática hoje.

-Bom dia senhorita. Precisamos conversar sobre seus horários, turno de almoço, vale transporte e pagamento.

-Oi?- faço uma cara de desentendi para ela. Até ontem eu não receberia nada além do transporte e sinceramente, a última coisa que pensei era que ficaria na empresa.

- É isso mesmo. O senhor Antônio te dará uma bolsa de estágio. Contudo que você esqueça o ocorrido e trabalhe normalmente com seu filho.

- Mas...

Não sei o que dizer. Ele quer fazer o filho manter o acordo? Só pode ser isso. Obviamente meu orgulho quer falar por mim, mas eu não sou tão idiota. Minha mãe passa por dificuldades para me ajudar, mesmo sem poder. Minhas irmãs precisam de auxilio e não tenho dinheiro suficiente para me manter. Preciso de roupas, de produtos pessoais. Preciso ajudar minha mãe. No entanto, receio.

- Não posso ficar num setor diferente do dele?

- As regras são a seguinte: você trabalha com Vicente e o senhor Antônio não ouve mais nada sobre esse assunto. Nada mesmo. Entendido ou vai desistir?

- Tudo bem.

Ignoro todas as armadilhas que minha mente tenta prever e aceito. Patrícia me passa os contratos, minhas funções e os valores do meu intitulado "salário". Um tanto surpreendente, faço uma nota mental. Insisto em falar com o diretor em agradecimento, mas Patrícia diz que ele está muito ocupado no momento. Então, me encarrego da minha primeira função: distribuir os projetos pelos diversos setores da empresa. Sozinha, graças a Deus. Não vejo resquícios dele por aqui hoje. Por mim, não veria nunca mais, mas uma hora será inevitável.

Percorro quase todos os andares da Heim e acabo por conhecer cada setor e a função que desempenha na empresa. Apaixono-me por todos, mas as maquetes de arquitetura me chamam a atenção. Quero muito trabalhar projetando-as e construindo-as no futuro.

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