A secretária do doutor Antônio não quer me demitir. Era só o que faltava ele querer me obrigar a trabalhar em sua empresa. Recuso. Estou estressada em um nível que nunca estive. Seria capaz de arrancar os cabelos daquela secretária platinada se ela tivesse culpa. O problema é que ela não tem. É tudo culpa dele. Vicente.
Marcelo me ligou no meio da tarde e não foi nada mal ter uma desculpa para deixar as aulas. Ele perguntou se poderíamos ir à livraria de outro dia e prefiro dizer que mais tarde dou a resposta. Sei que não vou. Quero ir embora. Voltar para casa e me alinhar no colo quente de mamãe. Talvez seja a hora de ela me aconselhar sobre o que fazer.
Jogo minha mala na cama de Letícia e ponho tudo que consigo dentro dela.
- O que deu em você?- ela surge na porta.
- Estou voltando para Areal.
- O- oque?
Ela entra na minha frente me impedindo de guardar as sapatilhas.
- Cansei Letícia! Cansei dessa cidade, dessas pessoas. Quero ver a minha mãe. – as sapatilhas tremem em minhas mãos e Letícia ampara a tremedeira.
- Ei. Calma May. Você está nervosa? – ela tenta afirmar, mas sai como um questionamento– Senta aqui.
Ela põe a cadeira perto das minhas pernas e me deixo cair.
- Eu nunca gostei de instabilidade e me sinto cansada. Cansada de tantos pontos sem nó.
- Você está falando...
- É! Infelizmente é dele.
- Olhe. – ela se ajoelha e encara meus olhos- Você acha que vale a pena tudo isso May? Ir embora. Como assim? Sei que sente alguma coisa e não sabe explicar. Talvez não queira aceitar. Mas não vale a pena. Vamos desfazer essas malas.
Ela diz antes que eu possa tentar desmentir suas palavras em vão. Mais uma crise existencial passa e me inquieto tanto que passo a frequentar a faculdade, o alojamento e a Heim como um robô programado. Uma vez que Patrícia me fez uma pequena chantagem em relação a sua chance de ser demitida caso o idiota do Vicente ficasse contra ela. Achei essa desculpa perfeita para o meu orgulho ferido.
- Quais são os projetos que entrego hoje? – me dirijo à secretária da Heim assim que chego à empresa.
- Mudanças de planos. Me acompanhe. – ela diz subindo no seu salto quinze e adentrando pelo corredor de salas. Ela abre uma porta branca igual a todas as outras e faz sinal que eu entre.
- Patrícia essa sala precisa de um bebedouro e uma cafeteira!
VOCÊ ESTÁ LENDO
Ilhas de Ilusões
RomanceMay é natural de Areal, uma pequena cidadela no interior do Rio da Janeiro. Aos dezoito anos, ela consegue aprovação em uma das melhores instituições de arquitetura da capital. Na universidade federal, a garota desbrava um universo contraditório e u...