15- Prazeres perigosos.

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Com muito custo coloco Maria e Letícia dentro do carro de Marcelo. Elas bateram o pé insistindo em ficar na festa, mas não podia deixar as duas naquele estado. Deixamos Maria em casa minutos depois e seguimos em direção à ilha sem trocar uma palavra.

Tenho certeza que Marcelo arquiteta em sua cabeça o que pode ter acontecido no quarto com Vicente. Mas não serei eu a dar explicações e pelo jeito nem ele a questioná-las. Melhor assim.

Quando chegamos próximo ao alojamento, desperto Let da soneca no banco detrás e enquanto ela estava saindo do carro Marcelo pergunta:

- Ta tudo tranquilo com você? Ficou quieta o trajeto todo.

- Eu estou bem. Mas acho que a bebida me deixou com um pouco de dor de cabeça. – minto.

- Ok então. Qualquer coisa é só chamar.

- Até mais. Obrigada. – me aproximo dele para me despedir com um beijo na bochecha, mas ele vira o rosto e esbarra os lábios nos meus.

Afasto-me assustada. Não era isso que eu esperava. Não era nada disso que está acontecendo. Ele me encara desconfiado e mais uma vez não sei lidar com a situação. Deposito um beijo rápido em suas bochechas e saio do carro correndo.

Let cai na cama do jeito que chegou e tenho vontade fazer o mesmo. Mas estou sem sono. Busco o pijama, escovo os dentes e finalmente encaro o que venho tentando evitar desde a festa. Meus próprios pensamentos e lembranças.

Encosto a cabeça no travesseiro e sem perceber deslizo os dedos por entre os lábios revivendo os beijos dele. A língua quente deslizando sobre a minha e as mãos tocando meu corpo. O coração bate forte contra o peito e tenho medo de alguém conseguir ouvir os meus sentimentos. Onde estou com a cabeça? Logo eu que sempre fui tão racional. Que a vida me obrigara a ser. Estou desse jeito. Nesse ambiente. Com pessoas que não tem nada a ver comigo. Ficando e não ficando nem com o certinho ou com o vilão.

Aliás, eu vim aqui para estudar. Somente isso. Será que é tão difícil assim. Não pode ser. Eu não vou permitir ser. Sou dona do meu futuro e hoje tudo chegou ao limite do fim.

***

Primeiro final de semana na faculdade e festas não faltava segundo minha amiga de quarto. Recusei todas. Em vez disso, adiantei alguns projetos futuros do meu curso e financiei um celular e um notebook em várias vezes para poder baixar os aplicativos de arquitetura como Vicente havia falado. Por onde eu ando consigo ver ser rosto debochado estampado. Ele é um insuportável até de longe. Parece que me observa a todo o momento e me obriga a andar bem arrumada e bonita. Só por o acaso de nos esbarrarmos. No entanto, mesmo estando teoricamente preparada para isso. Não quero que aconteça. Vê-lo é o meu maior temor.

E parece que o destino tem contribuído para isso. Uma semana se passou e finalmente minha vida entrou nos trilhos. Saí algumas vezes com Marcelo para conhecer melhor a cidade do Rio e viramos verdadeiros amigos antes de qualquer coisa. Ele combina comigo em diversos sentidos e confesso que sentia falta de amigos que tivessem mais a minha cara para conversar.

Hoje é a quarta vez que nos vemos essa semana. Ele insistiu para que fossemos a um café em Ipanema depois do meu turno na Heim. Mesmo sem graça por não poder gastar dinheiro em cafés acabei aceitando. E estamos nós aqui.

- Esse lugar é incrível. – comento dando uma conferida geral ao me sentar-se à mesa em frente a Marcelo.

O espaço é decorado a moda francesa, com poltronas e pufes em que algumas pessoas se aconchegam lendo e outras parecem relaxar após o serviço.

- Sabia que iria gostar. Depois que me falou que é fã de leitura então. Não tem aquele corredor ali? – ele aponta para uma entrada a nossa esquerda e eu faço que sim com a cabeça.

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