7- Bem vinda a Heim!

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Ipanema. Esse é meu destino hoje. Eu nunca fui àquela região do Rio. Me contaram que era diferente, até mesmo outro Mundo. Pelo o que eu via na tevê parecia ser verdade. Mas depois que eu atravessei o escuro de um túnel de concreto e saí do outro lado da cidade conhecida como zona sul, confirmei o que ouvira. Os prédios são bonitos por aqui, as ruas melhores planejadas e até as pessoas são diferentes.
Uma cidade e tamanhos contrastes. A pobreza e a riqueza. As oportunidades e a criminalidade. E eu. Perdida a procura da famosa empresa Heim.
Por puro instinto, não senti a necessidade de me agarrar firme a mochila protegendo de assalto. O ar era mais seguro.Parei na banca de jornal na entrada de uma das charmosas ruas do bairro e o jornaleiro me informou onde ficava a empresa.
Vários andares passados em direção a cobertura, as portas do elevador se abrem e o logan da Heim aparece em minha frente. Não evito um sorriso bobo. Tudo parece tão incrível nessa instituição.
Saio a percorrer um corredor bem iluminado de mármore branco como piso, quando sou abordada por um tom de voz arrogante tirando minha cabeça do deslumbramento.
- O setor de serviço terciário não é por aqui menina- disse a moça platinada detrás da bancada confortavelmente grande.
-Serviço terciário?
-Sim, responsável pela manutenção do prédio.
-Ah- um bocejo sem graça saiu da minha boca- Eu vim para a vaga de estagiária.
-Oh, me desculpe. Eu pensei que... Esquece. Currículo para o doutor Heim avaliar?- entreguei-lhe duas páginas impressas.
-Vou chamá-lo para autorizar sua entrada.
Meu sorriso fechou. Por que isso acontece? Por ser morena eu mereço menos? Eu sou menos? Prefiro apagar o comentário.
-Terceira porta a direita- ela indicou com as mãos de volta a sua mesa- Ele está te esperando.

Seguro a maçaneta fria nas mãos e abro a porta devagar. Um senhor conservado está sentado numa enorme cadeira acolchoada com os antebraços apoiados na mesa cheia de papéis.
- Bom dia senhorita. Pensei que não apareceria ninguém tão cedo. Surpreendente! - ele levantou estendendo a mão para mim sobre a mesa- Antônio Heim, prazer.
Cumprimentei-o soltando a respiração aliviada pela simpatia do chefe.
-Bom dia senhor Heim. Mayara Freitas, o prazer é meu. Estou encantada com a empresa e de fato interessada nessa oportunidade.
Ele sentou em seu "trono" e indicou uma cadeira para que eu fizesse o mesmo.
- Acabei de avaliar seu currículo e é realmente interessante. Uma das melhores alunas de sua cidade e campeã de três olimpíadas de matemática e duas de história. Incrível!
- Não é nada.
-Ah, é sim. Você estudou em instituições públicas e- ele olhou algo no computador- É aluna moradora da Federal. Meu filho frequentou os melhores colégios dessa cidade, participou de intercâmbios pelo Mundo e mesmo assim demorou dois anos para conseguir uma vaga na faculdade.
- Seu filho?
- É, o Vicente. Na verdade, era ele que deveria ocupar a vaga, mas não quer nada com nada- o senhor coçou a cabeça preocupado.
Qual é a probabilidade de Vicente ser esse Vicente? Meu coração passou a acelerar no peito.
Bum! A brusca batida de porta me fez pular da cadeira assustada.
- Eu disse que ninguém se interessaria nessa vaga idiota. Quem quer trabalhar sem receber hoje em dia?- a voz se aproximava das minhas costas, mas eu temia encará-la.
Quero estar enganada! Quero estar enganada! Mas minha audição não falha...
- A Mayara, Vicente. Ela se interessaria.
Sim, é ele.
- Prazer Vicente!- levantei encarando os verdes olhos rebeldes fazendo que não os conhecia de outros carnavais.
- Prazer Mayara!- ele entrou na minha ideia ainda chocado com minha presença ali.
- Ótimo- Senhor Antônio interrompeu nossos olhares curiosos de um para o outro- Acho que estamos acertados Mayara. Foi bom a senhorita já ter conhecido o meu herdeiro inconsequente em grande estilo. Vocês terão que conviver bastante.
- Conviver bastante pai?- ele perguntou por mim.
- Não finja que esqueceu nosso acordo.O combinado era que se eu arrumasse um estagiário naqueles termos, você dividiria a função com essa pessoa. Assim não pesa para nenhum dos dois- ele continuou a falar organizando alguns papéis sobre a mesa- Era isso que você argumentava Vicente, que não teria tempo suficiente. Pois isso não será mais problema! Mayara pode te ajudar em suas matérias atrasadas da faculdade também.
- Você está de sacanagem ne? Essa garota tem o que, dezoito anos?
- Olha como você fala Vicente! Você sabe o que pode te acontecer senão obedecer minhas ordens. Agora eu preciso trabalhar. Mayara- ele se dirigiu a mim com o olhar mais sensível- Vicente levará você para conhecer a empresa. Espero que goste. Depois os dois devem pegar seus horários na recepção e começar amanhã. Tenham um bom dia- ele disse se levantando e abrindo a porta para que saíssemos.
Retirei-me da sala aliviada por fugir daquele clima pesado. Um deslocamento de ar atrás de mim indicou que Vicente fez o mesmo.
- Você me viu colocando o papel da vaga no mural, não foi?- ele disse caminhando em direção contrária a recepção. Segui-o.
- Óbvio que não. Se eu soubesse disso não teria nem vindo aqui.
- Só você mesmo para aceitar essa vaga idiota. E ainda por cima me colocou no negócio.
- Pelo que eu entendi você havia fechado um acordo com seu pai- argumentei.
- Claro. Não imaginava que ninguém aceitaria trabalhar de graça, mas existe idiota pra tudo nesse Mundo.
- Olhe aqui- apontei meu dedo no meio da cara dele- Eu quero fazer isso independentemente do babaca rico que vai me acompanhar. Esse estágio é mega importante para um currículo como o meu. Então eu te ignoro, você me ignora e está tudo certo- saí batendo pé em direção a recepção.
De fato seria impossível realizar uma visita com aquele brutamonte. Mas pior vai ser trabalhar com ele.
- Vem cá garota- senti sua mão no meu braço.
- Hei- protestei enquanto era arrastada pelo corredor abaixo.
- Shh- ele abriu uma das portas do corredor e me jogou lá dentro contra uma das paredes.
Meu corpo bateu na construção fria, mas se não fosse meus sensores ativos involuntariamente eu não teria sentido. Minha pele pelava, a respiração como se tivesse corrido por cem metros quando senti seu corpo encostar no meu depois de fechar a porta. A claridade vinda do corredor apagou-se e a sala escureceu totalmente. Não enxergava nada, apenas senti sua respiração no meu pescoço enquanto seus dedos apertavam minha cintura com força.
- Ignorar você Mayara? Como roceira?- ele segurou minhas bochechas e pude ver vagamente sua boca entreaberta com respiração vacilante.
- Você já ouviu falar em respeito? Isso é o suficiente.- tentei manter a calma na posição que me encontrava.
- Você tinha que aparecer aqui sua louca?
- Dá para parar de me chamar desses nomes. Não é porque você é herdeiro dessa empresa que vai me tratar assim.- empurrei seus braços para longe de mim e coloquei espaço entre nós.
Ouvi sua risada engasgada no canto da sala e fui a procura da porta.
- Respeito não é questão.- ele bloqueou a passagem e me jogou na parede de novo.
-Para com isso!- alterei minha voz.
- Para de ser assim!- ele disse de forma pesada na minha bochecha. Sua mão desceu na minha coxa e os dedos afundaram na minha carne. Instantaneamente fiquei arrepiada de um sentimento que eu nunca havia sentido antes. A vontade de saciar desejos carnais quase me consumiu.
- Tira a mão daí.- falei no seu ouvido com a barba rente na minha pele.
A mão livre virou meu queixo para ele e o dedo deslizou pelo meu lábio inferior fazendo meu corpo estremecer.
- Não sabia que na roça se produzia tantas belezas.
Tentei girar meu rosto, mas era inevitável encontrar os seus lábios. Eles se moveram sob os meus, que durante alguns segundos não corresponderam pelo susto. Ele ameaçou parar de me beijar e na mesma hora eu passei a beijá-lo intensamente. Naquele momento, eu não queria perder seu toque forte na minha coxa e os dedos grandes deslizando por entre meu cabelo. Senti uma pontada de algo diferente sobre minha barriga e mesmo que não houvesse experimentado essa situação antes, eu sabia o que era. Sabia o que simboliza o corpo dele reagir assim.

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