40- Carta de perdição.

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Senhor. Ele não é o pai. Isso é verdade?Existe essa possibilidade? De fato não importa. Depois de tudo que me disse. Da humilhação naquele café. Do tanto que choraminguei como uma idiota.

Como se fosse possível, eu piorei tudo. Menti. Disse que estava com Marcelo. Porque não quero mais sentir isso. Não quero mais passar a noite em branco pensando nas palavras que me disse.

"Já deu para ele também?"

Eu não fiquei com ele. Caramba! Marcelo está envolvido com Letícia e aquele cretino do Vicente cogita essa ideia idiota. Não é possível doer assim. Machucar assim. Se quer conseguiria imaginar o quanto gosto e o odeio ao extremo.

O expulso para longe de mim ainda que a parte boba implore para que volte e admita que só quero provocá-lo. Já que tantas foram às vezes que mexeu comigo.

- Tá tudo bem? – Let me questiona pela vigésima vez na última semana. Estou perfeita. De verdade.

Encaro minha imagem no espelho. O cabelo cresceu ainda mais. Minhas olheiras não estão protuberantes e poderia dizer que tudo está em seu devido lugar.

São quase dez horas da noite e a última aula da faculdade acabou. Confesso que me sinto ligeiramente amedrontada sobre atravessar a faculdade sozinha essa hora.

Enrolo, caminhando devagar pelos corredores numa tentativa de me encaixar em algum grupo que vá à mesma direção que eu. As luzes começam a ser apagadas quando vejo de canto de olho um homem debruçado sobre uma das carteiras de uma das salas de aula.

Dou dois passos para trás e vejo da porta que é Vicente dormindo em uma das mesas. Não pode ser.

Aproximo-me dele para conferir. Ele dorme pesado. Mas que diabos um cara como ele está dormindo aqui? Meu lado diabinho sussurra para eu ir embora e deixá-lo sucumbir ali. Mas o lado anjinho me incentiva a fazer a pior escolha.

- Vicente. – chamo impaciente. Faz sete dias que não o vejo, mas me lembro do quanto na quero retroceder.

Ele insiste em não acordar.

- Vicente. – cutuco suas costas quase desistindo da ideia de alertá-lo.

- May. –ele ergue o olhar para mim. Que saco! Os olhos continuam azuis desconcertantes.

- Vai para casa. A faculdade vai fechar. – digo dando meia volta. Ele não merece nenhum tipo de ajuda.

- Tô sem casa. – ele fala. Paraliso meus passos assimilando o que disse. Vicente sem casa?

- A Rebeca me fudeu. Ela comunicou meu pai sobre algumas paradas que eu estava envolvido ai...

- Drogas. – procuro seus olhos.

- Como sabe? – ele desperta.

- Letícia. Como isso te afetou?

- Nome excluído do testamento. Sem apartamento. Ou seja, um Heim fudido.

Fico chocada. Ele quer dizer que está na rua? Que não tem mais acesso a herança?

- Se você está sem apartamento. Onde tem ficado?

- Tava pagando um hotel, mas meu cartão foi bloqueado.

Senhor. Sei que não deveria, mas esse par de olhos me deixou piedosa. Para um cara acostumado a ter tudo na hora que quer, não consigo imaginar uma situação assim.

- Para onde vai hoje? – pergunto menos firme do que no início.

- Não vou. Vou dormir aqui. – ele fala cheio de orgulho como de costume.

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