18- Minhas merdas.

126 11 0
                                    


Vicente narrando:

Estaciono a porcaria do carro na garagem do prédio e arranco Rebeca de dentro dele. Ela sai me xigando de coisas que não me afetam nem um pouco e faz menção de pegar o elevador até meu apartamento.

- Você não vai subir. – digo bloqueando sua passagem.

- Vicente, para de ser estúpido você será o pai...

- Eu não serei nada! Até que se comprove eu não sou.

Se fosse qualquer outra garota na minha frente agora ela estaria a ponto de chorar, mas só vejo os olhos azuis de Rebeca apertados de raiva. Estou a ponto de sucumbir com essa garota. Não a suporto e posso quase afirmar que ela pensa o mesmo em relação a mim. Mas ela não desiste. Não para de me atentar e querer extorquir meu dinheiro em benefício próprio.

Sei que fui um idiota nível máximo ao ter transado com ela sem camisinha. Mas eu estava chapado demais e não se pode negar que ela é bonita. Agora veja a puta merda em que me meti. O filho talvez nem seja o maior problema. De verdade, a porcaria que ela descobriu naquela festa pode acabar com a minha vida. Não é que eu tenha medo nem nada disso. A questão é que não estou acostumado a ser chantageado e não sei até quando suportarei isso sem tocar em nenhum fio de cabelo dela. Aliás, eu ainda tenho um pouco de juízo.

- Mês que vem a gente tira essa história a limpo. – falo enquanto chamo o elevador.

- Como assim?

- Já ouviu falar em DNA? Com dois meses já podemos fazer.

- Eu não acredito que terei que me subordinar a isso.

- Pois então acredite. – entro no elevador e aperto o botão para subir.

Finalmente não tenho mais a visão daquela mulher na minha frente e sou capaz de organizar meus pensamentos. Como a menininha do interior foi parar logo com Marcelo? Não da para entender qual é a dela. Ficou de boa comigo naquela porcaria de alojamento e foi só a amiguinha chegar para começar de falso moralismo. Não acredito nessa santidade toda que ela carrega não. Já ouvi muitos amigos contarem histórias de falsas virgens que ficavam pagando de inocentes só para chamar a atenção dos caras. Alguns realmente têm um ponto fraco para esse estilo de mulher, mas eu particularmente nunca me interessei por elas. Preferia as mais experientes a ter que carregar a responsabilidade de ser a primeira transa de uma mulher.

Só que essa menina é diferente. Ela me atrai fisicamente. Faz-me sentir dor no saco e não gosto disso. Não posso ir à empresa sem esbarrar com ela. Na faculdade eu esbarro com ela. Fica difícil evitá-la e controlar essa coisa toda aqui embaixo. Então eu criei uma boa tática de ignorá-la e acabei tirando um pouco de vantagem da situação a provocando com Rebeca.

E então encontro a imbecil da minha chantagista na mesa com ela e Marcelo. Quase pulei no pescoço de Marcelo por estar muito perto de uma área de perigo chamada boca e tratei de arrancar a Rebeca dali antes que ela soltasse alguma coisa que não devesse. No carro, voltando para cá, tive vontade de perguntar a Rebeca se ela havia comentado sobre a gravidez com Mayara. Só de pensar nessa possibilidade fiquei puto. Muito puto. Não quero que ela saiba. É. Quer dizer. Não quero que o boato se espalhe. Melhor assim.

Entro no apartamento com a veia soltando no pescoço com a irritação dessa situação. Sei que já estou pronto para uma mulher a essa altura e ligo o chuveiro no gelado para tentar aliviar. Não é melodrama. É a aquela porcaria de cabelo cumprido preto.

Confesso que exagerei um bocado em ter jogado as camisinhas em cima dos dois. Posso tê-los influenciados a alguma coisa. E... E... Não sei nem se consigo pensar nessa possibilidade. Ela perderia parte de sua inocência! Droga! Isso é escroto.

Enrolo a toalha no quadril e saio do banheiro em busca de um par de roupas. Meu celular vibra em cima da cama e dou uma olhada em quem é. São apenas mais grupos entre os milhares que tenho no whatsapp. Mas um me chama atenção. É do aniversário da Maria. Percorro os contatos integrantes do grupo e lá está o dela. Agora eu te tenho aqui! Penso. Antes que eu possa resistir olho sua foto de perfil com os cabelos longos jogados para frente e tenho vontade de segurá-los, puxá-los. Então resolvo mandar uma mensagem.

Espero que tenha voltado para o alojamento.

Arrependo-me logo em seguida. Ela vai achar que me preocupa. E preocupa? Óbvio que não.

Visto uma blusa e calça qualquer e caio na cama. Amanhã preciso acordar cedo para trabalhar e não vai ser na Heim. Vai ser nos meus próprios negócios.

Mal vou dormir e já tenho que levantar. Troco de roupa rapidamente, dou um gole de vodka logo pela manhã e já estou pronto para sair. Noto que Mayara visualizou minha mensagem e não respondeu. Deixa ela.

Toda vez é esta rotina. A mesma porcaria que eu odeio e tenho que suportar. De início, era benefício próprio. Mas agora é apenas mais uma das minhas merdas para resolver. A pior. Já que essa pode retirar todo o testamento do meu nome.

Estaciono próximo ao galpão de sempre e começamos o previsível trabalho. No final, uma dose de ameaça completa o pacote e eu desprezo essa parte já que não pretendo dar razões para meter meu pai nessa história. Por fim, sigo para faculdade e por lá concluo minhas últimas obrigações no que diz respeito ao "ofício". Não sei como lido com meu autocontrole. Por isso eu preciso extravasar de vez em quando. O problema é quando escolho fazer isso com as pessoas.

Vou até a cantina em busca de algo para comer e enquanto espero um hambúrguer vejo Mayara e Marcelo sentados numa mesa no meio do salão. Será que os dois realmente passaram a noite juntos? Percorro rapidamente o corpo de Mayara em busca de evidências e não encontro. Nem iria encontrar. Mas dizem que muda.

No momento em que a observava ela me pega em flagrante e logo em seguida Marcelo. Os dois me olham meio que furiosos e deduzo que seja por causa da camisinha. Dou um aceno com a cabeça para os dois e encarno meu sorrisinho cínico de lado. Marcelo mantém a cara fechada e levanta da cadeira vindo em minha direção seguido por Mayara.

- É bom que já esteja por aqui. – ele diz me deixando no vácuo em um cumprimento- Na próxima vez que fizer um vexame daqueles teremos sérios problemas.

Mayara permanece atrás dele um pouco perturbada e rolo os olhos por ela até encarar Marcelo de novo. Minha veia dá uma latejada no pescoço e me controlo pelo cara ser meu amigo. Ou ter sido.

- Marcelo, não sei se você percebeu. Mas aqui é o polo de arquitetura. – falo de forma mansa.

- Eu já estou de saco cheio dos seus sacarmos! Você foi procurar Mayara para falar mal de mim! Como se atreve seu covarde!

Ela comentou com ele sobre a noite em que a esperei sair da aula. Mayara apoia as mãos nos ombros de Marcelo para afastá-lo de mim e faço questão de me aproximar ainda mais.

- O que? – minha paciência se dissipa totalmente- Covarde é você seu viado! Só falei umas verdades para ela!

- Não sou eu que trato minha namorada feito lixo! Você não vale nada Vicente!

Ele está insinuando como eu devo tratar a Rebeca? Ele não sabe de porra nenhuma.

- Antes não valendo nada do que um viado igual a você! Tenho certeza que a garota do teu lado confirma. – digo me referindo a Mayara.

Nesse momento um bando de enxeridos já nos rodeia. Mas eu ignoro.

- O que está insinuando?- ele indaga.

- Não estou insinuando. Estou dizendo que ela tem muito mais tesão em mim do que em você. Porque eu sou mais...

Ele avança sobre mim e me dá um saco no rosto. Antes que eu possa sentir a queimação ardendo, o derrubo no chão com golpes rápidos contra atacando com chutes e murros.

- Meu Deus! Parem! Parem! – ouço Mayara gritar atrás de mim.

Ela se enfia no meio de nós dois e quando eu estava a ponto de acertar outro soco sinto sua mão no meu peito. E paro.
Alguém me puxa para trás com força me afastando de Marcelo e enxergo de conto de olho Mayara com os olhos marejados cheios de lágrimas prontas para cair. Assim que me vê ela começa a chorar atordoada.

Ligo um foda-se para aquelas lágrimas e saio dali antes que receba a merda de uma suspensão para cumprir.

Ilhas de IlusõesOnde histórias criam vida. Descubra agora