Fico um pouquinho nervosa quando entrelaçamos nossas mãos no meio do estacionamento e Vicente me guia para dentro do prédio de arquitetura. Minhas colegas de curso e amigos deles jamais poderiam imaginar a roceira com Vicente Heim.Aproximamos-nos da porta do salão principal e já posso sentir alguns olhares pesando sobre os meus ombros. Com certeza eu não sou a protagonista. Faz pouco mais de três meses que frequento esse lugar enquanto Vicente vem causando reboliço há alguns anos aqui.
Ele cumprimenta conhecidos de longe e os amigos se aproximam de nós nos desejando parabéns. Fico atordoada com todo aquele movimento logo após resquícios de ressaca. Além disso, nunca passei por isso na vida. É estranho. Logo eu, que me considerava uma meninona antes de chegar ao Rio. Agora estou ao lado dele. Um homem. Musculoso, formado e experiente. Que me deixa com uma sensação tão boa de proteção, mas me assustada com sua veracidade.
- Ta tão quieta. – ele diz enquanto fazemos hora na cantina da faculdade.
- Não parece real isso tudo. Você aqui.
Ele me dá um selinho demorado e morro de vergonha por fazer aquilo em público.
- Você tem mania de não acreditar nas coisas. – fala. Noto três cabeças tentando disfarçar a observação para nós. Passo os olhos pelo corredor de entrada quando ela surge. Rebeca.
Antes que possa me manifestar, Vicente me beija mais uma vez e diz que vai buscar um suco sem notar a presença da megera. A barriga está mais protuberante do que nunca mesmo que ela tente disfarçar com blusas larguinhas.
De longe, consigo perceber que Vicente acabou de vê-la e encaminha passos firmes em sua direção. Lógico que ele ainda está muito puto pelo que ela fez questão de dizer aos seus pais.
Pulo da cadeira e em menos de um segundo agarro o braço dele.
- Não! Ela está grávida e é uma mulher. – faço questão de relembrar.
Ele solta a respiração encurralada e parece me ouvir.
- Vamos! – ele diz saindo dali.
Minutos depois, em meio à fala do meu professor de história da arquitetura consigo visualizar a postura audaciosa da Rebeca. Ela sabe que ferrou com a vida do Vicente. Que matou a minha felicidade no dia que disse que estava grávida.
Alguém me cutuca enquanto guardo meus projetos em um dos armários do corredor e uma menina com um rosto angelical e olhos cor de mel me entrega um bilhete e se vai. A presença dela era tão fofa e simpática que não esperava palavras assim:
O que é seu está guardado- R
Rebeca. É ela com certeza. Meu peito se aperta e fico ofegante com a sensação ruim que aquela letra me traz. Se fosse para encará-la de igual para igual... Só que jeito de articular e apimentar com doses de veneno me assusta. Ela lembra uma cobra que quando você menos espera ataca.
- May- Vicente se aproxima após sua aula de cálculo. Jogo tudo dentro do armário antes que ele veja e o tranco.
- Vou resolver algumas coisas do estágio que consegui – ele parece não perceber meu nervosismo. Sua mão se encaixa por entre meus cabelos e me beija. Esqueço por um momento o recado maldoso e me acalmo.
-Mais tarde a gente se fala. – ele diz e eu concordo.
Entro no alojamento, meu cérebro parece que vai fritar com tantas informações. Dou-me um minuto para respirar mais profundamente e noto minha cama vazia e de Letícia ocupada. Só por ela. Graças a Deus.
- Não vai me contar a novidade? – questiona com um tom debochado que reconheço.
- Qual? – me faço de desentendida porque já sei o que vou ouvir.
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Ilhas de Ilusões
RomanceMay é natural de Areal, uma pequena cidadela no interior do Rio da Janeiro. Aos dezoito anos, ela consegue aprovação em uma das melhores instituições de arquitetura da capital. Na universidade federal, a garota desbrava um universo contraditório e u...