52- Uma exceção.

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Vicente narrando:


-Você está brincando comigo Vicente? É segunda vez que vem com essa notícia- minha mãe diz.

É inevitável. Todas as vezes que fito aquele rosto lembro-me das irresponsabilidades como mãe e do preconceito enraizado. Agora, com vinte e três anos consigo evitar sua presença. Até que a porcaria dessa cirurgia serve como desculpa para ela fingir uma presença preocupada no meu apartamento.

- Dessa vez é verídico- afirmo. Mayara agarra com seus dedos finos a ponta da minha camisa e percebo que está retraída com a presença dessa mulher aqui.

-Imagina só- ela levanta em cima do salto. Estou sem paciência para drama materno fingido.

- Uma criaturinha dessa mistura! Vai ser um fedelho horrível. Além de tudo, essa garota não tem mínima condição...

- Cala a sua boca Marisa! - interrompo em um grito. Uma sensação de raiva me invade. A morena já está em lágrimas com aquelas palavras e não suporto ver aquilo.

- Não ouse abrir a boca para falar qualquer coisa do meu filho ou da mãe dele!

- Ah, que patético Vicente! - ela caminha até perto de mim. A mão coça, mas ainda lembro que é minha mãe.

- Acabou de levar um golpe do baú e ainda tem coragem de defender a bandida.

- Que isso! Eu nunca te fiz nada- Mayara mal consegue dizer em meio aos soluços.

- Não tenho interesse em nenhum centavo da sua família dona Marisa!

Seguro os braços da pessoa que simplesmente me pariu e ouço a voz de Mayara falando para eu largar. Controlo minha força e solto em seu rosto:

- Eu tenho vergonha e nojo de ser seu filho.

Agarro sua mão e encaminho até a saída. Seus olhos azuis me esmagam de ódio e não posso dizer que ofereço algo diferente a ela. Sua postura é retomada e ela atravessa a porta soltando algumas palavras que não compreendo.

Um zunido perturba meu cérebro. Ainda não assimilei com precisão o fato de ela estar grávida. A minha morena. A garota que quebrou todos os paradigmas que eu poderia construir sobre mulheres. Antes dela, o sexo feminino não tinha marcado presença positiva na minha vida, a não ser na cama. Claro.

Eram jogos de interesses que começaram desde a minha progenitora.

Nesse momento, enxergo a mulher de longos cabelos negros sentada no sofá com a cabeça agachada nas mãos. Ela parece chorar e corro até ela para oferecer proteção.

Mecho nos fios que me impedem de ver seu rosto e olhos tão vermelhos me observam entristecidos.

- Eu nunca quis ser pai- digo e seus olhos se enchem de lágrimas novamente.

Escorro com o polegar aquela correnteza e trato de me retratar.

- Tinha apenas uma exceção, se fosse com você.

O marrom de sua íris me encara tentando entender o que quis dizer.

- Eu confio em você. Será a melhor e única mãe de um herdeirinho ou herdeirinha meu- sorrio tentando fazê-la acalmar.

Na verdade, por dentro, estou nervoso para caralho. Agora é real. Vou ser pai. Um sentimento maluco me atinge e sinto meu olho pinicar. Emoção? Epa, isso não é coisa para alguém como eu. Só pode ser o peso da responsabilidade.

- Preciso construir algo meu. Não da para ouvir esse tipo de coisa- ela diz.

- Você ainda tem o mundo para conquistar e em boa companhia.

Acaricio sua barriga e novamente meu olho cisma em pinicar.

***************

Porra, estou ansioso. Muito ansioso. Mayara teve folga na Heim hoje. Ela está empolgada na missão de juntar seu próprio dinheiro no trabalho e além de tudo, ser a primeira da classe. Sinceramente não sei como essa mulher consegue. No meu primeiro ano na faculdade, eram festas atrás de festas. Deve ser por isso que eu já deveria ter me formado, mas não foi o caso.

Esse lugar, completamente branco, e papéis de maternidade colados por todo canto reforçam a seriedade da coisa. Seis dias após a descoberta. Seis dias trancafiado naquele apartamento e seis dias sem sexo. Tudo faz uma pressão para a primeira consulta da Mayara.

- Tudo bem? - pergunto tentando fazer o papel de quem não está preocupado. Consigo notar que ela também está um pouco tensa.

- Sim- ela diz e a secretária pede para que entremos.

Seguimos por um corredor que combina que a decoração geral do local.

Mayara troca de roupa, vestindo uma daquelas camisolas que parecem de hospital e enquanto muda, não posso deixar de reparar no quanto seu corpo é perfeito. Cada curva.

Um médico careca aparece na porta, e visto meu melhor traje de homem responsável. Se ele não cuidar muito bem da minha garota teremos problemas. É bom que já saiba disso.

- Olá, meus queridos! Vamos começar- ele desmancha toda a minha armadura com aquele sorriso.

Segundos depois, a barriga um pouquinho saliente de Mayara está amostra. Um ruído embaçado aparece naquela espécie de televisão e o médico indica o pontinho que deve ser nosso filho. Caramba, nosso filho. Até em pensamentos é... É emocionante.

Quando penso que não posso mais ser bombardeado por sentimentos daquele gênero, ouço um barulho desconcertante. O coração.

- Seis semanas- ele diz.

Olho para Mayara e ela está despencando em lágrimas. Faço um esforço enorme para me conter, mas não consigo. Umas gotas saem dos meus olhos. Dessa vez, por alegria.

- Eu deveria fotografar esse choro- a morena diz querendo me caçoar.

- Ah é- digo rindo. Ela roubou meu contra argumento. Jamais poderia prever sentir algo assim por uma coisinha que segundo o homem careca, é do tamanho de uma pequena semente.



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Capítulo de terça! Ta acabando e eu já estou chorosa rs

Muito obrigada novamente! Alcançamos 500 estrelas, agora só falta subir para 5k as vizualizações!!Graças a vcssss!!!

Bjss da Gabss

Ilhas de IlusõesOnde histórias criam vida. Descubra agora